Conto Número Um

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          Me contento em não estar louco. Olho pela janela e nada mais vejo do que os reflexos de uma mente há muito esquecida, o dia ou a noite lá fora não importam mais, a resposta é sempre a mesma.

          Inquieto, repleto de desejos e paixões arrasadoras, no entanto, nem eu nem minha própria consciência conseguimos diferir tal como real e tal como criação inoportuna, a realidade não se faz melhor e, por isso, se é esquecida.

          Um trem carregado de aço atravessa todo o meu corpo, produzindo um som ensurdecedor, ou são somente as batidas na porta. Me contento em não estar louco. Subo na cama como se para o pulo final, mas me estanco no parapeito. A vida passa como um bater de asas de uma borboleta, e cada batida produz um som ensurdecedor.

          Me contento com a solidão, todavia, deixar minha mente vazia seria um afronte a todas as suas capacidades. Procuro algo mas não me recordo, meu quarto já não é mais o mesmo desde semana passada. Ocupo minha mente com pensamentos, porém, incontroláveis, me dominam como uma aranha fisgando uma borboleta para o jantar, suas asas já não batem, mas o barulho permanece. Me contento por meus pensamentos não estarem loucos.

          Quanto mais eu pergunto, menos escuto, "sua voz esta ficando fraca meu amor". Finalmente encontro, meu pente , o retoque final, é como olhar para um espelho, diferenciando somente no desespero dos olhos, os meus tem mais.

          O chão em vermelho escarlate, a batida do trem, o desconhecido lá fora, AHH. Estou cheio, cada vez mais cheio. A pergunta vibra novamente, mas estou farto dela, já não basta a ver escrita nas quatro paredes do quarto.

          "Os convidados estão quase chegando amor". Sem resposta. Seu cabelo ficou realmente lindo depois do retoque, me contento em...

          O resto é uma sucessão de eventos, não lembro bem quando me libertei, somente alguns vultos negros rasgam minha memória, os salvadores da pátria. No entanto, não conhece tamanha felicidade ao ver aquela complexa questão, que me arrastara por anos, tão simplesmente respondida: ATÉ QUANDO? E foi assim, assim que me libertei, juntando o meu escarlate ao de meu amor no quarto, até quando? Até limparem o chão.

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⏰ Última atualização: Aug 02, 2020 ⏰

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