A música clássica que saia de uma pequena caixa de som ecoava por todo o ambiente, ali duas pessoas se encontravam. O mais velho, era o professor, estava próximo a caixa de som enquanto observava o outro com muita atenção. Quanto ao mais novo, este se movimentava no ritmo da música, incorporava os passos de ballet que combinavam com os toques graves da música.
- um, dois, três, um, dois três... - sussurrava o mais novo enquanto girava - um... dois... Ai- o mesmo se desequilibrou e acabou caindo com os joelhos no chão.
Com as mãos apoiadas no chão Júlio sabia que seria repreendido pelo professor, ele sabia que mais uma vez seu instrutor seria impassível.
- VOCE ESTA DE SACANAGEM COM A MINHA CARA? - o grito grave ecoou pelo amplo estúdio.
Júlio estava com o rosto totalmente ruborisado e suava, porém seu corpo se arrepiou ao sentir que o professor estava se aproximando.
- Meu querido Júlio... você está com algum problema hoje? Você está... não sei, digamos... doente? - perguntou o homem enfurecido, que agora tinha uma de suas mãos na cintura enquanto a outra ajeitava os óculos de grau no rosto vermelho de raiva.
Júlio César Eron era um dos melhores bailarinos da academia de artes de São Paulo. Todo e qualquer estudante e professor conhecia os feitos do garoto. Júlio treinava incessantemente a anos, já havia participado de concursos, festivais, desfiles e torneios e por onde passava o primeiro lugar sempre era seu trunfo.
Nada conseguia parar o pequeno bailarino, quando o assunto era a danca, sempre procurava entregar seu máximo nas performances- Desculpa, eu me perdi na contagem e... não vai mais acontecer... - bradou o menor cheio de insegurança - foi apenas um pequeno erro - tentou sorrir mas sabia que não adiantaria com o professor.
- Pequeno? Você chama isso de pequeno? Júlio sua carreira é que está em jogo, não sei se você se lembra mas temos um campeonato em frente e tem muita gente apostando em você - o mais velho agora parecia retomar seu fôlego e calma - não me parece o garoto que gosta de ganhar, seus movimentos estão todos descompassados, esta cheio de fadiga, errando simples contagens, parece que você terá que treinar este fim de semana - balançou a cabeça negativamente enquanto suspirava.
Não seria a primeira vez do bailarino treinando um fim de semana todo. Seu estimado professor, Manuel Rios, um espanhol com cabelos castanhos claro e olhos azuis, era um dos melhores e havia sido contratado especialmente para Júlio.
Manuel e Júlio se encontravam na Academia pelo menos três vezes na semana, oque tornava a rotina de Júlio César um tanto exaustiva, o mesmo oscilava seus dias em escola, academia, outros afazeres e a tentativa de construir uma vida social.
- Vamos novamente, do começo... Vou ligar para seus pais e avisar que você treinará esse fim de semana - Manuel se virou de costas para o garoto e se afastou retirando o celular do bolso.
Júlio se levantou do chão e retomou a posiciao inicial, apenas aguardando que a musica se iniciasse novamente.
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A tarde passou com certa rapidez, o bailarino havia feito inúmeras vezes movimentos repetitivos, alguns exercícios e tudo mais que lhe fora proposto.
Quando sua aula acabou seus olhos de abriram em alegria, suas roupas estavam encharcadas de suor e o rubor dominava seu rosto. Não demorou muito para pegas suas bolsas simplesmente abarrotadas de apostilas, roupas e outros acessórios. O garoto saiu apressado do ambiente, deixando lá um professor um pouco descontente.
Já eram quase 18:00 quando Júlio chegou em casa, depois de uma caminhada nada favorável da academia ate sua casa. Empurrou a porta que revelava a uma casa de dois andares totalmente estilizada em uma arquitetura moderna e em escalas de cinza.