Leurc, o rei faminto

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Havia um reino habitado por criaturas há muito esquecidas, e que passava por muitas dificuldades. Os seres que ali viviam eram liderados por uma linhagem de reis que aqui para você lembrariam bastante os gigantes, mas diferentemente deles, a raça daqueles reis não era nenhum pouco desajeitada, muito menos burros como os gigantes, ao contrário. Os Safarigs eram seres que mediam quase dez metros, e usavam lindas tranças que iam até os cotovelos, e vestiam sempre as mais belas roupas. Eles estavam sempre aos cuidados de pelo menos três Somongs, que mediam apenas pouco mais de um metro, e estavam sempre a aparar as unhas, arrumar as tranças ou a barba, ou até mesmo a costurar a roupa ainda ao corpo dos Safarigs.

Os reis daquele lugar, que tinha o nome de Arret, eram bons e justos com o seu povo. As portas do grande salão de conferências estavam sempre abertas e os súditos vinham e ali expressavam suas dificuldades aos reis, que procuravam utilizar-se da mais sábia decisão para resolver o caso de seu povo o quanto antes.

Um certo dia, um Safarig chamado Leurc chegou ao trono; e, bem os Safarigs são homens e mulheres que, apesar de muito grandes em estatura, são também demasiadamente belos. Entretanto, Leurc era diferente, tinha um corpanzil redondo, estava sempre suando, e roncando enquanto respirava. Suas decisões também não eram sábias, certa vez, uma senhora falou ao rei que parte de seu terreno havia sido inundado pelo rio, e que sua casa estava prestes a afundar, e imaginem o que fez o rei, tão somente ordenou a alguns de seus soldados que fossem até a casa da velha senhora e colocassem alguns barris em volta; um dia, quando a velha acordou com o barulho do rio demasiadamente alto e com água humedecendo sua cama, notou ao olhar para fora pela janela, que sua casa estava descendo a correnteza do rio.

Mas a história que vai ser contada sobre Leurc, o Chato, talvez seja bem pior.

Por ser muito gordo e estar constantemente comendo, as despensas do castelo começaram a ficar vazias. Com o tempo, os empregados começaram a ter que buscar comida nos súditos que moravam próximo, mas ali também a comida acabou rápido. A distância entre a comida e o rei estava se alongando, e ele ficava furioso com aquela demora em trazerem suas refeições.

Certo dia, quando um cozinheiro trouxe uma sopa de folhas de louro o rei gargalhou alto. "Sopa de folhas de louro! Achas mesmo que sou um animal que come apenas vegetais?" O pequeno criado tentou informar ao rei sobre a dificuldade de encontrar comida pelas redondezas, "carne, pães, trigo, arroz, maçãs, uvas, qualquer coisa que Vossa Majestade possa imaginar, está em falta." O rei achou que era mentira, e ergueu o pequeno coitado do cozinheiro, levando-o até em frente ao seu rosto.

Encarando aquele pequeno ser o rei sentiu o cheiro que vinha dele, o cheiro da cozinha, o cheiro exalado pelos temperos, vapores e toda a sorte de comida de que ele se lembrava, e de repente, sem pestanejar, o rei levou o cozinheiro a boca, devorando-o de uma única vez.

As criaturas no salão pararam, estavam todos em choque.

A partir daquele dia, o rei passou a comer um criado sempre que estava com muita fome, ou quando a comida que lhe traziam era ruim ou insuficiente. Cada vez menos criaturas aceitavam estar na presença do rei, e alguns criminosos eram trazidos a sua presença, após um banho em ervas, para serem sentenciados à "morte por dejejum do rei".

Leurc não viveu muito. Um dia, alguém teve a ideia de servir-lhe um criminoso envenenado com toda a sorte de coisas peçonhentas que foram encontradas em um raio de cinco quilômetros. O rei teve uma morte rápida, com a boca espumando e os olhos mais pretos que a noite mais sombria.

Mas aquilo deve ter servido de lição aos reis que vieram depois, pois no reino de Arret não mais se ouviu falar em um rei que comesse seus súditos.

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⏰ Última atualização: Dec 25, 2018 ⏰

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