《02》

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O som horripilante do despertador era extremamente escandaloso. Só me fazia acordar estressada. Aliás, eu sempre acordava estressada. Pensando bem, não era culpa do despertador.

— Haonne, se você não aparecer naquela escola novamente eu juro que eu te mato!

Ok, não era culpa do despertador. Mas talvez minha mãe seja responsável por uma grande parcela do meu estresse. Levantei por pura obrigação, tentando enxergar através das brechas do meu cabelo, que estavam na minha cara. Andando igual a uma doente, consigo chegar no banheiro. A primeira vez que você se olha no espelho quando acorda é com certeza o maior choque. Você percebe que parece que você foi agredida durante a noite. Meu Deus, o que aconteceu comigo? Não é hora de criticar minha aparência, a mídia já faz isso suficiente bem. Hora de agir.

(...)

Agora estou em direção à escola, olhando pela janela e com meus inseparáveis fones de ouvido. Quando foi que a senhora Simpson ficou com tantos filhos? Sério, ela nem tem namorado. O marido morreu faz cinco anos e ela continua tendo crianças, como um coelho. E quanto à o Sr. Brooke? quando ela vai parar de bancar o “cidadão de honra"? Todos sabemos que ele trai a esposa. Ah... será que ele a trai com a senhora Simpson?

Rio dos meus próprios pensamentos. Céus, quando eu virei este tipo de fofoqueira? Eu estou parecendo a moça da casa 19°. A graça logo acaba quando minha mãe puxa meus fones. Me encara com uma olhar estranho, não de curiosidade, mas sim de “você-tem-a-obrigação-de-me-dizer".

— podcast de piadas, só isso. — digo, antes que ela tenha a chance de perguntar qualquer coisa. Puxo meus fones da mão dela sutilmente. A música “bel air" de Lana Del Rey precisa ser apreciada.

A viagem segue normalmente. Os arbustos no caminho me ajudam a pensar. O fato de eles não serem os mesmos amanhã e não os mesmo de ontem me lembra de que tudo é passageiro. Nada é para sempre. Tudo perece. Ainda há dúvidas para mim. Seria isso bom?

Nosso carro para em frente à escola. Desço e olho em volta. Se não fosse meus amigos eu estaria perdida. Todos aqui são tão escrotos, tão hipócritas. É como se eu estivesse vivendo na idade média. No caso, eu seria a acusada de bruxaria que apenas fez um chá.

— não precisa me buscar. Vou com Victoria. — digo e me afasto do veículo. — a mãe dela irá nos dar carona.

Ando pela grama da estrada desse hospício. Quase parece normal. Até que paro para olhar minha mochila. A tática que uso para saber mamãe já se foi. Não, o carro da minha mãe não esta aqui. Nesse caso, foda-se. Viro meu corpo totalmente e começo a a andar na direção contrária. Segunda feira era o dia em que nós quatro sempre íamos vadiar, pois não tínhamos nenhuma aula juntos. Andávamos de skate, as vezes íamos ao shopping comprar algo, ir ao rio, um rolê no drive. Sempre inventamos algo. Por eu ser do clube da biblioteca, tudo sempre dava
certo. Eu nunca me ferrava por isto.

Fui chegando perto do grupinho. Victoria sempre com seus vestidos colados. Essa garota saiu do Pinterest! Pablo era o mais enérgico. Não importa o assunto, Pablo sempre tinha uma história para contar. Era oficialmente o mentiroso do grupo. Amy sempre com sua risada inconfundível e tranças. As de hoje eram box braids brancas, e ela esta linda. E eu, bom, eu era só eu mesmo. De longe eles pareciam ter saído de woodstock.

— olá! Onde nós vamos hoje? — joguei minha mochila na grama — seu cabelo está lindo, emma.

— e eu adorei as suas ondas. — eu me ajoelhei perto do grupo para ficar mais perto. — e o destino de hoje que sabe é apenas Pablo.

— Isso mesmo! — exclamou Pablo — hoje vamos para um lugar melhor.

(...)

— Pablo, caralho, é sério?
Pablo nos fez entrar pelos fundos do shopping que ficava perto do aeroporto. Subimos escadas, entramos em portas restritas, um verdadeiro labirinto. Para o que? Essa vista. Meu Deus, é magnífico. Estamos no topo do prédio e a visão é direto para o aeroporto. Estamos altos e não da para ver todas as casas. Apenas os aviões e o céu.
A tarde está linda, me sinto abençoada.

— Como você descobriu isso? É incrível. — disse Amy.

— Ah, vocês não estão falando com qualquer pessoa.

Ignorando o elevado nível de narcisismo de Pablo, fiquei muito animada para contar meu sonho. E quando comecei, fui interrompida.

— tenho outra coisa aqui pra vocês. —  Pablo levou sua mão até seus bolsos, retirando pílulas.

— Credo, o que é isso? — Victoria respondeu.

— Uma coisa nova, James me deu. — olhamos ele estranho, sabíamos a qualidade da pessoa do James — eu sei, eu sei, James não é confiável. Mas gente, isso é muito pesado na primeira vez que entra em contato com seu corpo. Por isso que quando for usar, tem que estar em casa, em um ambiente seguro. Cara, eu vi coisas que vocês não vão acreditar. Pude jurar que zumbis queriam meu cérebro, mas só uma parte específica onde eu lembro de todas as minhas punhetas.

— bom, pelo visto o zumbi comeu todo o seu cérebro — eu disse rindo.
Pablo me olhou. Me encarou por segundos. Até que passou a pílula de uma mão para outra e exclamou:

— se é tão fodona, porque não experimenta?

