Crônicas de Gelo e Espinhos

Capítulo 1: O Tusk

Ymir, O Tusk acordava para mais um dia. Os raios do sol passaram pela fresta da janela de sua cabana, ele bocejou e jogou as inúmeras peles que o cobriam para fora da cama, soltando um resmungo ao mesmo tempo.
O ano era 354 D.A, e as montanhas recobertas de neve se erguiam do lado de fora da cabana, soprando seu gélido vento por todos os campos que podiam alcançar. Ymir pisou com o pé esquerdo para fora da cama, erguendo-se com seu corpanzil e estralando as costas, bocejando com a perspectiva de um novo dia.

Foi até seu banheiro, havia um penico de porcelana, um ofurô de madeira encostado a parede da cabana, e uma pia que consistia num balde repleto de água prestes a congelar.Ele fez suas necessidades no penico e jogou o conteúdo na neve pela janela da cabana, a urina congelando pouco antes de atingir o solo. Depois ele voltou ao banheiro e lavou o rosto antes de começar o dia de trabalho.

Ymir era extremamente parecido com um urso polar, mas se arrependeria aquele que o denominasse assim, ele tinha duas enormes presas de marfim se projetando de seu rosto, olhos severos e uma longa pelagem Branca. Tudo isso somado a um focinho azul da cor do gelo, uma expressão carrancuda e um conjunto de agasalho vermelho, um chapéu marrom com uma longa fita da mesma cor do agasalho  e pesadas botas de neve também marrons.
Ele tirou as ramelas do rosto, deixou seu pequeno banheiro e se encaminhou para a cozinha, que se resumia a um forno a lenha feito de metal, e uma caixa cheia de gelo, de onde tirou seu café da manhã, uma enorme e gorda sardinha.
Depois de sua refeição, Ymir se levantou de rústica mesa de madeira, pegou seu fiel gancho feito de gelo perene, e seu companheiro barril de conhaque e abriu a porta da frente, feita de madeira e metal e resmungou para o novo dia:
-Lá vamos nós de novo.
E se dirigiu a seu campo de trabalho, uma enorme extensão florestal, com árvores cobertas de espessas camadas de neve. O frio não o incomodava, na verdade ele sempre tivera uma grande afinidade pela condição, estando unido a ele em vários aspectos, inclusive era grande colega de seu dia a dia.  O Tusk respirou fundo e se concentrou, o gelo praticamente o cumprimentava, como a um velho conhecido, e então ele se jogou no chão, porém ao invés de afundar na neve, ele girou e girou, formando uma enorme bola de neve, que foi crescendo cada vez mais e derrubando árvores ao longo do caminho.

Continuou nessa dinâmica por um tempo, a cada série de árvores que ele derrubava, pegava seu gancho e o usava para fazer o trabalho de quebrá-las em fragmentos menores, colocando cada um deles em uma cesta de vime reforçado que sempre deixava próximo ao campo de trabalho.
Ymir pegou os inúmeros fragmentos e colocou-os na cesta, ela tinha um encanto de compactação, portanto nela cabia qualquer quantidade de lenha que seu portador aguentasse carregar, a cada vez que a cesta estava cheia o bastante, o lenhador suspirava e se encaminhava para o vilarejo mais próximo, de onde um negociante comprava diariamente a madeira fornecida por ele.
Quando ele entrava na loja, o velho vendedor o olhava por cima de seus óculos e barba branca, um goblin de pele cinzenta, com olhos quase opacos de tanta catarata.
-Veio cedo hoje, Ymir- o vendedor cumprimentou- seja bem vindo.
-É- o lenhador disse simplesmente.
-Quase vinte anos que compro de você todos os dias e sei pouco mais do que o seu nome- o vendedor riu suavemente.

-Creio que sim- o outro constatou, sem se incomodar pela afirmação.
-Pois bem- o vendedor suspirou- comprarei seus carregamentos, o inverno se torna mais rigoroso a cada dia, não sei como você aguenta ficar lá nas montanhas sozinho.
Ymir o encarou, totalmente impaciente.

-Está bem, está bem- o vendedor riu, acostumado a dinâmica entre eles- aqui está seu dinheiro, pode ir, mas passe mais tarde em minha casa, eu e a patroa ficaríamos mais do que felizes com um pouco de companhia para o jantar, para variar.

O lenhador catou as moedas de cobre que o foram oferecidas em troca do serviço, resmungou um curto talvez para o vendedor e saiu marchando da loja, sem responder o aceno.