《01》

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-- Devaneios. Pensamentos. Inspirações. Expiração. Ansiedade. Medo. E de repente estou afogada. Não sei o que fazer. O que pensar. O que falar. E por um momento meu corpo entra em um estado analgésico. Apenas um momento. E novamente devaneios, pensamentos...

-- é assim que se sente mesmo, haonne? -- disse laura, com seus cachos dourados.

-- sim, ue. Eu acho que sim.

-- este é seu problema haonne. Você sempre acha. Sempre.

(...)

Fui pra casa com aquelas enigmáticas palavras ecoando na minha cabeça. Se existia alguém que conseguia mexer comigo assim, era laura, minha psicóloga. Tenho feito terapia desde outubro. Desde que aquilo aconteceu. Todos da vizinhança passaram a me olhar estranho. Nunca me importei com aqueles malditos vizinhos mesmo, eles só sabem falar e falar. Mas tinha alguma coisa naquele olhar, na forma que eles agiam que me deixava desnorteada. Tanto que eu já me questionei sobre minhas próprias verdades.

-- você demorou. -- ouço a voz rouca ecoar a sala -- por quê?

Virei meu corpo, que estava na porta, em direção à sala. Visualizei minha mãe sentada em sua poltrona de couro desgastada. Como sempre, fumando.

-- passei nos trilhos... -- ela me lançou um olhar nocivo e levantou a sobrancelha, como se precisasse de mais. -- ...me ajuda a pensar... -- continuo com o olhar tenebroso -- ...sozinha.

Não quis dar mais detalhes e subi as escadas, correndo pelos degraus. Desde que laura disse que ela precisava se aproximar de mim, ela meio que confundiu isso com me espiar o dia todo.

Entrei no meu quarto bagunçado ainda com as coisas que laura me disse. O que me dói é pensar que realmente eu acho tudo, não tenho certeza nada. Não tenho opiniões concretas. Até sobre o que sou, eu acho. Talvez eu fuja dessa cidade igual a esses doidos do instragam em busca do meu verdadeiro eu. Mas... e se o que eu sou for uma merda? Sei lá... pensar da preguiça. Dou play na minha playlist e deixo-me distrair. Música me acalma.

(HELLO - clairo)

(...)

Levanto minha cabeça que antes estava encostada nos meu joelhos. Que droga é essa?
Olho ao redor e estou numa...floresta? Há rosas, girassóis, tulipas, margaridas, magnólias e qualquer tipo de planta bonita, tanto faz.
Levanto em um só pulo, desperada e... perdida?
Aqui nada é parecido com o que eu estou acostumada a ver. Já é dia, os raios de sol que se atrevem a atravessar o mar de folhas brilham de maneira quase angelical. O vento balança as plantas fazendo algum tipo de música, e isso lava a alma de um jeito...

"Ok, preciso parar de me distrair". Olho para mim mesma e estou com um vestido vintage que chega até o meio das coxas. Era branco, ombro a ombro e lindo. Original, eu diria. Aceito que estou sonhando finalmente quando o mar de borboletas me atacam. São azuis. São lindas! Ela me rodeiam e algumas se atrevem a parar em cima da minha coroa de flores, que é alva como nuvem.

Fico encantada com tamanha beleza. Se o céu que os cristãos falam for assim, eu viraria cristã nesse exato momento. Tudo é belo, único, extraordinário, eu viveria aqui para sempre. Quando de repente, uma das borboletas me chamou a atenção na multidão. Elas já se dispersaram um pouco, mas são muitas. E eu senti uma atração misteriosa vindo diretamente de uma. Comecei a segui-la com o olhar. Mas isso não era... impossível? Eu não conseguia vê-la, não conseguia diferenciar ela na multidão. Mas eu olhava para um ligar fixo e de repente sabia. Sabia que ela estava lá.
A borboleta azul se distanciou do resto, indo ao mar de árvores verdes. E eu a segui. Sim, eu sei. Ideia meio estúpida. Eu poderia ficar com todas as milhões de borboletas, mas eu ir encontra-la foi quase um ato impulsivo. Como se eu estivesse possuída por algo obcecado por aquela borboleta.

Eu me senti livre para ir atrás dela. Os galhos no caminho me arranhavam e nos meus pensamentos: as borboletas que eu estaria "abrindo mão". Mas algo naquela em espécie chamou tamanha atenção que as trocentas flores azuis voadoras pareciam tão comuns, tão normais.
E, depois de passar pelo paredão de árvores gigantes, chego em uma praia. É bela. Permito-me admirar por uns segundos. Me ajoelho, enfio as mãos na areia. Ela é tão macia. O mar parece tão amigável. Eu tenho medo do oceano, mas esse não me assuta. Esse faz eu me sentir acolhida.

Estou numa ilha, certo? Certo. Olho ao redor e meu olhar se cruza com os da borboleta. Meu Deus... mesmo sem compara-la com as outras ela parece tão incrível. Enigmática. Oh céus, ela é esplêndida. Voa em toda a sua glória. Ela parece dançar junto da ilha. Tudo se movitando igual, em plena harmonia.

Ela começa a me rodear. Me sinto tão inocente e nobre. Como sei lá, um bebê ou um animalzinho. Ou talvez um rei.

-- haonne.

Escuto a meu nome nessa voz angelical suavemente. Isso é mágico. Essa voz me faz estremecer e me pego dando risadas. Cara, isso é muito melhor do que as drogas que o pablo me vende.

-- HAONNE!

ok, não é a mesma voz. Essa é a voz da minha mãe. Uma onda de sobriedade invade meu corpo.

-- haonne, eu não quero ter que falar de novo!

(...)

Ok, era minha mãe. Tudo foi um sonho. Mas o sonho foi incrível. Ainda estou com esse sentimento doce em mim. É maravilhoso.
Não quero que vá embora nunca.

All You Need Is LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora