⅓: Taeyoung

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antes de tudo, gostaria de agradecer a @juncotton por me permitir adaptar essa obra. por favor, mundo, dê o devido reconhecimento que sua escrita merece. 

a história foi dividida em três partes e ela disponibilizou uma playlist maravilhosa no spotify. o perfil é cajunmyeon, se quiserem dar uma olhada. 

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Taeyoung sempre fora o mais dramático e romântico dos três, fazendo metáforas confusas e acordando no meio da madrugada para observar as estrelas. Quem olhasse em seus olhos profundos por um tempo suficiente para vislumbrar sua alma sensível, certamente sairia com os próprios banhados em lágrimas de pura consternação. 

Uma das maiores preocupações de Serim era o coraçãozinho de papel de seu amigo, que se rasgava apenas com palavras rudes e gestos ofensivos. Allen dizia que Taeyoung era tão delicado quanto um dente-de-leão, que a menor das brisas poderia destruí-lo. Infelizmente para ele, Kang Minhee e Seo Woobin juntos formavam um furacão de categoria cinco. Taeyoung inevitavelmente saía machucado da menor das discussões.

Wonjin se retorcia em preocupações sobre aquele relacionamento atípico, opinando que Taeyoung não estava preparado para um responsabilidade tão grande. Isso sempre ocasionava acaloradas discussões com Minhee, Woobin escondido com suas flores no quarto e um Taeyoung se desmanchando em lágrimas. 

Os silêncios prolongados pesavam nas costas de Taeyoung. Seu peito doía de saudades dos tempos em que aqueles silêncios eram confortáveis e onde casa um podia aproveitar a companhia dos parceiros. Agora fechavam-se em seus mundinhos particulares, deixando as barreiras caírem apenas na madrugada, quando corpos se confundiam no escuro do quarto e mãos percorriam caminhos outrora inacessíveis. Bastava, porém, que o sol se levantasse para que a relação voltasse a ser fria, mesmo que o clima do lado de fora beirasse 40ºC. 

Ele havia perdido a conta de quantas vezes chorara nos ombros de um Wonjin impaciente, sendo consolado pelas mãos confiáveis e a voz macia de Serim. Apesar da enorme quantidade de lencinhos de papel manchados e dos conselhos pacientes dos amigos, no fim do dia Taeyoung simplesmente não conseguia abandonar os dois homens. 

Seu coração, rebelde como sempre fora, batia descompassado à mera visão de um Woobin de cabelos molhados saindo do banho, toalha na cintura e um sorriso maroto em sua direção. Ele falhava várias batidas quando, no meio do dia, ganhava um abraço inesperado e cheio de carinho de Minhee.

"Eles são como... o vento..." respondia aos inúmeros questionamentos de um Wonjin cada vez mais preocupado. 

"Taeyoung, isso não faz o menor sentido, você sabe" o amigo retrucava, o rosto rubro de impaciência. 

Mas ele não se importava. Dormia em travesseiros cheirando a flores, derramava lágrimas para as estrelas e sonhava acordado com um viajante do tempo que o levaria de volta ao passado, onde poderia consertas os estragos feitos em sua vida. Deixar Woobin e Minhee, no entanto, nunca seria uma opção. 

Sua força de vontade não era tão firme ao cobrir os ouvidos para abafar a miscelânea de gritos que cortava a noite com cada vez maior frequência. Escondido no telhado com seu livro preferido e uma caneca fumegante de chá, Taeyoung forçava sorrisos plásticos e brincava de fazer de conta que os gritos e problemas e todas as lágrimas desperdiçadas aconteciam em outro lugar, bem longe de sua adorada casa. 

"Tudo bem, está tudo bem" sussurrava o mantra agarrado à sua edição surrada de a hora da estrela. Em Clarice e Macabéa, buscava o conforto que não encontrava no peito de Minhee e nas flores mortas de Woobin. 

Devorava livros com a voracidade da criança faminta e solitária, procurando em outras vidas soluções para os embates domésticos frequentes. Por vezes preteria os companheiros em favor da vaidade charmosa de Dorian Gray, o amor fracassado de Werther, o romance malfadado entre Heathcliff e Catherine, entre outros volumes e vidas e histórias que disputavam lugar com as flores de Woobin. 

"O mel que escorre pelas paredes me mantém preso a essa casa, a eles" dizia com frequência, causando perplexidade em Seongmin e puxando um suspiro esgotado dos pulmões impacientes de Wonjin. 

Só o próprio Taeyoung sabia, no entanto, o quão difícil seria quebrar as correntes doces e saltar em direção ao futuro sem ilusões e com sabor de mostarda picante. O gosto enjoativo do mel mofado estava inevitavelmente preso a sua boca desde aquela manhã gelada de 1971, quando conhecera Woobin, e se intensificou quando ambos adicionaram Minhee ao seu caldeirão de flores e livros e risadas, três anos depois.

Em uma madrugada de 1979, porém, olhando o céu carregado de nuvens brilhantes, Taeyoung pensou com a língua na garganta que aquele era o fim. O mel secou e grudou nas flores amassadas em suas mãos mornas. Jogou os livros preferidos na mochila pintada de estrelas e, com sensações esfuzilantes no peito, saltou para o futuro amargo. Dessa vez sozinho.


NAUSEA 1979Onde histórias criam vida. Descubra agora