CAPÍTULO DOIS

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Calista ama a adrenalina de pilotar em alta velocidade enquanto chove. Quando mais nova, fugia do orfanato em dias como esse, pegava uma bicicleta das freiras e pedalava até perder o fôlego ou sentir dores no abdômen.

Seu irmão mais novo, Caleb, a encobria sempre que dava. Quando não, os dois se viam presos dentro de um quarto escuro após serem castigados fisicamente.

Isso até o dia que o Sr. e a Sra. Dixon conhecerem os irmãos. O amor os envolveu desde o primeiro contato e pela primeira vez Calista soube o que era descansar.

No dia de sua adoção, sabia ali que havia ganhado na loteria. Não bastava a sorte de não ser separada do irmão, ainda estava indo para uma família rica e sem filhos para dividir atenção.

Era o momento mais esperado por Calista e Caleb. Durante todos os anos, a irmã mais velha esteve lutando pela vida dos dois e agora poderia ser como os outros adolescentes.

Enquanto o motor de sua moto roncava pela avenida e sua jaqueta se encharcava, Cali torcia para que de algum modo a água que escorria tirasse de seu pescoço as marcas da noite passada com Rosie.

John fingia que não via o relacionamento das duas. Cali não gostava de admitir que o seu casamento não deveria ter acontecido.

Por negócios e crescimento financeiro, a família Parker e Dixon forçaram seus filhos a união matrimonial. O sensível momento que passava Cali e o medo de John de não ser o bom filho, levaram os dois ao altar.

Ambos prometeram que fariam aquilo para se verem livres dos olhares de seus pais enquanto as geladas alianças roçavam por seus dedos anelares. Junto a isso, diziam que fariam um ao outro felizes. Era o mínimo, mas não o suficiente.

A pressão não diminuíra e se fazia necessário um herdeiro daquele império. Juno veio como resposta a isso.

Abrindo em Cali a ferida da compulsória maternidade. Enquanto o psicólogo da família Dixon, por dinheiro, insistia que Cali se livraria do passado e se conectaria a John através de um filho.

A promessa de que tudo passaria estava sendo vendida a preço de banana.

No meio da madrugada, após algumas doses de whisky, Calista chegou ao seu lar e John a esperava enquanto ninava Juno.

— Boa noite – Ela falou após longo suspiro e colocou o capacete em cima da bancada.

Estava de volta a maçante realidade.

— Onde você estava? – Ele perguntou em tom sério.

— Vivendo meu conto de fadas – Sua voz sempre ácida veio acompanhada de seu coturno se arrastando até o segundo andar.

Mais tarde, John a procurou para conversar após deixar a criança no berço.

— Cali – Chamou pela mulher, seus olhos estavam pesados pela tristeza – Eu não sou seu inimigo aqui.

— Eu sei, John – Virou para o outro lado da cama.

— Você ainda está tomando seus remédios? – Preocupou-se.

— Nunca pensei em parar.

John sabia do que levava Cali aquele estado. Por isso não dizia muito.

Ele não sentia sono e foi para sala assistir algum show de TV que estivesse passando. Todo instante vinha a ele o desejo de divorciar-se de Cali, mas se assim o fizesse, ela perderia tudo. Então aguardava que ela tomasse a coragem, estaria ele disposto ao sacrifício.

A felicidade prometida tornava as brancas paredes em escuras e sombrias. Não dava a ninguém, nem mesmo a filha, a satisfação de manter aquela falsa família.

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