*Lembro-me de pensar: "Por que está tudo girando?"
Mas ele me deitou no chão da barraca e disse que pegaria café.
Café.
Eu gosto de café.
Ele gosta de café.
Café.
O barulho da música ao longe ecoava, mas agora bem mais baixo, não era o mesmo do que estar na festa.
Observei as estrelas através da abertura no teto da barraca por um tempo, hoje estavam brilhando diferentes. Não sei se por conta de estar com a visão meio embaçada isso ressaltava o brilho ou se realmente estavam diferentes.
Apaguei.
Acordei com ele sentando-se ao meu lado.
- Trouxe seu café - Ele sorriu gentilmente.
- O-obrigada. - Ele me entregou o copo.
- Tecnicamente, você não tem que me agradecer.
- Não? - Perguntei encarando o copo.
- Não. Afinal, eu te embebedei - Disse ele com um sorriso malicioso.
Eu ri nervoso.
Terminei o café, mas continuei de cabeça baixa, até que ele falou:
- Desculpa, mas qual o seu nome?
- Jimin, Park Jimin.
- Olá, Jimin Park Jimin.
Eu ri.
- E o seu?
- Jeon Jungkook. Mas pode chamar só de Jungkook.
- Ok. Jungkook.
- Você está melhor?
- Eu consegui dar um cochilo aqui, minha cabeça já não está mais girando, mas estou sentido uma dor na testa.
- É, eu acabei demorando, tive que sair do campus. Hoje, ninguém quer vender café por aqui. - Ele falou sorrindo e eu o acompanhei - E a sua dor na testa, bem, você bateu a cabeça na parede do banheiro.
- Ah, tá explicado - Eu disse esfregando a testa e abaixando a cabeça.
- Deixa eu ver isso aqui.
Então ele se ajoelhou na minha frente, segurou meu rosto com as mãos, nossos olhos se encontraram.
Ali parado de frente a ele, posso dizer tranquilamente que quase enfartei.
Desviei o olhar rapidamente enquanto ele analisava minha testa.
Pude observar então pela primeira vez o quanto ele era forte, tinha músculos que ele parecia fazer questão de esconder embaixo da jaqueta jeans. Mais alto que eu e...
- Não ficou hematomas ou nenhum tipo de calombo, acho que é só a dor do baque - Disse ele sentando-se ao meu lado novamente - Você vai ficar bem.
- Obrigada, por isso.
- Não há de quê.
- Acho que vou me deitar mais um pouco, mas estou preocupado com os meninos.
- Eles estão bem.
- Como você sabe?
- Os vi enquanto voltava, estão bêbados, mas bem onde os deixamos. E também estão com garotas, não quero atrapalhar - Essa última parte ele disse quase que sussurrando.
- E você?
- O que tem eu?
- Não devia estar lá fora bebendo com eles e as garotas?
- Você precisa de mim, vou ficar aqui.
Corei.
- Obrigada por ser tão gentil - Disse eu deitando - Você não quer deitar também? As estrelas estão lindas hoje.
- Claro.
Ficamos ali, por um longo período em nosso silêncio, sob a luz das estrelas.
* Admirar as estrelas me deu muito tempo pra pensar.
Em como o último ano foi difícil, como foi difícil sair de um relacionamento abusivo e hoje poder estar aqui, vivo e contemplando a imensidão do céu. Eu não trocaria esse momento por nada.
Enquanto Jimin dormia observei cada traço do seu rosto, como cada respiração dele o fazia parecer mais calmo e relaxado. Me fazia querer ficar ali.
Era 4 da manhã quando ouvi Yoon se aproximar. Então o convenci de que era hora de voltarmos pra casa.
Ele disse que chamaria o Tae e que iríamos embora.
Entrei novamente na barraca, não queria acordar o Jimin, ele parecia dormir tão bem, mas precisávamos ir embora. Afinal, teríamos aula na manhã seguinte.
Ele levantou e eu o acompanhei até o carro, abri a porta e o coloquei no banco do carona.
Entrei no carro e esperei o Yoon voltar.
Ele quase se assustou quando viu quem ocupava o banco da frente, mas não protestou e sentou-se atrás com o Tae.
Acordamos o Jimin quando estávamos próximo, percebi que ele ainda esfregava a mão na testa.
Chegamos e então o Yoon fez questão de sair cambaleando com o Tae até a porta de casa.
- Chegamos, vejo você na faculdade? - Eu disse.
- Claro! E obrigada por tudo mais uma vez - Disse ele com o sorriso tímido.
- Eu que agradeço.
- Como assim?
- Nada. Boa noite, Park Jimin - Olhei em seus olhos.
- Boa noite, Jeon Jungkook - Ele abriu a porta e saiu.
