Infiltrado

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Escutei as rodas da cadeira dela chegando cada vez mais perto. Seu rosto, um pouco marcado pelo tempo e pelo acidente que sofrera há quase oito anos, estava sério. Eu sei que ela chorou. Assim como eu. Ela chorou por Bella, a filha dela.

- Vai ficar tudo bem, não vai? Eu preciso saber que meus netos estão bem. - Ela apertou as mãos.

- Você sempre disse que teria mais de um bebê.

- E ninguém acreditou. - Ela riu. - Eu só tive um bebê, quatro se você contar com os irmãos da Bella, que morreram antes mesmo de nascer, se é que isso é gramaticalmente possível.

- Tudo é possível quando se trata de filhos.

- Agora você sabe. - Ela então se juntou a Bella na cama. Ela ainda dormia, era mais fácil dizer dormir ao invés de dizer que ela estava tão dopada que só acordaria para as dores do parto. Mas se era preciso disso para voltar a vê-la acordar...

Passamos um tempo ali, em silêncio. A mãe de Bella já tinha me contado como o acidente tinha acontecido. Mas eu não achei ruim ela recontar a história. Um caminhão tombou sobre o carro onde ela estava, grávida, ao lado do seu marido, que tentou protege-la com seu corpo. Bella estava na casa da avó e eles iriam busca-la. Charlie morreu na hora. Renné ficou paraplégica e perdeu o bebê. Passou anos para se recuperar, Bella e ela perderam a conexão por anos. Agora estão mais juntas do que nunca, e agem ainda mais como amigas.

- Ela me mandou uma mensagem antes, queria saber como dormir melhor. Agora não parece tão necessário. - Olhei para Bella, ainda dormindo, respirando normalmente, com seu curativo trocado a quase uma hora. - "Preciso da sua ajuda! Tem como me visitar hoje? Beijos, te amo mamãe! "

- Eu vi a mensagem quando peguei os pertences dela.

- É. Edward, sabe o motivo de eu amar Bella tão rapidamente?

- Posso ter uma ideia. - Eu peguei a mão de Bella. Eu poderia fazer uma lista de motivos para amá-la.

- Deixe-me reformular. Você sabe o motivo de EU, Renné Swan Dywer, amar minha filha tão rapidamente, de novo, depois de ter perdido quase tudo?

- Não sei. - Eu sorri. E respondi isso só para que ela respondesse logo.

- Por ela suprir tudo. Ela e Phil aliviam a minha saudade. Os dois, mas principalmente ela, me deixam em paz. Nada foi culpa minha, eu renasci. Bella é minha melhor amiga e eu sou mãe dela. Saber que agora eu faço parte de tudo na vida dela, me deixa feliz e completa. Ela me contou do medo da gravidez. Me contou sobre o temor de perder os bebês, assim como eu perdi os dois bebês antes e depois dela, e o outro naquele acidente. Ela conhece a minha dor. E ela tem empatia por essa dor. Em nenhum momento mentiu para me fazer sentir bem.

- Você ainda é você, só que melhor. Bella só mostrou isso.

- Sim. E é exatamente por ela ser assim, que eu sei que ela vai sobreviver a isso. Em todos os sentidos. Se algo pior acontecer daqui para frente.... Se algo acontecer, Bella vai saber lidar e você vai estar lá por ela.

Depois daquele minuto de silêncio e reflexão eu lembrei de Phil, meu sogro engraçado.

- Onde está Phil? Ele só te deixou aqui e se foi? Não quis entrar?

- Ele é um chorão. Quando se recuperar ele vai subir.

- Ele chorou na sua frente?

- Ele disse que iria comprar flores. - Nós dois rimos juntos.

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Com os próximos meses passando e a cada atualização sobre o caso de Bella, eu estava cada vez mais firme e confuso com todos aqueles sentimentos. Eu ficava feliz por vê-la reagir a pequenos estímulos nas mãos, ainda se arrepiar quando a toco atrás da orelha e, apesar de não saber se ela me ouve, eu converso com ela. Sobre tudo, até chego a repetir muitas coisas. Consegui escrever alguns rascunhos também, e eles refletiam minha confusão. Eu também sentia tristeza, solidão e uma angustia, que se misturava aos sentimentos bons.

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