•chapter twenty two•

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Era por volta das seis da tarde quando Miles empurrou a porta do quarto com o pé, com as duas mãos ocupadas por canecas cheias de chocolate quente, e pediu que eu o ajudasse.

-Nossa, Miles, não precisava disso tudo! - exclamei, ao pegar uma das canecas e ver inúmeros mini marshmallows boiando na bebida.

-Precisava sim, eu faço isso todo dia. E a gente precisa de açúcar pra se manter acordado estudando inequações. - disse Miles, sentando ao meu lado.

Desde que havíamos chegado, Miles e eu estávamos nos dedicando a estudar o máximo que conseguimos para o teste de álgebra da semana seguinte. A gente até que estava sendo produtivo, considerando que poderíamos estar brincando com a neve do lado de fora da casa ou assistindo filmes ou fazendo qualquer outra coisa divertida. Qualquer coisa que não fosse estudar matemática aplicada. 

-A gente tá terminando? - perguntei, folheando um dos livros em cima da cama.

-Não sei, o sr. Campbell nem especificou o que vai cair. A gente tem que adivinhar qual parte da porra da álgebra que vai estar no teste. - Miles resmungou.

Soltei um grunhido alto exalando todo o tédio e insatisfação que eu estava sentindo no momento, deitando de forma desajeitada na cama de Miles.

-Você vai amassar meus livros, Amie. - ele falou, rindo da minha postura.

-Eu só queria terminar o ensino médio e nunca mais ter que entrar naquele colégio na minha vida. É demais pedir isso? - olhei para ele, sendo totalmente sincera.

-Ah cara, acho que a gente vai sentir falta. - Miles tomou um pouco do seu chocolate quente e se acomodou um pouco mais - É o que dizem por aí, os caras que vão pra faculdade.

-Eu não quero ir pra faculdade. - confessei, encarando o teto.

-Não? O que sua mãe acha disso? - Miles me olhou genuinamente surpreso.

Mordi os lábios e pensei na opinião que Lucy tinha sobre isso. Ela queria que eu fosse para a faculdade, queria que eu fizesse o SAT e tudo o mais, e eu a entendia perfeitamente. Mas eu, particularmente, não havia achado minha vocação e muito menos uma motivação que me fizesse querer estudar por anos sobre o mesmo assunto. Nada me atraía. Uns queriam fazer medicina, economia, direito. Eu não queria nenhuma opção que me apresentavam.

-Ela não acha nada. - disse, séria - E eu só quero começar a trabalhar e ganhar meu dinheiro. Ir pra faculdade é um processo longo demais só pra no final você ganhar um diploma. Qualquer um tem um diploma. 

-Não se trata do diploma. Você conhece gente nova, gente que vai fazer parte da sua vida pra sempre, vai em festas, é uma super experiência. E aí, se você estudar um pouco, de bônus recebe um diploma pra você exercer sua profissão. - Miles parou por um momento, e depois continuou - Ainda não decidi meu curso, mas quero ir pra faculdade.

-Aqui em Cortland?

-É, quem sabe. Dependendo da minha carta de recomendação talvez eu consiga alguma coisa em Nova York. O que você acha? 

-Acho que você pode conseguir o que você quiser. - disse, sem me dar conta da fala motivadora clichê.

Miles era bem otimista e falava das coisas com muito entusiasmo, mas eu tinha medo que ele se decepcionasse, porque no fim das contas as coisas não eram tão fáceis como ele havia descrito. Depois dessa conversa, decidimos encerrar os estudos e continuar outra hora. Nenhum de nós dois aguentava mais ver números. Passamos o início da noite falando besteiras e rindo, assistindo televisão. Mais tarde, perto das oito, Cathy se aproximou e disse que iria pedir comida chinesa, entregando o encarte do restaurante para Miles.

eu, eu mesma e minha ignorânciaOnde histórias criam vida. Descubra agora