Karma

Capítulo 1: mudanças

"Amar e mudar as coisas me interessa mais" - Alucinação, Belchior.

Eu e Christian passamos a semana olhando apartamentos para eu morar em Ipanema. Fiquei na dúvida entre dois, que se encaixavam perfeitamente no que eu buscava e cabiam nas minhas economias. Chris me convenceu que o apê próximo à praia seria o mais vantajoso, enumerou um por um todos os prós dessa escolha e fui vencida diante aos seus argumentos muito bem defendidos. Chávez comemorou com um sorriso de orelha a orelha e engatou uma dancinha desengonçada, onde os braços e os quadris se desencontravam constantemente. A cena me arrancou uma gargalhada alta. Chris conseguia ter essa felicidade genuína que só as crianças possuem, e é por isso que nos damos tão bem, somos duas crianças presas em corpos de adultos que se recusam a crescer.

Assinei a papelada confiante de que era a escolha mais acertada. Convidei Christian para comemorarmos esse momento especial. Próximo dali havia um bar que era um dos meus favoritos na cidade, o Otto Pub.  Um cantinho descolado que possuía as melhores gins tônicas de hibisco do Rio de Janeiro, até me atrevo a dizer, que são as melhores do país. Quando chegamos no Otto, o bar estava com uma movimentação habitual para o horário de almoço, escolhemos uma mesa mais afastada da porta, querendo fugir do entra e sai costumeiro.

Enquanto eu me acomodava na cadeira à sua frente, Christian folheava o cardápio com um olhar indeciso, comentei sobre a maravilha que era o drinque de hibisco e ele se mostrou tentado, pedimos um para cada, com algumas pizzas brancas de entrada para acompanhar.

— Sabe o que eu acho, Any? Perguntou retoricamente, enquanto fechava o cardápio e o depositava na mesa. Meus olhos o encararam aguardando que continuasse a conversa. — Acho que você precisa de outra comemoração após a sua mudança, uma mais animada, com direito a muita bebida e música.

Torci o nariz dispensando a proposta e Chris logo tratou de continuar o seu jogo de convencimento.

— Any, você precisa se distrair um pouco, relaxar... – As bebidas haviam chegado, agradecemos ao garçom em um sorriso simultâneo. Sua mão fina e cumprida agora se esticava para um enorme balde metálico com pedrinhas de gelo à nossa frente. — Você não tem mais vida social desde que começou a trabalhar no The Mexican. –  Afirmou, enquanto meu olhar abatido pelas suas palavras o encaravam.

— Pensei que poderíamos fazer um open house para inaugurar a apartamento em grande estilo.

Me olhava cada vez mais convencido de que os argumentos estavam funcionando.

— Eu já tenho algumas ideias em mente. - Ele sorria e esfregava as mãos como se já soubesse exatamente o que faria.  — Deixa comigo que eu vou cuidar de tudo. Não se preocupe. Pode confiar em mim.

— Sei, pollito... - Ironizei, recordando de todas as vezes que os planos de Christian haviam nos metido em problemas. Mas eu havia de concordar que pelo menos eles sempre nos rendiam boas risadas no dia seguinte, isso claro, quando o alto nível de álcool em nosso sangue não tinha nos tirado além da memória, a dignidade.

— Sexta- feira que vem, na sua folga. Está combinado! 

Completou, trazendo meus pensamentos de volta a conversa.

— Está bem, Chris! - Disse me dando por vencida mais uma vez.

Ele sorriu se sentindo grandioso com a conquista. Levantou a sua taça de gin e propôs um brinde. 

— À todas as surpresas que nos esperam! 

Ele abriu um sorriso que iluminou todo o seu rosto e brindei ainda receosa, tentando adivinhar tudo o que se passava por aquela cabecinha de cabelos castanhos, ler seus pensamentos. Tinha dúvidas sobre muitas coisas, mas sobre todas essas dúvidas, eu tinha uma certeza: nunca, nunquinha, jamais, em hipótese alguma confie em Christian Chávez.

— Tim, tim.

Nota da autora: O capítulo sofreu algumas alterações. Espero que gostem!