Capítulo um

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Hoje o dia está ensolarado, eu gosto do sol que bate em meus braços pouco cobertos, porém o homem carrancudo ao meu lado parece não estar nada satisfeito, sua boca não passava de uma linha fina e os ombros estavam tão rígidos que me imaginei com dores musculares no lugar dele no fim do dia, mas ele não expressava nada. Aquele homem era um saco! Nunca o vi sorrir ou parecer um pouco mais relaxado, ele apenas vive como um robô, até em seu jeito de andar.

—O clima de hoje está bem agradável— Como sempre, tentei puxar assunto enquanto caminhavamos até o restaurante onde teríamos uma reunião

—Não, eu prefiro chuva— Ele responde impassível.

—Claro que prefere

Seu rosto se virou em minha direção porém ele não disse mais nada, eu revirei os olhos por trás de meus óculos escuros aproveitando que ele não podia me ver e reclamar de meu comportamento, eu sem dúvidas preferia dias de sol!
O restaurante chique dessa vez ficava no centro de Seattle, duas ruas depois da empresa grande onde trabalho, por isso viemos andando e não de táxi ou com um dos carros caros de meu chefe como sempre,  porém mesmo com a distância curta, quando me sentei na cadeira da mesa reservada senti que meus pés estavam me matando, mas os sapatos não eram as únicas coisas que me matavam naquele momento, o homem gordo bem vestido que flertava descaradamente comigo não me deixava falar, tentei por vezes explicar os benefícios de assinar com nossa empresa, contudo, o homem sempre desviava o assunto fazendo algum elogio sobre minha roupa ou meus cabelos soltos naquele dia

—A nossa empresa trabalha com pequenos grupos profissionais no caso do pedido que o senhor fez— Falei enquanto abria a pasta escura com os documentos que precisavam ser assinados

—Seus seios descansam muito bem nessa camiseta de seda

Meus lábios gelaram e os dedos tremeram contra o material fino da pasta, eu sabia que aquele tipo de coisa sempre acontecia nas reuniões com pessoas importantes, principalmente com os velhos, mas sempre que acontecia eu me sentia desconfortável ao ponto de querer afundar nas almofadas da cadeira.
Sorri amarelo para o homem e levei o contrato até seus dedos rechonchudos, uma mão grande, porém, agarrou meu braço e puxou meu corpo, me forçando a levantar

—Bom, encerramos por aqui, se o senhor quer assinar, assine, se não procure uma empresa que concorde com seus assédios— A voz irritada do chefe me fez puxar a bolsa do assento, aquilo obviamente queria dizer que iríamos embora —Tenha uma boa tarde.

O homem me puxou para fora do restaurante e meu estômago gemeu em protesto, eu ainda tinha fome! Não pude comer nada do prato bonito e caro que tinha pedido, deus do céu aquele homem era um furacão quando se irritava de verdade

—O que diabos você pensa?Qual é o motivo que faz você aguentar tantos assédios assim, garota?!

Ele praticamente gritou enquanto me arrastava pelas ruas lotadas do centro, eu olhava em volta temendo que algum conhecido me visse naquela situação

—Bem, o salário que o senhor me paga é extremamente bom— Ri baixinho ignorando a irritação que sentia, por que ele estava gritando comigo?Eu nem tinha feito nada—Sem contar que esses almoços são sempre muito satisfatórios

—Freya você é a pessoa mais burra que eu conheço na vida.

Ele nunca me chamava de Freya, apenas de Senhorita Menezes, e eu nunca ouvia ninguém me chamar de burra desde meus doze anos. Dentre todas as pessoas que poderiam me ofender ele foi a pior, pois eu sabia que quando aquele homem dizia algo, era porque ele realmente achava que estava certo. Eu como sempre não disse nada

—Viu só o que você aguenta? Tudinho por um salário?!

—Qual é, o senhor nem sabe de nada já que antes de ter uma empresa, já veio de uma família rica—Minha voz saiu um tanto irritada, os lábios formando um bico e a testa enrugando, meu chefe era o homem mais rude do mundo, eu o odiava tanto que poderia explodir.
Ele continuou caminhando e me arrastando em silêncio, até que quando estávamos quase em frente ao trabalho mais uma vez, sua voz reverberou por meus ouvidos com a frase mais assustadora do mundo:

—Seja minha noiva.

—O QUÊ?!

Gritei e finalmente puxei meu braço de seu apertão que me guiava, algumas pessoas em volta olharam, mas aquilo não era o bastante para fazer alguém parar e prestar atenção, as pessoas estavam sempre correndo em seus curtos horários de almoço.

—Merda, eu falei errado...Não nesse sentido, não entenda errado. Eu quero dizer tipo, seja minha noiva, eu pago!

PIOROU!


Seja minha noiva. Eu pago Onde histórias criam vida. Descubra agora