O crucifixo.

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Meu nome é Benito Venturini; ou pode ser "Beni" para você, dependendo da situação.
Eu sou um italiano; moreno, bonito e... ah, sim, também sou um vampiro.
Não sei se isso é relevante para você; depois de tantas histórias de vampiros, mas me sinto aliviado por ter te revelado, assim, logo de cara.
Essa é a história de como um homem se tornou um monstro.
Tudo começou no Borracho pub em algum lugar ferrado de Detroit, Mexicantown (eu acho).
Uma morena insinuante com uma tatuagem de crucifixo no decote.
Algo para se apreciar como obra de arte de Deus.
Homens discutindo, basquete e carros.
Eu; minha jaqueta de couro preta, por cima do moletom vermelho e meus tênis Nike air entramos sem encarar ninguém.
Só queria beber um pouco de vinho e fingir que ele me embriagava.

- Boa noite, jovem! - comprimentei o bartender, percebendo que o rapaz me achou esquisito e pedi, checando o perímetro:
- Vinho, por favor.-

O jovem deve ter ficado intrigado com as cinco garras de ouro que eu tenho na mão direita.

Me desculpe, eu devia ter falado destes cinco detalhes no começo também.
Eu evitei; porque é parte de uma longa história envolvendo um semideus caçador de vampiros que queria me matar e também um druida irlandês, chamado, Eyrdim.
Enfim, eu odeio flashbacks.

O bartender me deu uma carta, da qual eu escolhi o melhor primitivo que encontrei.

Não era o Di Manduria que eu bebia na Toscana em 47, mas serviu para manter minha conexão com o humano em mim.

"A hidráulica tá pronta pra pular!"

"O Jimmy é o último que ainda faz cestas naquele time!"

"A culpa é da China!"

Podia ouvir cada som dentro e ao redor daquele lugar fedido, apesar de nenhuma daquelas frases banais chamar minha atenção.
Isso mudou quando eu ouvi:
"O de jaqueta preta?"
"Sim, foi ele."

O que será que eu fiz?
Eu pensei.

Bebi um gole farto, como se prevendo que precisaria de toda calma do mundo nos segundos seguintes.

Com uma olhadela, percebi nos olhos do garçom que alguns dos cavalheiros se aproximavam de mim por trás e a julgar pelos passos decididos e as respirações, não iriam perguntar a minha opinião sobre lowrider, basquete ou China.

- Quem você pensa que é, garoto? -

Você não faz idéia de como é estranho ser chamado de "garoto", quando você têm 92 anos.

Girei na banqueta e me deparei com três carecas, barbudos, tatuados e com regatas brancas.

O autor da pergunta parecia ter malhado mais que os outros, usava também uma camisa xadrez por cima da regata.

- O quê?-
- Não gostei do jeito que você olhou pra minha mulher, garoto!-

A morena.
Eu sabia que aquele crucifixo não era um bom sinal.

-Me desculpe... - Eu ia fazer o que todo bom monstro sobrenatural faz; abaixar a cabeça e sair evitando me expor, mas ele merecia uma resposta.
- Quer que eu a olhe de um jeito diferente? -

Ele riu e eu sabia que isso não era bom.




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