- Não me parece nada educado da sua parte.
Fechei os olhos, respirei fundo e contei até três lentamente. Não era como se eu sempre perdesse a paciência, mas dessa vez, estava um pouco fora do meu alcance manter a calma.
Antes de finalmente entrar de férias, pensei em diversos momentos o que poderia fazer diferente dessa vez. Depois de passar praticamente o ano inteiro trabalhando, cada pedacinho do meu corpo pedia um momento de descanso. Me formei em jornalismo sem intenção alguma de seguir carreia na televisão, apenas os bastidores me interessava, até que fui convidada para ser âncora de um repórter em TV aberta, mas com um tempo, passei a apresentar realitys em canais fechados. Todas as férias, eu pegava minhas filhas e íamos viajar para qualquer lugar onde houvesse parques ou qualquer outra coisa que prendesse a atenção delas e assim eu podia ter um momento só pra mim . Pela primeira vez, tive a ideia de ir para um lugar onde eu pudesse me divertir também, e com a ajuda de Manu, minha melhor amiga, decidi ir para Porto Seguro, na Bahia. Manu era cantora e estava também entrando de férias, precisava de um tempo para descansar. Conseguimos um hotel fazenda que tinha uma programação de colônia de férias e eu deixava as meninas lá para buscá-las de volta apenas ao anoitecer.
- Eu não quero ir hoje! - Gritou a menina com os olhinhos fechados.
- Ótimo. - Disse sentando-me no chão terminando de colocar as meias nos pés gordinhos da outra garotinha que nos olhava confusa. - Você precisa falar o que quer, não fazer birra ou jogar coisas na sua irmã. Desse jeito, não consegue nada.
- Desculpa.
Continuei concentrada no que fazia ainda respirando fundo. Minha vida sempre foi cheia de surpresas, mas com certeza, casar e ter filhos cedo sempre esteve nos meus planos. Meu primeiro e único casamento teve um total de zero momentos conturbados. Henrique sempre foi um bom namorado, noivo, esposo e pai. Sempre gentil, educado, carinhoso e respeitador. Um verdadeiro cavalheiro. Mas a vida não costuma me entregar coisas boas sem depois tirar de mim, e o que era para ser o melhor dia da minha vida, tornou-se o mais triste. Enquanto estávamos a caminho do hospital para o nascimento da nossa filha mais nova, um senhor dirigindo um caminho na contra-mão bateu em nosso carro. Só estávamos eu e Henrique no carro, ele sobreviveu, lutou para ver sua filha, lutou para conseguir falar comigo, mas depois de dois dias, não resistiu.
Antes de partir, viu as duas filhas, as beijou, e me fez um único pedido, me pediu para ser feliz, para não interromper minha vida. E desde então, é o que tento fazer. Henrique nos deixou todos seus bens materiais, mas sem dúvidas, eu podia senti-lo perto ao olhar nossas filhas, Eloá e Amélie.
- Lô, presta atenção. - Falei a puxando pra perto já vendo seus olhos encherem de lágrima. - A mamãe precisa se divertir também. Hoje vai ser um dia legal no acampamento, você vai ver.
- É que eu sinto sua falta, mamãe.
- Eu também sinto sua falta, meu amor. Sua e da Mel. Mas toda noite nós três ficamos juntas, não é?
- Sim. - Respondeu enquanto brincava com os cabelos da irmã que estava sentada em meu colo.
- Hoje não será diferente. - Falei. - Sabe o que vai ser diferente? Você vai amar.
- O quê? - Perguntou entusiasmada levando as pequenas mãozinhas até seu rosto.
- É dia de bicicleta no acampamento, você vai adorar.
- Minha bicicleta não está aqui, mamãe.
- Então... - Antes de terminar de falar, ouvimos três batidas na porta. As duas meninas começaram a me olhar um pouco ansiosas. - Quem será?
Coloquei Amélie no chão e caminhei até a porta sem tirar os olhos das garotinhas que mal piscavam. Sorri ao notar que Eloá segurava firme a mão da irmã mais nova. Ao abrir a porta, um sorriso enorme brotou nos olhos da menina mais velha que correu nossa direção numa velocidade tremenda.
- Surpresa!
