Capítulo 11

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Criação

Malu olhou para a os dois lados da rua, verificou o número do prédio e confirmou que o lugar para o qual a tinham enviado era mesmo um prédio residencial, com apartamentos que deveriam custar mais do que todo o dinheiro que ela ganharia na vida toda. E que, com toda e completa certeza, não era a editora que ela tinha imaginado.

Então, imediatamente, a jovem teve dois pensamentos.

O primeiro era que o Diego poderia ter enviado o endereço errado sem querer, já que nesse mundo de copy e cola tudo era possível, e o outro, bem, esse já era um pouco perturbador e fazia todos os seus instintos berrarem para que ela fugisse de lá, senão ela poderia muito bem acabar sendo sequestrada, vendida e usada como escrava sexual ou incubadora de órgãos. Porém, antes que Malu colocasse um pé na frente do outro, uma cena bem fora de contexto para o bairro chique a fez ficar com os pés plantados na frente da portaria, logo atrás de uma palmeira alta.

— Você desapareceu! — uma mulher alta com cabelos loiros e roupas confortavelmente elegantes gritou. — Eu tive que correr a cidade inteira para te achar!

— Pela milésima vez, eu não fiz de propósito! — Malu reconheceu a voz e a figura de Diego.

— Isso é o que você está dizendo, meu bem, mas eu não acredito! — a mulher rebateu.

O casal estava entre as grades da portaria, em um lance de escada acima do olhar da jovem, que assistia à cena sem ser notada. E ao ver Diego naquela conversa acalorada com a Barbie Executiva ali, Malu percebeu que estava no lugar certo, mas na hora errada, muito, muito errada.

A jovem sempre acreditou que havia algo na psiquê humana, regida por algum córtex do cérebro, que fazia as pessoas virarem estátuas observadoras diante de uma cena dessas, afinal, quem nunca parou para ver ou ouvir um barraco na vizinhança? E Malu estava exatamente dessa forma, tão entretida na conversa alheia, que não notou a aproximação de dois jovens até que fosse tarde demais.

— Licença. — a jovem levou um susto com o cutucão que recebeu no ombro e quando se virou, acabou ficando presa no sorriso amigável de um rapaz com traços orientais. — Você é a ML coração, nuvem, brilho e caneta?

— O quê? — ela demorou para entender do que ele estava falando, já que ser abordada no meio da rua, à noite, por estranhos é uma situação que alarma qualquer um, mas ela se lembrou de seu nickname do aplicativo de mensagens. — Sou, sou eu sim...

— Sabia! Te reconheci da foto do perfil. — o jovem ampliou o seu sorriso. — Eu sou o Lucas e esse é o Guilherme, somos do lance da HQ. — ele apontou para o rapaz ao seu lado.

Observando a dupla, Malu concluiu que eles tinham aquele ar de quem pertencia ao mundo da criação, o que apenas aumentou a imagem de modernidade que ela tinha da editora de Diego.

— Oi, tudo bem? — Guilherme acenou.

A apresentação entre eles foi interrompida pelas vozes exaltadas do casal, que chamaram a atenção dos três pares de olhos na calçada.

— Olha, Lena. — Diego passou a mão pelo cabelo, bagunçando as mechas já desgrenhadas. — Vamos ser racionais, tudo bem? Deu tudo certo no final, não é?

— Olha só, Diego... — a mulher enfatizou o nome dele. — Até você me chamar de irracional estava tudo bem, mas agora eu já não sei... Na verdade, eu sei sim! Isso tem cheiro de Lorenzo, tá andando muito com ele, Diego?

— Caramba! É o Diego! — Lucas comentou num mistura de espanto com diversão.

— É, eu, hum, fiquei meio sem saber o que fazer... — Malu se justificou, se sentindo um pouco envergonhada por ter dado uma de curiosa.

Storyboard: amor entre rabiscosOnde histórias criam vida. Descubra agora