Capítulo 1

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Era mais um dia quente do verão de Santa Catarina. Apesar de morar no Sul, onde os meses de inverno castigavam mais fortemente os moradores do que no resto do Brasil, os dias de verão também estavam sendo intensos. Se eu pudesse definir como costumava passar os dias de calor em apenas 2 palavras, seriam: chão gelado. E era exatamente isso que eu estava fazendo naquele exato momento: deitada no chão do meu quarto, permitindo que o geladinho do piso atravessasse minha pele, enquanto equilibrava uma bolsa de água fria na testa, na tentativa de fazer passar a dor de cabeça latejante que me incomodava desde o momento em que abri os olhos naquele dia. Enquanto fechava os olhos com mais força na tentativa de dissipar a dor de uma vez por todas, minha mãe resolveu entrar como um furacão no quarto, me tirando do meu momento de resfriamento corporal:

- Não acredito que você não se arrumou ainda! Dessa vez é sério Rita, eu não me atraso por sua causa hoje. Se não levantar desse chão agora, vou embora sem você!

Tirei a bolsa térmica da testa que estava impedindo minha visão, somente para lançar um olhar confuso para mamãe.

- Me arrumar? Para onde nós vamos, mãe?

- Se continuar enrolando desse jeito, pode esquecer o "nós". Eu, seu pai e sua irmã já estamos quase prontos. Esqueceu que hoje é o almoço na casa da sua tia? – mamãe informou, passando por cima de mim no chão e abrindo meu guarda-roupa.

Me levantei num pulo! Havia me esquecido completamente que íamos almoçar na casa da tia Luciana!

- Você não avisou que íamos na tia Lu hoje! – reclamei, entregando a bolsa térmica para minha mãe e tomando o lugar dela à frente do guarda-roupa.

Depois de explicar da maneira delicada que só as mães conseguem, dizendo que havia comentado não somente uma, mas três vezes do almoço de hoje, e que se eu prestasse mais atenção nas coisas que ela fala e não ficasse com a cabeça sabe-se lá em que planeta, não somente saberia do nosso compromisso, como também já estaria devidamente arrumada, finalmente consegui convencer mamãe que não ia demorar no banho e não atrasaria a família.

Rapidamente peguei uma jardineira jeans claro e uma blusa estampada, completando com minhas rotineiras rasteirinhas rosa-claro, e corri para o banheiro, antes que dona Aline desse um ataque.

                                                                                ***
Não importava quantas vezes eu já houvesse ido à casa da tia Luciana, sempre era invadida pela mesma sensação gostosa ao atravessar as imponentes portas de madeira rústicas. Cada móvel e cada canto daquela casa tinham o poder de me transportar para momentos da minha infância, onde debaixo da cama do quarto de casal era o esconderijo perfeito nas brincadeiras de pique, e o armário de panelas embaixo da pia era a mansão para minhas bonecas realizarem seus bailes de gala.

Muitas reformas foram feitas na casa desde que eu era criança, mas o aconchego permanecia o mesmo, independente de quantas paredes ganhassem novas cores. O cheiro gostoso do almoço despertou minha fome, e já fui direto até a cozinha descobrir o que estava sendo cozinhado.

- Hummm, lasanha e frango a passarinho! – exclamei ficando na ponta dos pés para olhar nas panelas.

Tia Luciana, que era quem estava preparando a lasanha no tabuleiro, deu uma gargalhada e interrompeu seu serviço, indo lavar as mãos.

- Nem cumprimenta a anfitriã da casa primeiro, já vai direto bisbilhotar o fogão. Essa é minha sobrinha, senhoras e senhores!
Sorri, sem graça, e aceitei o abraço oferecido pela minha tia, que me esperava com os braços abertos.

- Sabe como é né tia, sua comida deliciosa é culpada por eu esquecer todos os meus bons modos. – brinquei.

- Não me iluda com todos esses elogios, ou você está com muita fome, ou bateu a cabeça hoje cedo. – Tia Lu disse, sendo injustamente modesta.

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⏰ Última atualização: Jul 28, 2020 ⏰

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