- Tia Manu!!! - A menina pulou nos braços da mulher baixinha fazendo-a dar pequenos passos para trás e não pude deixar de rir com a cena. - Você quem comprou? Obrigada!
- Semana que vem é seu aniversário, não é? Esse é o meu presente.
- Obrigada! Obrigada! Obrigada!
Sem perder muito tempo, subiu na bicicleta e começou a andar pelo corredor do hotel. Amélie em alguns segundos deu pequenos passos e me pediu colo enquanto eu conversava com Manu na porta.
- Obrigada, amiga.- Falei passando a mão no cabelo da menina que deitou a cabeça em meu ombro.
- Agradece me dizendo que encontrou uma boa agência de babás para contratar alguém pra passar a noite com elas.
- Encontrei sim.
- Graças a Deus! - Disse Manoela levantando os braços em direção ao céu. - O que está faltando para irmos embora? Tenho que buscar o pessoal no aeroporto.
- Só preciso pegar as mochilas delas... Espera, o que você quer dizer com o pessoal?
- Vai logo que eu te explico depois. - Disse pegando Amélie dos meus braços. - Essa criança está cada dia mais pesada, não sei com o que você tem alimentado minha afilhada, mas peço por favor que se controle.
Revirei os olhos e fui até o quarto que as duas dormiam buscar suas coisas para passarem o dia no acampamento. Os responsáveis tinham a opção de deixar as crianças passarem a noite lá para curtirem a programação noturna do hotel, eu iria fazer isso. Deixamos as duas no acampamento depois de muito choro das duas e depois de eu quase desistir e voltar para o quarto com minhas filhinhas. Sentia falta delas durante o dia mesmo sabendo que precisava descansar, mas Manu sempre entrava na minha mente ou ameaçava ir embora caso eu não fosse aproveitar o dia. Muitas vezes nós duas costumávamos levar as meninas para passar o dia conosco, mas tinha dia que não era possível. Esse era um deles.
Estávamos sentadas em uma das áreas de lazer perto da piscina, tomando um suco e fazendo planos para o resto do dia. Manu ainda estava boquiaberta ao ouvir que eu deixaria as duas dormirem no acampamento.
- Ok, ainda estou entendendo. - Comentou após dar um gole em seu suco. - Você disse que tinha contratado uma pessoa de alguma agência.
- Foi só para cortar o assunto antes que a Lô percebesse. O hotel é completo Manoela, eu não iria procurar ninguém em agência nenhuma.
- Faz sentido.
- Óbvio que faz. Sem contar que o acampamento é extremamente seguro e os responsáveis tem acesso as câmeras pelo celular... Enfim. Você falou sobre ter que buscar um pessoal no aeroporto. Achei que só a Gabi viria.
- A Gabriela tem amigos, que tem amigos, que tem mais amigos.
- Entendi. - Como que vem todo mundo no seu carro?
- Então, você também alugou um carro. - Disse Manu com um sorriso sapeca. - A Gabriela vem com pessoas que nós conhecemos, Thelma, Marcela e Bia.
- E?
- E ela conheceu uma tal de Gizelly que vem com mais duas amigas que eu esqueci o nome.
- Tudo bem, está ficando meio chato só nós duas agradecendo e reclamando da vida o tempo todo.
- Vamos? - Manoela falou levantando-se.
- Como assim? - Preciso trocar de roupa.
- Ah, Rafaella, me poupe. Você está linda. Vamos subir, pegar as chaves do carro e já era.
- Eu não vou discutir com você.
- Acho bom.
NOTAS DA AUTORA: Gente, oi! Essa é minha primeira fanfic girafa, faz tempo que não escrevo. Espero do fundo do coração que vocês gostem, comentem também por que é muito importante pra mim e me deixa mais motivada. Caso alguém tenha alguma dúvida sobre a pronúncia do nome da Amélie, o correto é "Amêlí". É isso! até o próximo capítulo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
SUMMER
FanfictionDurante suas férias após um ano melancólico e clichê para uma mãe de duas crianças, Rafaella conhece uma advogada que transpirava autenticidade. Gizelly não conhecia o medo, até que seu coração aqueceu pressurosamente ao avistar a mulher que lhe fez...