Fine Line

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     Correr sempre me ajudou a pensar, refletir e colocar as coisas no lugar, mas não hoje, não nesta manhã de domingo. Tudo que eu queria era esquecer, colocar a música no fone de ouvido no máximo e levar meu corpo a exaustão. Queria algo que levasse embora toda frustração e raiva que estava sentindo sem motivo.

     Continuei na calçada, respirei fundo, virei a direita em uma esquina, tentei regular a respiração já cansada, cada músculo implorava uma pausa mas neguei, continuei mais uma quadra até que tropecei em algo, uma pedra talvez, não fiz questão de olhar, um lado do fone saiu do lugar e eu me rendi a alguns segundos de descanso, me curvei um pouco, pus uma mão em cada joelho e tentei regular a respiração outra vez.

   Ao levantar a cabeça para olhar ao redor me deparei com minha imagem que estava sendo refletida no vidro de uma vitrine, permiti um pensamento e minha mente viajou para perguntas sem sentido, totalmente aleatórias e desconexas. No que eu trocaria toda minha fortuna? Será que valeu a pena cada sacrifício que eu fiz para chegar onde cheguei?

    Eu poderia dizer que estou orgulhoso de onde eu cheguei, de fato eu estou, sai de uma pequena cidade, de uma pequena padaria, de uma pequena banda com apresentações particulares e me tornei alguém grande ao participar de uma boyband que fez sucesso mundial.  Por um tempo literalmente tive o mundo em minhas mãos.

    Mas para toda vitória, cada luta, cada caminho, sempre tem um preço, eu tenho minha admiração, suportei muita coisa mas me odeio as vezes pelos vários momentos em que fui uma péssima pessoa.

     Tudo que eu fui capaz de fazer, cada coisa importante que tive que abrir mão...

     No início, eu e meus colegas de banda, estávamos cegos, tudo que enxergávamos a nossa frente era os holofotes, o brilhos, os flashes, as câmeras, os prêmios, a fama e o glamour, era nosso sonho, quem poderia nos julgar?

     Estávamos realizando o sonho de nossas vidas, abrindo portas para uma carreira brilhante no futuro .

     Mas cada pequena coisa nos destruía aos poucos sem perceber, cada contrato, marketing, a indústria em si, uma imagem na mídia que nunca condize com a realidade. Porém, e daí? Noites mal dormidas, escândalos, namoros falsos, haters, xingamentos, fake News, o que era tudo isso perto da nossa glória? Estávamos no alto e de lá quem nos tiraria se continuássemos na linha? Era um preço justo, não?

      Não sou uma exceção, era mais um nesse meio que começou dessa maneira, para subir chegar a ser tão baixo. Nesse quesito, somos todos iguais, cada um com seus demônios, cada um com seus sacrifícios, o preço pago pela fama, a falta de privacidade, por uma imagem criada que sempre ficará impregnada, uma imagem que precisa ser vendida.

     Mas um desses sacrifícios, o que deixou a cicatriz mais profunda, mais difícil de cicatrizar, tem nome, sobrenome, um olhar encantador, um sorriso contagiante e o que teve por mais tempo meu bem mais valioso, meu coração. Louis Tomlinson.

      No começo tentamos, juro que tentamos, mentimos nas entrevistas, de início, não negamos que havia algo...

— Vocês podem dar uma resposta vaga quando perguntarem sobre vocês, bromances sempre chamam atenção, é normal, mas que não passe de um shippe fantasioso para verdade, diga que são amigos próximos e logo pararão de fazer essas perguntas" - Nos disseram. 

  Eles ainda não sabiam a verdade. Foi nos dado esse direito ao menos, de enrolar sem dar uma resposta concreta.

 Brigamos algumas vezes, tentamos nos afastar, tentamos uma amizade mas sempre voltávamos  e tentávamos fazer da certo. Cometemos vários erros e disso saímos mais que machucados... Nós saímos destruídos, estraçalhados e mesmo assim insistimos em não nos manter longe, isso é, não por trás das câmeras .

Fine Line ( L.S)Onde histórias criam vida. Descubra agora