A menção do nome dele me pegou de guarda baixa e eu precisei tomar um tempo para processar o que exatamente eu deveria responder, ou pensar em uma maneira de mudar de assunto sem parecer desesperada.
Talvez eu tivesse demorado tempo demais para me pronunciar porque Any, após alguns metros, enfiou as mãos nos bolsos de seu casaco novamente e soltou um longo e audível suspiro. Observei a forma como a fumaça do ar gélido escapava de seus lábios enquanto ela falava calmamente.
- Ele me contou o que aconteceu.
Esforcei-me para engolir, sentindo minha boca abruptamente seca demais.
- Então você sabia de tudo – falei em voz alta aquilo que já havia concluído, incapaz de impedir o resquício de veneno em minha voz ao proferir tais palavras.
Any deve ter notado pois abaixou o olhar, envergonhada. Uma visão tão rara vindo da minha amiga de infância que eu me senti culpada por gostar do que eu via.
– Desculpe – ela murmurou, apenas reforçando meu sentimento de culpa. Funguei, piscando para me livrar da minha visão turva.
- Então, estamos muito longe? – bati as palmas de minha mão e lhe dei meu sorriso mais singelo, esperando que mesmo sobre o olhar confuso e triste de Any, ela compreendesse que eu não queria falar sobre aquilo. – Eu queria pegar um pouco de ar, não fazer uma maratona.
Fiquei em silêncio, permitindo que Any pudesse digerir minhas palavras e o pedido oculto para seguirmos em frente. Felizmente, se tinha uma qualidade na minha amiga do qual eu poderia me orgulhar, seria sua inteligência pois apesar da tensão ainda ser evidente em seus ombros largos e a tristeza permanecer em seu olhar, ela me retribuiu com um sorriso quebrado e gesticulou para um prédio à alguns metros do outro lado da rua levemente movimentada que ia gradualmente ganhando volume e barulhos típicos de uma cidade.
O resto do caminho até o hotel e, consequentemente, até o quarto foi em um silêncio que só não foi desconfortável para mim pois tentei ocupar minha mente com a dor que já se alastrava por minhas coxas e desejando arduamente poder dar o descanso que meus músculos já imploravam.
Enquanto caminhava para a porta do quarto e esperava Any abri-lo, cheguei a me arrepender por um momento de não ter aceitado o táxi mas este momento só durou até que a memória do desespero excruciante de quando Noah ligou seu carro me acertou. Estremeci com a memória, tal reflexo não passando despercebido por Any que estava parada ao lado da porta, esperando que eu adentrasse.
- Você está bem? – ela indagou, aproximando-se apenas para ser parada quando ergui minha palma
trêmula em um aviso silencioso de que seu conforto não era necessário. A mais alta mordeu os lábios, claramente magoada por minha distância e, com uma voz baixa, sugeriu. – Você deve estar cansada, quer tomar um banho enquanto eu peço comida? - Apesar de desejar dizer não, a verdade é que eu não estava em posição onde poderia negar tal conforto.Um banho morno provavelmente seria um alívio para o meu corpo e talvez não somente para ele porque a realidade é que eu me sentia um completo lixo. Deixei o que provavelmente seria meu orgulho de lado e acenei, observando enquanto Any adentrava o quarto, deixando a porta aberta para mim e procurava por coisas que após alguns minutos descobri ser uma muda de roupas, provavelmente as mais confortáveis que ela carregava consigo e, bem, Any não era do tipo que usava moletom então me permiti deduzir que aquelas roupas foram planejadamente pegas por ela antes de vir para Los Angeles.
E o mal estar pela forma como eu a estava tratando apenas piorou.
Ela havia vindo até Los Angeles apenas para me ver e até então não havia feito perguntas ou falado nada apenas para respeitar minha vontade silenciosa. O mínimo que eu poderia fazer era lhe oferecer um pequeno sorriso de agradecimento enquanto pegava as roupas que me foram oferecidas e, antes que sua feição confusa e subitamente suave mudasse ao identificar as lágrimas em meus olhos, apressei-me para o banheiro e fechei a porta atrás de mim.
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Inércia- Noart
Romantik"S.f Estado do que é inerte. Fig. Falta de ação: preguiça, indolência, torpor, incapacidade." Ela tinha a vida perfeita. Os pais compreensíveis, os amigos mais fiéis, o namorado dos sonhos e um futuro promissor. Mas a perfeição é frágil e pode ser d...