I - O grito da morte

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O céu estava cinzento escuro, sem um único raio de luz que atravessasse as nuvens carregadas de água que o cobria por completo. Uma ligeira brisa soprava e a trovoada começava a fazer-se sentir. Um bando de abutres voava em forma circular em sentido oposto dos ponteiros do relógio e entre os gritos de agonia e o barulho de metal contra metal, um capacete prateado aparece voando, seguindo-lhe um rasto de líquido avermelhado escuro. Ao cair no chão, vai rolando lentamente até ao que pareciam ser uns pés calçados por umas botas do mesmo tom de cor. Da sua base, jorra em grande quantidade o mesmo fluido que antes lhe acompanhara , aparecendo também o que se assemelhavam ser finos trechos de carne misturados com tendões. Olhando de perto, por entre o orifício em formato de cruz cristã do elmo, apareciam dois olhos humanos. Olhos semi abertos , de escleras encarnadas e baças . Não era apenas um capacete vazio, mas sim uma cabeça humana degolada que residia em seu interior.
- Por amor de Deus! Mas que merda estão a fazer? Matem-no já! É apenas um miúdo, porra! - gritava um homem com voz grossa e abafada, enfeitado com uma cabeça de touro metalizada.

- Capitão... - diz um dos soldados quase sem fôlego – não é um miúdo qualquer, ele é um Apó...Arghhh!

Sentiu-se um pequeno grunhido e antes de o soldado terminar sua sentença uma lança a toda a velocidade atinge-o no pescoço perfurando o seu capacete de um lado a outro. O homem foi caindo vagarosamente em frente ao seu capitão ficando a espernear durante alguns segundos e retorcendo-se agarrado com as duas mãos à garganta com a enorme trave de madeira atravessando-lhe a goela. O sangue saía-lhe de repuxo, como sequela fazendo uma enorme poça no chão, até eventualmente a vítima do projétil ficar pálida como cal e totalmente imóvel. O comandante das forças manteve a sua postura, olhando em frente como se nada tivesse acabado de acontecer diante dos seus olhos. Pausadamente levou o braço direito atrás das suas costas e com a mão agarrou um punho de madeira que lá repousava.

- Cambada de inúteis. - À sua volta estavam dezenas de soldados mortos no chão. Uns degolados, outros desmembrados e até um cortado a meio, com seus intestinos visíveis que saíam do seu abdómen. Os poucos que ainda estavam vivos faziam um cerco circular à volta de algo, ou alguém .

- Gran...grandessíssimo filho de uma égua! Pe..pensas que sairás daqui vivo? - O soldado dirigia palavras obscenas e ameaçava alguém , com suas mãos trémulas segurando a sua lança. - Traidor! Rende-te imediatamente! - gritava outro soldado de armadura prateada, embora este com mais convicção e disfarçando melhor um certo medo.

- Tshhh... - No centro do cerco estava apenas um jovem rapaz de estatura média. Olhos azuis de um azul intenso e penetrante com cabelos castanhos compridos, quase roçando o preto, que desciam e pousavam suavemente em seus ombros. Dada a má distribuição da sua fraca barba e ausência dos traços do tempo em seu rosto , aparentava ser ainda um adolescente.

Sua armação diferia completamente à dos outros soldados que o cercava em termos de aparência e muito provavelmente as matérias primas que lhe deram vida seriam muito diferentes também e de qualidade superior. Não era de uma cor prateada e desgastada, mas sim dourada e reluzente, como nova em folha. Contrastando com a sua, as armaduras segmentadas de seus adversários eram bastante simplistas, quase vergonhosas em comparação. Apesar de suas cabeças e troncos minimamente protegidos por ferro ou mesmo aço, seus antebraços se encontravam ao descoberto com suas mãos e seus membros inferiores apenas escudados por uma breve camada de couro por cima de umas calças de tecido vermelho, fazendo relembrar um pouco as saias dos legionários do império romano. O mesmo não se parecia aplicar à que o jovem trajava, pois esta, feita de placas, chamava a atenção de qualquer um quer pela sua cor, quer pela sua beleza, transmitindo também uma sensação de maior durabilidade. Em seu peito e diferenciando-se do encarnado estampado no tórax de seus opositores, estava gravada uma esbelta cruz cristã negra que lhe enfeitava a parte frontal de sua armação toda em titânio dourado, cravada em suas arestas pedras preciosas, mais concretamente diamantes. Suas costas estavam cobertas por um manto com capuz, que à semelhança do crucifixo retratado no seu peito era também de cor preta e no seu centro residia um brasão de formato simplista, com linhas amareladas que davam forma a um escudo colorido apenas pela cor de sua capa. No seu centro residia exclusivamente o mesmo formato de cruz cristã que residia em seu peito, tal como em todos os outros homens que lhe rodeavam. Quase no final da vestimenta podia ler-se as palavras "Crux Sacra sit mihi lux".

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⏰ Última atualização: Aug 05, 2020 ⏰

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