Beatriz Minha Poesia

Contemporânea Sale

O dinheiro é belo, porque é a libertação.

— Fernando Pessoa

Uma vez ouvi dizer que o trabalho dignifica o homem, pois, bem! Ando precisando dessa tal dignidade. Independência financeira. Minha mãe já trabalha muito para nos sustentar... Ajudar a Teodora e comprar o que eu desejar é meu sonho... Presenteá-la no dia das mães, em seu aniversário, presenteá-la de todas as formas possíveis. Já tentei "empreender", mas nunca dava certo, aqui em casa vira e mexe falta algo e o dinheiro vai evaporando, nossa situação melhorou, porém, quando criança já vi minha mãe chorando, preocupada, com medo de nos faltar algo. Não existe nada mais desesperador do que ver a sua mãe chorando por medo da fome e não ter como ajudar... Uma vez quando era criança peguei as mangas que minha mãe havia colhido do nosso pé de manga e sai para vende-las sem que minha projenitora soubesse, vendi todas! Não sei se compraram por dó, ou, porque realmente queriam. Quando criança eu não era maltrapida, tinha poucas roupas, mas, todas eram bem lindas, e minha mãe sempre fez questão de que eu saísse bem arrumadinha. Minha infância não foi das mais ricas, nem totalmente paupérrima, como já disse anteriormente, minha mãe batalhou muito. Teodora sempre me deu o merecido cuidado, não tenho do que me queixar, tenho muito que me orgulhar, minha mãe é a diva da minha vida, minha eterna inspiração!

Teodora ainda vai ter muito o que se orgulhar de mim, vou dar o meu melhor, não posso perder esse emprego. Sabe, é minha oportunidade de evoluir, virar uma adulta de verdade! Kkk. Ok, agora vou contar pra vocês como é meu trabalho.

Vamos lá! Eu basicamente atendo o cliente, informo, recebo o consumidor e encaminho para os funcionários do salão. Processo correspondências, e faço anotações dos clientes, além de agendar horários. Não é nada muito difícil, exige organização, é óbvio, mas, nada de extraordinário ou de outro mundo. Por um milagre arrumei esse emprego de meio período, o que é muito bom, já que não terei que mudar o turno em que estudo.

Assim que cheguei, estava tensa, e um pouco tímida. Isabela, a moça que vou ocupar o cargo é gentil, prestativa e inteligente, fiquei super admirada com a presteza de Isabela, será que um dia essa mulher ficou irritada? Pois, parece impossível. Sendo Isabela prestativa e eficiente, senti medo de não ter um bom rendimento. Isabela percebeu que eu estava tensa, e logo tratou de suavizar a situação. Perguntou sobre mim, amigos, escola, enfim. Acabei descobrindo que ela tem uma filhinha, falou sobre a criança que se chama Camila, contou também sobre o pai André. Fiquei muito feliz por ela, Isabela se demitiu pois seu marido foi promovido, e ela deseja passar mais tempo com a sua filha.

Valentina Tavares, uma mulher de óculos grandes e pretos, não tão jovem e com a fala irritante, foi a primeira cliente da tarde. Observei o tratamento de Isabela, e tentei reproduzir com um rapaz, acredito que atender ao jovem foi mais simples do que Valentina, pois, segundo Isabela, Valentina é uma cliente extremamente exigente, e que se eu vacilar com uma dessas clientes antigas estarei a um passo de ser demitida.

Apesar de receosa por dentro, após atender o moço, o nervosismo foi acabando, e logo estava mais leve, sorridente, e prestativa. A tarde se passou bem rápido! Seis horas posso ir embora, tendo clientes ou não. Logo que sai do salão em poucos minutos estava no escritório em que Estrela trabalha. Apesar de termos combinado que teria carona para ir e voltar, me senti envergonhada, pois, ela estava nervosa, com as mãos na cabeça e cotovelos apoiados na mesa, experimentei a vergonha, e num pensamento rápido disse que só tinha ido avisá-la que voltaria caminhando. Estrela demonstrou surpresa, e questionou se eu tinha certeza sobre a minha decisão.

— Claro, o fim de tarde está lindo, observe — Apontei para o céu através da janela de vidro.

Estrela sorriu sem mostrar os dentes, parou e ficou olhando para as cores que pincelavam o céu. Por um instante julguei que ela ia abandonar tudo que a prendia naquele escritório, se levantaria e iria embora caminhando comigo, até que o telefone tocou.

— Senhor Antônio. Calma. Já lhe disse que hoje ainda lhe entrego esses documentos. Por favor aguarde! — Aumentou o tom de voz. — Se estou demorando a culpa não é minha, a sua empresa é que é desorganizada, não jogue seus atrasos para cima de mim!

Sem esperar muito tempo no telefone após a sua fala, Estrela desligou o aparelho e fumegou.

— Me perdoe Bia... Ando precisando de férias. — Pronunciou apoiando a testa na mesa, levantou-se e depois sorriu. — Aproveite a sua juventude querida. — Levantou-se, observou o céu pela janela e pronunciou. — Por favor, avise a Júlia que vou chegar em casa tarde hoje.

— Aviso sim. — Respondi simples.

— Vai com Deus Bia. — Desejou enquanto sorria sem mostrar os lábios.

Sai do escritório e realmente pude notar o quanto o céu estava lindo e como Estrela estava infeliz por estar ainda presa a cadeira do gabinete...

Após trinta minutos de caminhada, passei na casa de Júlia, instantes depois prossegui para a minha residência. Estava cansada, Teodora não estava em casa, deixou um bilhete dizendo que tinha ido ao supermercado. Peguei o celular e convidei Júlia para vir até a minha casa. Quando passei na casa dela, notei que ficou triste pela demora de sua mãe, seu pai está viajando então ela ficaria só em seu lar, Júlia estava entediada, havia passado tempo demais, sozinha, queria companhia, então me chamou para ir para a moradia dela, concordei a contragosto, desejava a minha morada, por isso inverti o convite e prontamente aquela danadinha já estava em minha residência, o sorriso dela voltou, estava alegre. Me cobrou a leitura do livro que me emprestou,  a travessa baixou um aplicativo de livros on-line no meu celular. Rimos até tarde, quando Júlia foi fazer companhia para Estrela, sua mãe.

Você é amiga para todas horas, você é quem me mostrou o que era amizade verdadeira. Você é a amiga que me completa, te amo, Julia, minha melhor amiga.