Um tal pai e um tal filho

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Meu pai
Tinha muitos sonhos
Iguais os meus de moço jovem, imprudente
Mas o que eu não sei
É se o mundo o golpeou no rosto, então
Sua visão pode estar limitada a um só mundo

O meu pai
Sempre achou engraçado o que eu fazia
Mesmo que fosse algo imbecil, infantil
Sabendo que eu me iludia
Mas o que eu não sei é o bem que ele me fez
Porque me falava pra aproveitar cada segundo

Dizia
"Corra, percorra, persiga, se mova até o fim"
"Depois suba, escale, se pendure, caia e ria de si"
"É hora de dar a volta por cima, arrisque até o fim"
"Pois se é isso que quis, se vai ser por um triz,
Então vale o risco"

O meu pai
Me fazia chorar e me jogar no chão
Arrasado por falhar, por não ter teimado mais
Ele sorria e achava defeito até onde não há
Evitava que eu o visse no quarto chorando
Depois de termos brigado tanto
Mas seus olhos vermelhos na mesa ficavam me chamando
Enquanto ele orava

Dizia
"Obrigado, meu Deus, me faço grato pelo prato, pela faca e o garfo, e o guardanapo"
Coisas que em casa sempre tinha
"E que sempre tenhamos, por mais que erramos, o prato do dia"
"Meu Pai, nos dai a paz que mereçamos, de acordo com as leis divinas"
"E que este dia, começado triste, ainda seja motivo de alegria"
"Amém"

Meu pai
Não se impressionava quando eu acertava
E me dava palmas sinceras e fracas
Condizentes com o que ele enxergava
Mas o que eu não sabia, e demorei muito pra enxergar
É que por mais que isso me frustrasse, ele só dizia verdades


Meu pai
Ele era tão engraçado e divertido
Me contava piadas que a mãe não gostava
Nós ríamos escondidos
Sendo sincero, eu espero que já ele tenha me perdoado
Por eu não ter me arriscado, teimado
Em amá-lo

O mar congelado donde sai fogo ardenteOnde histórias criam vida. Descubra agora