Na terceira ou quarta estocada o seu corpo debruçou-se sobre o meu exausto. Eu ainda não tinha atingido o ápice do prazer. Deslizei as mãos pelas suas costas e acariciei o seu cabelo ainda molhado enquanto sua cabeça pousava em meus seios despidos.
Silêncio. Até que um grunhido de cansaço se tornasse uma comunicação.
— Vá indo na frente. Te encontro no banho — falei incentivando-o a levantar-se e tomar banho.
Assim, pude ficar a sós com meus pensamentos e sentimentos.
Apanhei o roupão sob a poltrona próxima a janela. Alisei os cabelos, alinhando-os para trás e depois enrolando-os num coque desajeitado, apoiei as mãos e a cabeça contra a parede. Dez anos, e eu não conseguia entender o que começara a dar errado.
As paixões tendem a esfriar e o amor se acomoda com o tempo. Mas, eu não conseguia entender o que fazia o meu casamento definhar tão depressa em questões de falta de afinidade e química. Se nem o sexo conseguira resistir, isso significava que algo estava dando errado e eu ainda não conseguia compreender o que era.
Antes que eu pudesse passear os caminhos das possibilidades o celular dele tocou. Virei-me para identificar onde estava o aparelho e sem que eu pensasse em qualquer coisa ele saiu apressado do banho, toalha ainda por enrolar na cintura, completamente molhado e com vestígios de espuma sob o dorso. Deslizando com os pés molhados pelo piso igualmente liso ele chegou ao aparelho antes que o meu olhar pudesse pousar sobre ele.
Automaticamente a minha mente deu um estalo. Quem não acharia aquilo estranho?
Não questionei nada a princípio. Entrei no banho. Deixei que as lágrimas rolassem pelo meu rosto, disfarçadas pela água quente do chuveiro que ardia na pele do rosto.
Por dentro, meu coração igualmente ardia. A desconfiança é uma pequena muda de urtiga plantada no interior do seu ser. Coça, atiçando você a enfrentá-la. Arde, porque incomoda em você estar vivendo uma ilusão.
Adiei cada resposta imediata que a minha mente pedia. Com a mesma urgência, meu coração começava a tatear uma maneira de não se despedaçar. Mas, era inútil. A minha mente já nos controlava e aos poucos, em questão de segundos, já estávamos ao seu mercê. Meu coração parou de responder aos impulsos do amor, desconhecendo assim o meu marido, agora um estranho, fechando-nos em um universo particular. Será que eu estava disposta a buscar descobrir quem era ele?
— Nina?! Você vai demorar no banho? Eu preciso sair. Quero me despedir.
Desliguei o chuveiro. Inspirei fundo. Peguei a toalha pendurada do lado de fora do box. Respirei, soltando o máximo de ar que consegui pelas narinas e boca.
— Certo. Só um minuto.
Fingir não me importar era algo ao qual eu já estava habituada. Treinei anos a fio na tentativa de evitar discussões, mal humor ou qualquer outra coisa que tornasse a convivência impossível. Então eu simplesmente me tornei expert em ignorar a toalha molhada em cima da cama, a tampa do vaso levantada, o excesso de trabalho, os finais de semana em frente à tv assistindo futebol, dentre tantas outras coisas pitorescas que podem se tornar o pesadelo de qualquer casal. Mas, a coisa da qual eu mais me orgulhava era a espontânea capacidade de ignorar os meus próprios sentimentos, evitando expressá-los de qualquer maneira. Eu conseguia ser uma incógnita e isso me protegia.
Saí do banheiro repleta de desconfiança. Era como se cada gota de água que tinha rolado pelo chuveiro fosse um elixir e tivesse irrigado cada ideia louca que vagueava pela minha mente.
— Tenho que sair.
— Onde você vai? — Sem que eu pudesse prever, a minha boca fez a única pergunta improvável. Eu nunca havia pronunciado algo assim.
— Eu tenho uma reunião com uma cliente.
— Assim do nada? — Algo me impulsionava, eu não conseguia parar.
— Sim, ela acabou de ligar pedindo que eu fosse ao seu encontro para resolvermos uma última pendência de um acordo.
Meneei a cabeça concordando. De fato, a sua explicação fazia sentido, exceto por:
— Essa cliente é especial?
— Como?
— Você não atende ninguém sem prévio agendamento. Podia ser o papa. O que mudou?
— Por que tantas perguntas, querida? O que a intriga?
Gostaria de dizer que absolutamente tudo em sua atitude me intrigava.
— Nada. — Respondi, por fim. — Eu apenas achei que você tivesse estabelecido uma regra de trabalho.
— Regras podem ser flexibilizadas dependendo da situação meu amor...
— Claro... — Assenti, fingindo concordância.
Não fazia o menor sentido tratando-se de James.
Fiquei algum tempo parada em frente a janela do quarto depois que James saiu. Eu vi o seu carro cruzar o jardim e desaparecer após o portão, Estevão o fechou e depois voltou a podar as roseiras do jardim.
Ainda faltavam algumas horas para o jantar, o que tornava as coisas ainda mais sem sentido. Minhas desconfianças começavam a ser o meu oxigênio. Minha cabeça vagueava por cada ideia de traição que eu criava.
Quem era essa cliente?
O que ela tinha de especial?
Por que a cena do celular?
Todas as perguntas pareciam se encaixar umas nas outras, dando sentidos em comum.
Eu temia que não passasse de insegurança.
Eu estava com caraminholas na cabeça. Cheia delas, na verdade. A pergunta principal era: a culpa era minha ou de fato eu podia sustentá-las em algum fundo de verdade?
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O Clube dos Traídos
RomanceNina estava casada há pouco mais de dez anos. Num dia qualquer diante de atitudes suspeitas do marido, ela começa a tecer desconfianças sobre ele. Assim, entre a cruz e a espada, Nina se vê num dilema e procura respostas. Ela as encontra no Clube do...