Recaídas da depressão e da automutilação

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Dia 16 de julho completou 7 meses desde a última vez que eu havia me cortado. E então, eu estraguei tudo. Como sempre faço.

O pior é que nem os cortes aliviam mais minha dor. Como se eu, de alguma forma, estivesse fazendo-os errado. Sinto que perdi a única coisa que me ajudava. Mas talvez eu tente de novo.

Estou cansada de me sentir assim. Incapaz. Completa e profundamente incapaz. Eu não consigo me concentrar. Eu não sei mais o que eu quero. Talvez eu não queira nada. A todo momento me sinto inútil e meu cérebro me diz que "não vou conseguir mesmo".

Sinto falta da minha família. Sinto que estou perdendo os momentos com meus sobrinhos por nada. Sinto que sou egoísta por estar longe deles. Ao mesmo tempo, acho que se eu estivesse em casa poderia ser pior. Eu não sei.

Minha irmã, ontem, percebeu que eu voltei a me cortar. Não consigo mentir direito para ela. Achei que ela fosse ficar zangada e triste comigo, mas, aparentemente, não. Ela deve ter ficado chateada, claro, mas foi bem acolhedora, como sempre. Eu a amo mais do que qualquer coisa nesse mundo. Sinto-me tão mal por não conseguir ficar bem por ela, por ser motivo de tanta preocupação, por tirar o sono dela tantas noites.

Eu me odeio tanto às vezes que poderia entrar em combustão. Fico pensando qual o sentido disso tudo, mas acho que nunca vou achar uma resposta. Eu só estou tão cansada, é tão debilitante sentir tanto a todo momento. Eu acordo me sentindo mal e durmo me sentindo mal. Estou tentando disfarçar, mas é tão difícil agir como se estivesse tudo ótimo, quando, na verdade, você está desmoronando.

Mas tento fingir que está tudo bem, na esperança de que eu mesma acredite. O problema maior é que eu não sei exatamente porque não estou bem. Parece que eu sou uma farsa, que finjo tudo, que crio situações que não existem, que faço tempestade em copo d'água, que na realidade não tenho nenhum problema e sou apenas uma vadia em busca de atenção. Mas tudo dói tanto, os piores momentos são quando eu vou dormir, porque penso em tudo que fiz de errado, e quando eu acordo, porque percebo que é mais um dia em que me sentirei miserável.

Eu não sei se tenho amigos reais. Parece que sou a última opção de todos. Mas tudo bem. Pelo menos tenho minha família. Não sei o que seria de mim sem eles. Apesar disso, eu continuo os decepcionando constantemente. O que é irônico, pois só estou vivendo ainda por eles, porque eles não merecem essa dor. Então eu tento aguentar a minha própria para não causar estrago maior.

Aquele dia 6 de dezembro foi, no mínimo, bizarro. Eu lembro só de algumas coisas de relance. Lembro que, logo quando acordei, eu ri. Ri porque não consegui nem me matar. Então eu tentei levantar, mas não conseguia ficar em pé, acho que caí no chão e minha sobrinha me ajudou a ficar em pé. Lembro, também, que minha mãe ficou gritando e perguntando o que eu tinha tomado, eu só balançava a cabeça e dizia que nada. Acho que caí de novo.

Minha irmã me levou para o hospital. Quando a gente chegou na entrada ela falou com o vigilante e começou a chorar. Eu me senti um lixo, uma egoísta. Ele falou pra ela ficar calma, que eles iriam fazer não sei o que e que eu iria ficar bem, "você sabe que ela vai ficar bem", ele disse. Eu não lembro do rosto do médico nem do que ele falou, mas depois minha irmã me contou que ele disse que eu tive sorte (azar, eu diria) de não ter morrido depois de tomar duas cartelas inteiras de Rivotril.

Lembro que, antes de colocar os comprimidos na boca, eu chorei muito e pedi perdão para Deus e para minha irmã. Mas eu percebi que se ficasse pensando demais não iria conseguir fazer, então eu apenas fiz. Desliguei a internet do meu celular, escrevi uma mensagem de adeus para minha irmã e para a pessoa que eu namorava. Se eu acordasse na manhã seguinte, apagaria as mensagens, caso não, contei com a sorte de que alguém ligaria o Wi-Fi e minhas mensagens seriam enviadas.

Quando a gente saiu do consultório, duas amigas da minha irmã esperavam lá fora com uma maca pra mim. Uma moça colocou soro em mim, quando o fez, ela viu uns cortes no meu pulso e falou que a sobrinha dela também fazia isso, acho que minha irmã respondeu alguma coisa. Eu ficava dormindo e acordando. Apareceu um homem lá perto e ficou tentando puxar assunto comigo, mas eu estava muito grogue para conseguir verbalizar algo com sentido. Ele perguntou o porquê de eu estar lá e eu disse que tinha tomado uns remédios e apaguei de novo.

Depois de um tempo, minha irmã falou que já podíamos ir. Quando eu cheguei em casa, fiquei dormindo muito por uns dias. Passei muito mal. Vomitei, tive coceira, senti muita tontura e dor de cabeça.

Não me lembro de nada disso com clareza. Apenas algumas cenas que minha mente vai encaixando em uma narrativa. Depois de tudo isso, eu resolvi que queria tentar melhorar. Talvez essa fosse uma segunda chance. E por um tempo, eu consegui. Parei de me cortar, comecei a ficar mais com a minha família, me senti bem ao ponto de achar que nem precisava mais tomar meus antidepressivos.

Agora, no entanto, estou aqui de novo. Não no mesmo lugar, mas voltando aos velhos hábitos. Eu quero morrer, mas não quero me matar. Se eu morresse por algum motivo qualquer, seria um baque pra minha família, eles iriam ficar de luto por um tempo, sentiriam minha falta, mas diriam que eu estaria em um lugar melhor e conseguiriam superar. Mas se eu me matasse, estaria matando-os também, iriam se culpar, achariam que não me ajudaram o suficiente, que minha alma ficaria vagando e que eu nunca encontraria paz, e talvez nunca me perdoassem.

Então me encontro presa a essa realidade dolorosa, porque os amo o suficiente pra "suportar" qualquer dor. Meu jeito de enfrentar isso pode não ser o mais saudável, mas é o que funciona para mim. Ou, pelo menos, funcionava.

Agora vou dormir e acho que não vou me cortar essa noite.

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⏰ Última atualização: Aug 02, 2020 ⏰

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Desabafos de uma garota depressivaOnde histórias criam vida. Descubra agora