Harley acordou com uma enorme dor de cabeça e completamente indisposta a sair da cama naquela manhã. Não era muito comum. Ela sempre costumava acordar com uma imensa vontade de sair de casa para comer uma boa quantidade de junk food e chutar alguns traseiros após o horário de trabalho. Mas alguma espécie de entidade da preguiça parecia ter sido incorporada por ela, fazendo com que mal conseguisse abrir os olhos. Se deu por conta de que Hera tinha ido embora antes de ela levantar, como sempre costumava fazer.
Harley soltou um muxoxo, impaciente. Qual a dificuldade de esperá-la acordar ao menos uma vez? Era chato acordar sozinha. Nem um pouco fofo, e muito menos romântico. E a simples ideia de ter de escorregar para fora de seus lençóis parecia assustadora. No entanto, foi o que ela fez. Tinha o seu trabalho como terapeuta no lar de idosos com que se preocupar e a tarefa de maquiar toda sua pele para que parecesse a de uma pessoa normal era longa e totalmente entediante. Aquele pó todo a deixava se sentindo estranha. Mais estranha do que o comum, pelo menos. Ela tinha que começar o processo logo, infelizmente, se queria chegar a tempo no trabalho. Antes disso, porém, foi ao banheiro, tomou um banho escaldante e, enrolando-se em uma toalha, desceu para o andar de baixo para cuidar de seus bebezinhos sanguinários e verificar se não tinham destruído o apartamento enquanto ela dormia. Cuidar de um canil inteiro dentro de um apartamento não era fácil, mas seus bebês sempre deixavam o dia menos estressante.
Quando desceu o último degrau e seus pés tocaram no chão do andar de baixo, eles encontraram uma grama úmida e fresquinha em vez do habitual cimento frio e áspero. Ela tinha uma boa ideia do porquê daquilo. Pamela. Seus olhos avaliaram brevemente o andar. O apartamento estava todo coberto por plantas que ela nem sabia nomear, além de repleto de flores, de cima a baixo. A namorada adorava acordar antes e fazer aquele tipo de surpresa para ela. Harley adorava aquilo também. Gostava de ser surpreendida, e o apartamento ficava fresquinho e limpinho por dias, além de ser definitivamente mais estiloso do que o cinza sem graça de sempre. Ela amava as flores, quem as trazia e também tudo o que vinha com elas.
- Bom dia, docinho. - a voz doce e aveludada de Hera chegava a seus ouvidos, assim como o cheiro de comida. Ela estava de pé, perto do fogão velho e da bancada improvisada, fritando alguma coisa. Harley correu até ela e se atirou em seus braços, apertando-a com força.
- PAM! - gritou, esmagando o rosto da ruiva contra o seu enquanto a abraçava, e então olhou para o amontoado de verde dentro da frigideira no fogão e fez um biquinho - Isso é algum tipo de veneno? Adubo? Ou você tá tentando queimar meu apartamento?
- Isso é o café da manhã, Harley. - respondeu, tentando se desvincular do abraço apertado - É bom ver você também.
- Café da manhã? - choramingou. - Eu pretendia comer algo... hã... menos saudável. Um pouco mais de gordura, sabe? Talvez um hot dog. Dos grandes.
- Ew! Não, Harl, de jeito nenhum! - a outra protestou - Você vai comer minhas panquecas vegetarianas, ou eu juro que nunca mais cozinho para você.
- Nesse caso... - Harley abraçou-a por trás e tamborilou suavemente as pontas de seus dedos sobre o braço cheio de sardas dela - Você poderia ficar por aqui, huh? Assim pode me obrigar a comer esse... essa comida de planta todo dia, sim? Por favor, por favor, por favor, por favor. - ela fez biquinho novamente - Não se atreva a dizer não!
Hera deixou soltar um risinho e não pode evitar que um sorriso brotasse em sua face. Se desvinculou mais uma vez do abraço, e Harley foi repentinamente agarrada pela cintura e puxada por ela para um beijo quente, porém breve, que pareceu animar o ânimo de ambas.
- Quem sabe um dia desses? - respondeu - Nós definitivamente podemos tentar. Esse seu apartamento precisa mesmo de um pouco mais de flores.
- Ah, sim, ruiva, eu gosto muito mesmo de flores.
Pamela riu novamente. Era tão bom vê-la feliz, para variar. Ultimamente às duas tinham tido tantos problemas que um simples café da manhã e algumas flores espalhadas por um apartamento frio podiam significar muito.
Após os vários animais de estimação de Harley terem sido devidamente alimentados com leite e algum tipo de carne estranha e escura (que fez Ivy torcer o nariz várias vezes enquanto as duas a distribuíam entre os cães adultos), elas se sentaram à mesa para comer as panquecas e tomar café. Harley, à princípio, torceu o nariz para o enrolado verde que foi colocado à sua frente, mas, depois da primeira mordida, constatou que comida de planta não era assim tão horrível. Ela também não parecia ter a mínima pressa em sair da sala, mesmo que tivesse comido todas as suas panquecas em uma velocidade monstro. Ivy revirou os olhos e soltou um muxoxo de impaciência.
- O trabalho, minha pequena psicopata, o trabalho. - disse, levantando-se e fazendo sinal para que Harley fizesse o mesmo. - Você ainda nem começou a se arrumar e já está atrasada!
- Bom, tenho certeza que os idosos podem esperar um pouquinho mais hoje, não podem? Se você está aqui e eu já estou atrasada, de qualquer forma - disse, se espreguiçando ao ficar de pé e puxando a namorada pela gola da blusa - vamos aproveitar e fazer meu tempo valer a pena.

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Flowers | harlivy
FanfictionHarley amava as flores, quem as trazia e também tudo o que vinha com elas.