O taxista

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Como taxista eu costumo fazer corrida para tantas pessoas que torna-se impossível me lembrar de todos os rostos e histórias, mas tem um casal em específico que eu lembro-me bem. Trabalhei para os dois somente quatro vezes e ainda assim não posso deixar de sorrir quando essa memória me vem.

— Lucas, venha junto! – a jovem adulta se agarrava ao pescoço do cara que tentava colocá-la no banco de trás do táxi.

Estava bêbada – terrivelmente bêbada –, e eu pude confirmar isso só olhando pelo espelho retrovisor.

— Eu não sou o Lucas! – o cara insistiu aparentemente cansado de repetir a mesma coisa.

Ele finalmente desistiu e acabou acomodando-se no banco traseiro com ela se aconchegando em seu colo. Passou-me o endereço e essa foi a primeira vez que tiveram contato com meu táxi, bem em frente à pub mais badalada da cidade.

A segunda vez que os vi foi alguns dias depois, busquei-os em frente a uma casa de shows muito conhecida. Dessa vez ela estava tão bêbada que ele sequer teve coragem de cogitar a possibilidade de deixá-la entrar no taxi sozinha.

— Lucas, não me deixe! – murmurava com certo temperamento em seu tom de voz. Segundos após ligar o carro e lá estava ela novamente embriagada, dormindo agarrada à ele, que sorriu constrangido e me deu o mesmo endereço da outra vez.

— Sua namorada? – resolvi tentar enquanto estava parado no semáforo vermelho.

— Mal a conheço... – ele sorriu dando de ombros.

— Ela tem cara de quem gosta de culinária – comentei observando-os pelo retrovisor.

— Verdade... – ele a observou também. – E tem cara de quem faz ótimos waffles.

Na terceira vez, cerca de um ou dois meses depois, busquei-os em um restaurante japonês muito chique, e dessa vez, ambos estavam um pouco mais alegres devido ao álcool. Como de costume, ele me passou o endereço e ela dormiu aninhada a ele que acariciava seus cabelos.

— Parece que agora já a conhece, certo?

— Sim – ele sorriu vendo-a aninhar-se mais a ele. – e ela não sabe nem fritar um ovo!

Nós gargalhamos, e assim que os deixei no mesmo endereço de sempre, confessou: — Mas tudo bem, porque eu nem como ovo mesmo.

Na quarta vez, cerca de um ou dois anos depois, busquei-a sozinha em frente ao cartório. Não estava bêbada dessa vez, e não me reconheceu já que nunca tinha me visto por mais de um minuto.

Deu-me um endereço diferente e o caminho foi silencioso.

Assim que estacionei, pude vislumbrar ele com um neném no colo e algumas pessoas ao seu redor. Ela saiu, deu-lhe um selinho, entregou-lhe uns papéis e pegou a criança no colo.

Não vi muito mais que aquilo pois outra pessoa entrou em meu táxi. Nunca mais os busquei em canto algum e nunca descobri de fato o que aconteceu ou qual era a história dos dois. O porquê ela estava sempre bêbada, ou porquê o chamava de Lucas mesmo ele dizendo não ser seu nome, ou quem de fato era aquele bebê. Seria o filho deles? Ou quem sabe um sobrinho?

Talvez eu nunca descubra pois não os vejo há anos...

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⏰ Última atualização: Jul 23, 2020 ⏰

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