— não tenho partes no cérebro onde guardo memórias das minhas masturbações, sinto muito.

(...)

Na volta pra casa, fui o caminho todo conversando com Victoria assuntos diversos. Nos conhecemos desde pequenas, intimidade é o que não falta. Me sinto confortável para falar desde meus casos, até sobre estar mal da barriga depois de comer muita pizza.

O resto do dia eu procrastinei. Ou não, depende do ponto de vista. Analisar os álbuns novos para poder ter uma opinião formada sobre conta como atividade? Se sim, ótimo.

(...)

Depois de tudo pronto para dormir, comecei a pensar no sonho anterior. Aquele lugar me tocou, algo ali me tocou, aquela borboleta azul me tocou. Aí esta o motivo pelo qual os ricos amam paraísos tropicais. Ouvi Elon arranhar a porta. Essa gata não decide se fica dentro, ou fora do quarto. Me levanto e abro a porta. Espero uns minutos e acontece o que eu sabia que aconteceria. Elon andou entre minhas pernas, miou, choramingou, até que decidiu que minha companhia não era o suficiente pra ela e foi embora. O show da dona dessa casa me tirou o sono, então fui até a mesinha do quarto pesquisar coisas que andam martelando minha cabeça.

Primeira pesquisa: “ilha". Okay, aberto demais. É óbvio que não vou encontrar. E “ilha-tropical"? Não, Não irei achar. “ilha-tropical-linda-magica"? Meu Deus é óbvio que eu não iria encontrar. Desisto. Nunca vi nada igual a aquele lugar. É claro que o Google não iria me ajudar.

Mas o Google sempre tem tudo...

“O-que-significa-sonhar-com-ilha pesquisar”

Significa que preciso ter mais cautela no meio profissional? Esperava mais, mas tudo bem, começarei a frequentar nas segundas. Deito-me para dormir. Já existiram dias piores. Gostei do rolê com meus amigos hoje.  E é lembrando das piadas que Pablo soltou hoje, que adormeço.

(...)

𝐿𝑒𝑣𝑎𝑛𝑡𝑜 𝑚𝑖𝑛ℎ𝑎 𝑐𝑎𝑏𝑒𝑐̧𝑎 𝑑𝑜𝑠 𝑚𝑒𝑖𝑜𝑠 𝑑𝑜𝑠 𝑗𝑜𝑒𝑙ℎ𝑜𝑠. 𝑉𝑖𝑟𝑜 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑐𝑖𝑚𝑎. 𝐴 𝑐𝑙𝑎𝑟𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑚𝑒 𝑖𝑛𝑐𝑜𝑚𝑜𝑑𝑎. 𝐷𝑒𝑖𝑥𝑒𝑖 𝑎 𝑙𝑎̂𝑚𝑝𝑎𝑑𝑎 𝑙𝑖𝑔𝑎𝑑𝑎 𝑜𝑛𝑡𝑒𝑚? 𝑂𝑢 𝑠𝑒𝑟𝑎́ 𝑚𝑖𝑛ℎ𝑎 𝑚𝑎̃𝑒? 𝑅𝑒𝑠𝑜𝑙𝑣𝑜 𝑎𝑏𝑟𝑖𝑟 𝑜𝑠 𝑜𝑙ℎ𝑜𝑠. 𝐸 𝑙𝑎́ 𝑒𝑠𝑡𝑎̃𝑜 𝑒𝑙𝑎𝑠. 𝐴𝑠 𝑜𝑟𝑞𝑢𝑖́𝑑𝑒𝑎𝑠, 𝑎𝑠 𝑚𝑎𝑔𝑛𝑜́𝑙𝑖𝑎𝑠, 𝑎𝑠 𝑚𝑎𝑟𝑔𝑎𝑟𝑖𝑑𝑎𝑠 𝑒 𝑡𝑜𝑑𝑎𝑠 𝑒𝑙𝑎𝑠. 𝐴𝑠 𝑏𝑜𝑟𝑏𝑜𝑙𝑒𝑡𝑎𝑠 𝑡𝑎𝑚𝑏𝑒́𝑚 𝑒𝑠𝑡𝑎̃𝑜, 𝑒 𝑒𝑠𝑡𝑎̃𝑜 𝑚𝑎𝑖𝑠 𝑏𝑒𝑙𝑎𝑠 𝑑𝑜 𝑞𝑢𝑒 𝑛𝑢𝑛𝑐𝑎. 𝐴𝑠 𝑎́𝑟𝑣𝑜𝑟𝑒𝑠 𝑑𝑎𝑛𝑐̧𝑎𝑚 𝑐𝑜𝑛𝑓𝑜𝑟𝑚𝑒 𝑠𝑎̃𝑜 𝑜𝑟𝑞𝑢𝑒𝑠𝑡𝑟𝑎𝑑𝑎𝑠 𝑝𝑒𝑙𝑜 𝑣𝑒𝑛𝑡𝑜. 𝑄𝑢𝑎𝑠𝑒 𝑚𝑒 𝑒𝑠𝑞𝑢𝑒𝑐𝑖 𝑑𝑎 𝑝𝑎𝑧 𝑞𝑢𝑒 ℎ𝑎́ 𝑎𝑞𝑢𝑖... 𝑀𝑎𝑠, 𝑎𝑙𝑔𝑢𝑒́𝑚 𝑡𝑎𝑚𝑏𝑒́𝑚 𝑒𝑠𝑡𝑎 𝑎𝑞𝑢𝑖.
...𝑢𝑚𝑎 𝑔𝑎𝑟𝑜𝑡𝑎?

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⏰ Última atualização: Aug 04, 2020 ⏰

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