Capítulo 1.2: Nada Nunca Muda

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Quando o último sinal bateu, Kiara saiu em disparada pela porta com Luther logo atrás. Ele encostou nela de leve com um sorriso bobo no rosto. Segurava o celular em uma das mãos e a mochila com a outra a arrastando pelo chão sem cuidado.

— Como foi?

— O mesmo de sempre, ganhei uma advertência. — mostrou o documento para o garoto que pegou e leu rapidamente.

— Zoado, mas não liga para isso. — ele devolveu o papel e puxou Kiara para perto, mostrando o seu celular com um vídeo na galeria. Nele, Jaxon tentava sair de sua cadeira e caía no chão preso pelo chiclete. Isso melhorou seu humor e ela soltou uma risada baixa e discreta.

— Comédia de primeira categoria.

Luther sabia como anima-lá. Eles se conheciam desde o ensino fundamental, quando os dois acabaram sentando juntos em uma aula de artes e um desafiou o outro a beber um pote de tinta. Luther bebeu o verde e Kiara o azul. Suas bocas queimaram e a professora quase teve um aneurisma, mas as crianças não conseguiam parar de rir entre as lágrimas e apontar um para o outro como se aquilo fosse a coisa mais engraçada do mundo e nem um pouco perigosa.

Foi a primeira vez que os dois foram mandados para a coordenação juntos.

A primeira de muitas vezes.

— Vamos enquanto ainda está vazio.

Kiara subiu na moto e Luther na garupa, ela dirigiu para fora da escola. Enfim, paz.

Passando pelos bairros, várias pessoas já estavam indo para o trabalho e lojas estavam abertas. As mesmas pessoas, no mesmo horário, sempre igual, na mesma paz. Newstill é uma cidade pequena, do tipo que se você não prestar atenção vai acabar passando direto por ela no mapa. Isso tem suas vantagens e também o oposto, em especial o tédio. Nada muda, tudo é sempre igual. Com o tempo, Kiara aprendeu a rotina de cada um dos moradores.

O padeiro abria para o turno da tarde às 16:10, a borracharia no mesmo horário, e os donos, senhor Scottland e Wayard vão começar a brigar. Exatos dez minutos depois, um banqueiro vai passar pela rua olhando para o relógio segurando sua maleta e balançar a cabeça vendo os dois senhores brigarem. Então pequena Susie vai sair para andar com seu triciclo cor de rosa sendo seguida por sua mãe que a observava cautelosa. Pequenas coisas assim que se repetem diariamente.

Cansativo. Tedioso.

A Pista de O'Haley era diferente disso.

Ela deixou sua moto no estacionamento e entrou no local. A Pista de O'Haley era uma pista de skate e um restaurante. As músicas de rock, comida gordurosa e decoração amarela descascando juntavam o público de várias pessoas com tatuagens, cabelos de cores diferentes e histórico questionável.

Kiara se sentou em uma das mesas à frente do balcão, Luther deixou a mochila com ela e saiu correndo para a pista segurando seu skate.

— Fala aí, pessoal! — gritou para os outros, os cumprimentando com soquinhos e tapas nas costas.

Começou com uma manobra básica, o ollie, a partir daí começou a evoluir para manobras mais ousadas e dinâmicas. Os colegas de pista gritavam palavras de apoio a cada giro e salto bem-sucedido. Kiara dava o mesmo apoio de sua mesa.

Depois de um tempo vendo seu amigo, lembrou-se que precisava achar um jeito de conseguir comida de graça, se preparou para encarar o cozinheiro que fritava batatas com um cheiro que a deixava com água na boca.

— Hey, Malcom.

— Veja só, se não é Kiara Mitchell.

— Sabe Malcom... Somos amigos, não é? — Malcom arqueou as sobrancelhas. — Conhecidos.

Deve Ter Sido O VentoOnde histórias criam vida. Descubra agora