Tudo ficou em silêncio, um silêncio incómodo e distante, um silêncio diferente de todos os outros.
A claridade do sol, foi diminuindo aos poucos, desaparecendo no negrume imenso que tomou conta de tudo. Enquanto a sede e a fome sentidas desapareceram de imediato, sendo não mais possível ouvir o ressoar do estômago irado por não ter tomado o pequeno-almoço naquela manhã ou sentir a garganta ressequida como se não tivesse bebido água à três meses.
Mas o mais importante era que finalmente a dor tinha acabado.
Aquela dor agonizante, que lhe percorreu o corpo todo.
Já não sentia nada, nem o toque leve de uma mão que estivera agarrada à sua, ou que ainda está agarrada à sua. Ela não sabe. Ela já não consegue sentir a mão ou o chão áspero debaixo dela.
Já não via nada, nem o céu azulado que permaneceu acima dela até fechar os olhos.
Já não cheirava nada, nem o cheiro de fumo que saiu do carro quando embateu nela.
Já não ouvia nada, nem os gritos abafados, chamando por ela, ecoando o seu nome vezes sem conta ou as aves que voaram no céu que esteve acima dela.
Mas ainda assim, sem conseguir sentir algo, sentia-se viva.
Não sabia onde estava, não sabia o que tinha acontecido, não sabia se estava viva ou morta. Por isso esperou, incerta e receosa, com medo.
Queria chorar mas não conseguia.
Não sentia lágrimas, não sentia as lágrimas quentes que percorreram o seu rosto quando sentiu a dor horripilante de quando partiu o braço esquerdo no parque perto da sua casa ou há momentos atrás, se é que foi há tão pouco tempo assim. Ela não se lembrava de quanto tempo passara, não sabia se tinha passado minutos, horas ou até mesmo dias. Achava impossível terem se passado dias, mas não tinha certeza de nada. O tempo para ela deixou de importar, já nada importava. Também já não sentia nada. Mas queria sentir, queria ouvir, queria ver, queria saborear e gritar bem alto. Mas nada. Por isso permaneceu ali, mesmo não havendo outro lugar para ir, apenas permaneceu nos seus pensamentos. A única coisa que não lhe fora roubada.
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Quem roubou as estrelas?
Romance"Também já não sentia nada. Mas queria sentir, queria ouvir, queria ver, queria saborear e gritar bem alto. Mas nada. Por isso permaneceu ali, mesmo não havendo outro lugar para ir, apenas permaneceu nos seus pensamentos. A única coisa que não lhe f...