Narcisa despertou quando os raios do Sol alcançaram seu rosto. Isso vinha sendo o seu despertador nos últimos cinco meses, desde que fugiu e se refugiou na casa de Snape em Wicklow. Nem mesmo precisou olhar o relógio sobre a mesa de cabeceira para saber que eram cerca de sete horas da manhã – era sempre por volta desse horário que a claridade matutina irrompia através do tecido fino da cortina.
Abandonou os lençóis a muito custo e seguiu direto para o banheiro. Fitou-se com atenção no espelho pequeno enquanto escovava os dentes. Achava que estava muito mais saudável agora. Quer dizer, o mundo bruxo ainda estava em uma guerra sem prazo de fim, seu filho carregava a Marca Negra no antebraço às ordens do pai e ela não o via há meses. Eram muitos os temores e as incertezas, e isso a consumia por inteiro. Contudo, era inegável que estava muito mais em paz ao sofrer ali do que no meio da corja do Lorde das Trevas.
Despiu-se da camisola para adentrar debaixo do chuveiro quente. A alta temperatura da água deixava o banheiro coberto pela névoa fina da fumaça, as paredes umedeceram com gotículas a deslizar e sua pele alva ficou quase instantaneamente avermelhada. Ficou estática por algum tempo enquanto sentia a água bater forte contra a sua cabeça – vinha adquirindo esse hábito há alguns meses. Sentiu-se extraordinariamente só.
No dia seguinte àquela noite, uns oito meses atrás, ela acordou sozinha na casa de Cokeworth. Suas únicas companhias eram as lembranças, o cheiro de Snape entranhado em seu corpo e nos lençóis e um breve bilhete sobre a mesinha ao lado da cama. A escrita indiferente dizia que o Lorde das Trevas esteve pessoalmente na casa durante as primeiras horas da manhã. Exigiu que seu servo se escondesse por tempo indeterminado, já que o Ministério da Magia estaria procurando por ele devido às investigações da morte de Dumbledore. Na carta, orientou Narcisa a retornar para a Mansão Malfoy e esperar seu contato. O aspecto frio e distante com que Snape lhe falava através daquelas linhas, depois da noite que passaram juntos, a aborreceu muito mais do que os quase três meses que esperou para que ele voltasse a procurá-la.
Snape apenas teve permissão para retornar de sua fuga quando Voldemort estava prestes a dominar o Ministério, o que aconteceu na mesma semana depois que Rufo Scrimgeour foi torturado e morto. Viu-o sentado no outro lado da mesa, com o corpo flutuante de Caridade Burbage sobre suas cabeças – ela seria morta minutos depois – e Lúcio ao seu lado completamente compungido após Azkaban, lutando para ter a confiança do Lorde das Trevas de volta, e perguntou-se como Severo conseguia se manter tão impassível depois de ter se revelado um amante atencioso e quente.
Quando a reunião se deu por encerrada – depois do horrendo desfecho que Nagini foi agraciada com uma refeição humana –, Snape se levantou tal qual um foguete e desapareceu de sua vista. Muitas semanas depois, ele a encontrou furtivamente na cozinha, quando ela preparava um lanche para si. Ele foi breve e, novamente, indiferente. Avisou-lhe que a casinha na Irlanda estava pronta para recebê-la e eles só precisavam acertar alguns detalhes antes.
Ali, debaixo do chuveiro, ela se perguntou, pela milésima vez, se tudo não fora precipitado demais. Não a sua fuga da vida como uma Malfoy, disso sabia que jamais se arrependeria, mas o sexo com Snape. Ela estava frágil demais? Desiludida demais com a sua vida que tomou rumos que jamais sonhara? Estava Snape abatido demais com o assassinato de Dumbledore? Furioso com Lúcio por ter arrastado a própria família para a lama? Será que foram esses os motivos que levaram os dois a dividirem a cama? Teria sido pura fragilidade emocional num momento tão delicado?
Ela tentava se convencer que não. Admitiu que nutria uma atração e curiosidade por Severo desde... Bem, não conseguia dizer com exatidão, mas sabia que se tratava de muitos anos. E, além disso, Severo Snape não era um homem de se deixar levar por fragilidades, se é que ele tinha alguma. Ele podia desejá-la tanto quanto ela o desejava. Por que não? Sabia que era uma mulher muito bonita, a aliança bruta nunca intimidou os olhares tanto masculinos quanto femininos de cobiça em sua direção. Por que com Snape seria diferente?
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Seda Negra | ✓
FanfictionA sucessão de eventos após a noite que passara com Snape não foi o que havia planejado. Ele havia mantido sua palavra acerca de escondê-la e protegê-la, mas o tratamento distante que ele designou a ela não era o que esperava. Porém, Severo Snape não...