EXISTE ALGUMA COISA VAGANDO PELO PANTANAL MATOGROSSENSE

12 0 0
                                    


Eu herdei uma porção de terras com 50 Hectares e 350 cabeças de gado do meu pai que faleceu recentemente. Esse lugar era o motivo de sua alegria e orgulho.

Quando eu ainda era pequeno, ele me contava histórias sobre os pioneiros da nossa família que colonizaram esse lugar, no passado, nos tempos em que nosso país sequer era uma república ainda. Eu sempre fiquei maravilhado com as descrições detalhadas que eram dadas pelo meu pai e meu avô, acho que sempre tive um fraco por esse tipo de história.

Naturalmente, meu avô morreu há algum tempo, deixando a propriedade com meu pai. Nos mudamos para a fazenda com minha mãe e duas irmãs mais novas, Ângela e Sofia. Nossa infância foi a típica infância quando se cresce no meio rural. Meu pai me acordava ás 4:30 para ajudar a alimentar as vacas, galinhas e outros animais que criávamos. Minhas duas irmãs eventualmente cresceram e tiveram que começar a ajudar também, mesmo assim ainda eram tratadas como as duas princesinhas, enquanto eu, quando cometia algum erro, geralmente era punido de maneira exemplar, que iam de apanhar com um cinto até passar a noite sem janta. Mesmo quando isso acontecia, minhas irmãs davam um jeito de me passar comida sem ninguém perceber, enquanto minha mãe tentava justificar o motivo pelo qual somente eu recebia castigos. Acho que... Agora que sei o que sei, entendo o motivo pelo qual meu pai sempre foi mais duro comigo.

Nós tínhamos alguns ajudantes na fazenda, eu me lembro que uma das pessoas com quem eu mais gostava de trabalhar era um senhor de cabelos brancos chamado Sebastião. Ele tinha uma barba enorme e parecia ser o vaqueiro genérico que sempre se imagina ao pensar nisso, usando chapéu, botas e etc. Ele SEMPRE tinha um cigarro na boca e me contava histórias dos Índios nativos dessa região, que viviam aqui muito antes da chegada do homem branco. As histórias sempre envolviam monstros, espíritos vingativos ou uma espécie de maldição. Meu pai não gostava que ele me contasse essas histórias, pois não eram poucas as noites em que eu tinha pesadelos por causa delas. Mesmo assim, eu nunca desejei parar de ouvi-las.

Eu nunca experienciei nenhum tipo de evento "paranormal", a única coisa que me vem á memória na qual eu fiquei completamente abismado, foi quando o meu pai e eu encontramos uma vaca completamente mutilada, com seu corpo pendurado entre os galhos das árvores. Não era incomum que se encontrasse algum animal morto aqui e ali, mas a maneira como seu corpo foi encontrado ainda me dá calafrios até hoje.

Meu pai estava me treinando para assumir a fazenda quando eu fosse mais velho, mas na minha adolescência, eu tive planos diferentes. Eu cursei direito e acabei passando em um concurso para a o Ministério Público do Paraná, onde atuaria como promotor de Justiça. Isso irritou tanto o meu pai, que quando eu disse que me mudaria de casa, ele me disse para nunca mais colocar meus pés lá. Foram palavras duras, mas eu já estava acostumado. Eu ainda mantinha contato com minha mãe e minhas irmãs.

Sendo um Promotor de Justiça do Paraná, eu tinha uma rotina bastante agitada, considerando as várias ameaças de morte que alguém desse ramo recebe por conseguir a condenação de algum traficante ou criminoso violento, mas considerando tudo... Minha vida era muito boa. Eu tive um caso bastante famoso onde prendi o prefeito de uma cidade do interior que estava sendo acusado de corrupção e lavagem de dinheiro. Meu pai me ligou quando o caso repercutiu na mídia nacional. "Filho, tenha cuidado e volte pra cá inteiro", ele me disse. Foi a única ligação que recebi do meu pai.

Nesse período eu conheci minha esposa, Katarina e tive dois filhos com ela: Pedro e Stephanie. Eu confesso que poderia ter sido mais presente, por causa da minha rotina e da constante necessidade de viajar por dias, devido ao meu cargo público.

Pouco tempo depois, eu recebi a notícia de que meu pai estava com câncer no estágio III. Eu fiz as malas com minha família e peguei uma licença do serviço para poder estar com meus pais no Mato Grosso. Passamos as últimas horas do meu pai ao seu lado. No fim de tudo... Nós nos entendemos. Conversamos sobre as coisas loucas que já vimos e sobre como ser um pai era bem mais difícil do que parecia.

Tem alguma coisa vagando pelo Pantanal MatogrossenseOnde histórias criam vida. Descubra agora