Admirador Secreto

Não te darei flores
Não te darei
Porque elas murchão
Elas morrem
Não te darei presentes
Não te darei
Pois envelhecem ,e se desbostão
Não te darei bombons
Não te darei
Eles acabam , eles derretem
Não te darei festas
Não te darei
Elas terminam
Elas choram
Elas se vão
Dar-te-ei finalmente os beijos meus
Deicharei que esses lábios sejam meus
Sejam teus
Esses embalam
Esses secam
Mas esses ficam
Não te darei bichinhos
Não te darei
Pois eles querem , eles comem
Não te darei papéis
Não te darei
Esses rasgam , esses borram
Não te darei discos
Não
Eles repetem , eles arranhão
Não te darei casacos
Não te darei
Nem essas coisas que te guardam
E que se vão
Dar-te-ei a mim mesmo agora
E serei mais que alguém que vai correndo pro fim
Esse morre
Envelhece
Acaba e chora
Ama e quer
Disispera
Esse vai
Mas esse volta

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Marcelo Jeneci

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Nada

Essa era a palavra que me definia nesse momento, ouso até dizer que sempre, no entanto agora se trata do que eu tenho que fazer. Após terminar meu turno na portaria do prédio em que trabalho como porteiro eu apenas iria para meu quarto , talvez estudar , talvez ver um filme, ler um livro ou simplesmente dormir. Até ai tudo bem , o problema é que eu não queria fazer nada daquilo, pelo menos não sozinho. Meus amigos da faculdade estavam curtindo com as namoradas a noite de sexta , seria ousadia minha pensar que trocariam isso para ficar comigo trancado em meu pequeno quarto, fazendo algo só para me sentir melhor. Eram bons amigos, até me chamaram para ir junto , mas segurar vela era ainda pior que ficar sozinho. Também não queria presenciar casais felizes , estando eu com uma vida amorosa mais pobre que minha conta bancária. Saudade do tempo em que eu achava homens que namoravam uns bestas , que o melhor mesmo era ficar sozinho e só tinha uns rolos.

Nunca fui um cara galinha também, longe disso. Apenas não me tocava de verdade esse sentimento, não tocava até eu conhecer ela. Depois disso ferrou tudo, uma merda isso de se apaixonar. A palavra merda bem que poderia definir minha vida ao invés de nada , já que o nada representava a ausência de coisas ruins também o que não é meu caso. Era chato definir a chegada de Amália na minha vida como algo ruim , desde que ela apareceu correndo pela portaria com sua franja quase cobrindo os olhos, dando um oi apressado , tudo tinha mudado. A princípio as coisas se tornaram mais bonitas, mas quando a empolgação do começo do sentimento passou , ficou só a decepção de saber que aquilo estava fora de meu alcance. Amália morava na cobertura , não tinha preocupação com dinheiro e ainda jovem nos seus 22 anos , cheia de vida e coisas para descobrir. Eu sou um homem de 30 , moro num pequeno quarto no prédio onde trabalho , e estou no 6° período da faculdade de arquitetura que faço sob duras penas.

Não tenho nada a oferecer para Amália, nem mesmo tempo eu tenho disponível para me dedicar a ela. Amália merecia mais , eu queria ser mais para ela, e contava que dali a dois anos quando minha vida melhorasse eu poderia tentar . Mas em dois anos as coisas poderiam mudar muito para ela também, ela poderia ir embora ou se casar , ou simplesmente não me querer. Nem sei qual hipótese mais me incomodava, mas todas elas me deixavan ainda mais frustrado e decepcionado.

Em um desses dias que eu estava acabado de tristeza, na merda mesmo , tive a brilhante ideia de escrever uma carta para ela. Além de triste eu tinha bebido, não me orgulho disso e posso afirmar que foi a última vez. Mas foi o bastante para eu escrever um texto de próprio punho e colocar no meio da correspondência dela. Não pense que eu escrevi algo grandioso, na verdade eu não escrevi nada, apenas copiei a letra da música Dar-te-ei. No meio da minha loucura escrevi algo bonito que me lembrava ela , perfeito na minha situação já que eu realmente não poderia dar nada a ela , a não ser meu amor. Mas eu sou tão merda que nem isso eu dei. No outro dia ela veio atrás de mim querendo saber se eu tinha visto quem tinha lhe mandado a carta. Foi muito triste mentir para ela dizendo que não , pior ainda foi ouvir ela falando que tinha amado a música e era fã do cantor. Meu consolo é saber que pelo menos ela sorrio escutando a música , isso já me dava um pouco de paz.