Dancing with your ghost

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Sara sempre foi durona, nunca gostou de demonstrar seus sentimentos — insensível, muitos diriam. Possuía a fama de pegadora, qualquer pessoa com quem se envolvesse, não passava de uma noite, era raridade quando alguém conseguia se manter por perto por mais tempo.

Foi em uma dessas noites de curtição em que ela conheceu Ava Sharpe, uma mulher inteligente, doce e incrivelmente linda — a mais linda que já conheceu, Sara arriscaria dizer. O jeito da mulher a encantou de primeira, a forma como sorria, o seu olhar, a forma como ela dançava... Tudo era encantável. Ela prometeu a si mesma que seria apenas uma noite, como as outras, mas aquilo passou longe de ser apenas uma noite de curtição como as outras. Quando se deu conta, Sara estava perdidamente apaixonada por aquela mulher do bar e vice-versa.

As coisas estavam evoluindo tão rápido que quando perceberam estavam namorando e anos depois já estavam oficialmente casadas. E com o tempo, a ideia de formar uma família foi passando a ser considerada, talvez em dois, três anos, quem sabe, finalmente se consolidaria.

Tudo estava perfeito, Sara finalmente estava feliz ao lado de alguém e Ava havia encontrado sua outra metade, sua alma gêmea. Viviam intensamente, como aqueles casais perfeitinhos de filme clichê. O que a maioria das pessoas não te contam, é que nem todos os filmes de romances possuem finais felizes. Alguns terminam de uma forma tragicamente inesperável.

Era abril, quase meia-noite quando estavam voltando para casa. Sara observava a estrada enquanto conversa com Ava, às vezes desviava o olhar para a esposa, que a olhava rapidamente e voltava a prestar atenção no caminho.

"Já disse que está linda hoje?" Um sorriso brincou nos lábios de Ava.

"Algumas vezes, na verdade." Sara jogou o cabelo de lado e olhou para a mulher, sorrindo. "Mas pode continuar falando, o meu narcisismo agradece."

"Ridícula!" A mulher revirou os olhos, mas não deixou de sorrir.

"Tanta gente te querendo e foi com essa ridícula narcisista que você quis se casar, fazer o que, né?!"

"É como diz aquela música 'everybody is watching her, but she's looking at you'." A mulher cantarolou.

"Sabe, você é bem fofa quando quer."

"Falou a fria e calculista."

"Engraçadinha."

Ela se aproximou de Ava e deixou um beijo rápido nos lábios da mulher, que sorriu. E essa é a última coisa que Sara se lembra de fazer antes do horrível barulho do carro derrapando na pista e se chocando com outro carro.

Ava acordou algumas horas depois, no hospital, mas Sara ficou em coma por alguns dias. E por mais que Sharpe se sentisse fraca, que desmaiasse algumas vezes, a única coisa com a qual ela se preocupava era se Sara ficaria bem, se acordaria do coma. Os médicos diziam que sim, que era questão de dias, mas isso passava longe de convencer a mulher. Às vezes, Laurel precisava levar ela de volta ao quarto e tentar acalma-la.

Com os dias se passando, Sharpe passou a ficar mais fraca, os desmaios passaram a serem mais constantes e os médicos não a deixavam conferir Sara mais que uma vez ao dia, então Laurel passou a lhe dizer como a irmã estava e ficar com ela o dia todo, tentando distrair a mulher da preocupação — o que não às vezes não passava de tentativas falhas.

Ava morreu dias depois, sem conseguir se despedir devidamente da esposa, deixou uma carta que nem sequer conseguiu escrever, mas sim ditou para que Laurel escrevesse; ela apenas assinou no final.

Gritando para o céu

Gritando para o mundo

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