Lover - Capítulo Único

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bom dia
essa história foi a coisa mais soft que já escrevi na minha curta vida, não pensei que um dia eu ia conseguir escrever algo que não fosse puro sofrimento. surpresas da vida!
peguem algo pra beber, se aconcheguem e espero que gostem do que irão ler (:

atualização: revisão 01/06/2022; happy pride (:

-X-

A noite caiu num frio atípico para o fim de maio.

Para Lena, era só mais um dessas noites em que saía relativamente cedo do trabalho - "21h não é cedo, Lena Luthor", podia ouvir a voz de Sam dizendo isso -, e mesmo que o tivesse feito, era única e exclusivamente porque precisava de alguns documentos que esqueceu de colocar em sua pasta pela manhã porque, tão atípico quanto o frio que atingiu a noite, ela se atrasou para o trabalho.

Para Lena, aquela tinha sido uma dessas raras manhãs em que Kara conseguiu a convencer de que ficar mais dez minutinhos na cama era uma boa ideia.

(Bom, nem tão raras assim, uma vez que se tornara particularmente comum que chegasse mais tarde do que o habitual desde que decidiram que seria uma ótima ideia começarem a viver sob o mesmo teto depois de dois anos e meio de namoro - e considerando que já viviam uma boa parte do tempo uma do apartamento da outra, não é como se tivesse mudado tanto assim a dinâmica de casal delas.)

E naquela noite, depois de quase três anos morando juntas, ainda não conseguia acreditar em como era confortável aquela vida. Em quase seis anos de relacionamento, ainda não conseguia acreditar que logo ela pudesse viver em tamanha tranquilidade, depois de tanto que passou sozinha, depois de tanto que passou com e por causa de Kara.

Recostou-se na parede gelada do elevador, suspirando com as lembranças que lhe ocorreram.

O dia em que Kara se revelou Supergirl, a consecutiva série de traições que ocorreram contra si, os momentos de conflito, a Crise, a quase morte da Supergirl... Mesmo depois de tantos anos, às vezes, a insegurança pífia de que Kara e seus amigos pudessem estar escondendo algo ou a lembrança do rosto sem vida da mulher que amava eram coisas que ainda a assombravam. Ainda a amedrontavam. Sempre que parava para pensar em como sua vida estava boa e como estava estável e segura sobre algo além de suas empresas, vinha aquela vozinha distante no fundo de sua mente, sussurrando cruelmente todas as coisas das quais deveria se preocupar, mesmo sem uma razão aparente. Trabalhava aquilo constantemente na terapia e, seguindo o que se deveria fazer em todo relacionamento saudável, conversava sempre com Kara sobre suas inseguranças, em especial em momentos de crise. E então, lhe ocorria como aquilo também era uma dessas coisas raras que deixaram de ser raras desde que ela começou a viver com Kara. Certamente os anos em terapia ajudaram bruscamente para que ficasse mais aberta, mas a segurança e ternura que sua namorada passava eram a chave especial para que conseguisse deixar as palavras escaparem e os sentimentos fluírem, sem guardar tudo, sem se fechar para o mundo.

Não imaginava que depois de tanto que vivera em seus trinta e tantos anos de vida pudesse encontrar algo que se assemelhasse a como se sentia naquelas horas de contemplação e muito menos imaginava que um dia pudesse se sentir tão bem sobre si, sobre quem era e sobre as coisas que aconteciam consigo.

Depois de tudo, talvez aquele tivesse sido o maior presente que recebeu de Kara. Liberdade. E a liberdade a deu a oportunidade de alcançar algo que almejava há tantos anos.

Paz.

A palavra soou bem em sua mente quando entrou no apartamento.

A primeira coisa que fez foi deixar os saltos junto aos outros sapatos na entrada e, como sempre, ajeitou os tênis de corrida que Kara, como sempre, largara de qualquer jeito na pequena sapateira que tinham. Pelo silêncio do apartamento e a noção aproximada da hora, supôs que a jornalista estivesse em função de heroína, patrulhando ou resolvendo algo com a D.E.O., e agradeceu um pouco porque assim teria algum tempo para fazer o que precisasse e não sentiria a tentação de se juntar à loira no sofá ou na cama, e com os anos Lena descobriu que era muito difícil resistir às provocações e ao seu próprio desejo de abandonar os papéis para se jogar nos braços - deliciosamente musculosos, devia salientar - da sua Supergirl.

Lover (supercorp - one shot)Onde histórias criam vida. Descubra agora