Irritado. É assim que Eddie se encontra no momento. Ele estava indo para um acampamento de terapia de conversão contra a sua vontade, pois o menino tinha cem por cento de certeza de que era hétero, e de que seus amigos, sua namorada e sua mãe estavam completamente errados sobre ele. Sentado no banco de trás do carro de sua mãe, com a cabeça encostada no vidro e os olhos focados no nada, ele pensava na bagunça em que tudo havia se tornado. Sua vida desmoronou no dia anterior, foi quando Kevin, um dos monitores do acampamento, fez um a visita à sua casa e, juntamente aos conhecidos de Eddie, notificou o adolescente de que ele iria para tal acampamento.
Flashback
Eddie havia percebido algo estranho em relação a Stacie, sua namorada, ela estava inquieta e estava levando ele para algum lugar que ele não sabia. Logo quando o menino saiu da escola, ela já estava o esperando na porta. Sem dizer nada, ela o empurrou pra dentro de seu carro e saiu.
Agora eles seguiam por um caminho comum para Eddie, o caminho de sua casa, mas ele não tinha ideia do porquê. Chegando lá eles desceram do carro e Stacie o guiou para dentro de sua casa, como se ele não soubesse de cor o caminho. Quando o Kaspbrak entra na sala, sua mãe, seu melhor amigo e um homem vestido de azul o esperavam.
— O que tá acontecendo? Quem é ele? — o menino questiona confuso enquanto era empurrado para o sofá da casa.
— Eddie ursinho, nós precisamos falar com você, é muito sério — Sônia diz receosa, suas sobrancelhas denunciando um semblante preocupado.
— Olá Edward, meu nome é Kevin e eu vim ajudar na conversa que vocês terão — o homem estranho fala.
— Hm, ok? Alguém pode me falar o que aconteceu? Alguém morreu!? — Eddie levanta subitamente do sofá com um pulo, Stacie o empurra de volta.
Todos da sala se sentam, Eddie está no único sófa do cômodo, Sônia e Kevin estão em duas poltronas, lado a lado. Stacie está sentada nas cadeiras da mesa de jantar com Bill Denbrough, melhor amigo de Eddie, a sua esquerda. O silêncio permanece na sala por poucos segundos, até Kevin intervir.
— Bom, vamos começar com você senhora Kaspbrak, conte a Eddie — o homem de pele escura diz sucinto. Eddie só reparou agora na roupa dele, uma camiseta azul capri com o escrito "Heterossexual é legal", e depois disso o menino começou a se preocupar.
— Eddie, nós queríamos falar sobre algo importante, nós achamos que... achamos que... — a mulher travou em sua fala, as palavras não pareciam querer sair de sua boca.
— Eddie nós achamos que você é gay! — Stacie fala rápido, interrompendo Sônia.
— Acham que... eu sou gay? Mas eu não sou! Eu até namoro você, e você é uma mulher.
— Querido, nós temos provas... — a mulher fala em um tom, preparando Eddie para o que viria em seguida.
Eddie encara Bill desacreditado, o seu amigo não havia dito nada desde que chegou ele chegou lá. Bill olha para Eddie e tenta lhe dizer com o olhar que ele não podia fazer nada, e Eddie o entende, sua mãe provavelmente obrigou seu amigo a estar lá.
— E que provas seriam? — o menor fala desafiador, certo de que a acusação era falsa.
— Para começar — diz Kevin — você usa calças justas demais, tem mais de uma peça de roupa rosa e faz gestos demais com as mãos, sinais óbvios de homossexualidade.
— Como assim isso são sinai-
— Você tem fotos de homens pregadas no seu armário da escola — Eddie é interrompido por sua namorada.
— Você tem pôsteres de ícones LGBTQI+ em seu quarto — Sônia diz enquanto levanta a mão mostrando um pôster de Freddie Mercury.
— Eddie você nem gosta de me beijar! — Stacie completa.
— Mas isso tudo não me faz gay! Bill me ajuda aqui, por favor... — o menor pede, mas Bill vira a cara sem jeito.
— Tá tudo bem Edward, eu venho de uma instituição que pode ajudar a te curar, a True Directions — Kevin fala tentando acalmar o adolescente — Eu sou um ex-gay, a True Directions foi o que me salvou e me colocou no caminho certo da vida, vai fazer muito bem à você.
— Mãe, você não pode estar falando sério, eu não sou gay! — Eddie insiste.
— Eddie, eu também não quero isso, mas é o que devemos fazer. Eu não posso deixar meu filho seguir no caminho do pecado, precisamos consertar isso o mais cedo possível.
— Certo, eu vou, mas continuo lhe falando que não sou gay, isso tudo é um erro.
Fim do Flashback
E foi assim que Eddie foi parar naquela situação. O menino pega suas malas, grandes e pesadas, que continham tudo que ele iria precisar naqueles três meses de acampamento, e desce do carro de sua mãe com dificuldade. A família Kaspbrak, composta apenas por ele e Sônia, anda em direção à uma mulher que está parada na porta do lugar. Ela tem uma estatura média, cerca de quarenta anos de idade, cabelo loiro, um vestido rosa choque e corpo bem definido, o estereótipo perfeito de uma mulher atualmente.
Quando Eddie e sua mãe chegam na porta da estrutura principal do acampamento a mulher os recebe com um sorriso, um muito falso na opinião do menino.
— Sejam bem vindos à True Directions, meu nome é Samantha e eu vou ser a orientadora da sua reabilitação. Qual é o seu nome, jovem?
— Eddie, Eddie Kaspbrak — o menino diz nada amigável.
— Ah sim, você chegou um pouco atrasado, mas nada que irá te prejudicar. Agora vamos entrar por favor.
Sônia se despede de Eddie com um abraço sufocante. Algo que o menor não sentirá falta nesses três meses é de sua mãe.
