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Volto para minha sala meio pensativa, há 10 anos não entro no Alemão, desde que minha mãe se separou do meu pai, as vezes converso com ele e com minha irmã Tina, que é dois anos mais velha que eu, acho que vou ter que voltar pra casa por uma semana.

(...)

- Eu tô no pé do morro, preciso de você aqui em baixo pra poder subir, estão me barrando aqui poxa - digo nervosa com Tina ao telefone.

- Tô descendo inferno, tô só terminando de fazer a unha.

- Porque você não me falou que tava no salão idiota, tinha vindo mais tarde.

- Mais tarde tem baile, quem quer que tenha pra entrar no morro, tem só mais meia hora, há não ser que seja convidado do patrão.

- Entendi, termina logo essa porra aí, tô ficando sem paciência com esses caras me olhando.

Desligo a chamada e me sento no chão ao lado da entrada do morro, não demora para que uma moto vermelha pare ao meu lado, sendo seguida de uma preta.

- Querendo o que aqui garota? - o da moto preta diz.

- Vim passar um tempo na casa da minha irmã - respondo seca e fria.

- Responde direito garota - o da moto vermelha diz vindo em minha direção.

- Relaxa WS, quem é sua irmã? - ele me pergunta sério e logo depois tira o capacete e acende um cigarro.

- Valentina Luz - assim que digo sinto um cheiro conhecido, cheiro de melancia, não tenho certeza, mas acho que vem do cigarro.

- Tô ligado, pode subir, ela já tinha me falado de você - ele diz e sobe o morro com seu amigo atrás.

Só depois que eles saem que paro para pensar na beleza do homem que se dirigiu a mim, sua pele morena, com braços e pescoço coberto por tatuagens, seu jeito meio grosso de falar, mas sem ser completamente rude, como se estivesse ainda tentando ser simpático, seu sorriso enigmático como de quem tem muitos segredos, tudo isso são coisas que o fazem um tanto quanto interessante.

Me desperto dos meus devaneios com a voz estridente de Tina.

- Vamo subir Caçulinha - ela diz se jogando em um abraço.

Pego minha mochila no chão após livrar do abraço apertado de minha irmã.

- vamos logo tempos muito que fazer antes do baile, tô até ansiosa faz tanto tempo que não te vejo, papai vai surtar quando te ver, nem falei com ele que vinha quis fazer surpresa.

- não sei se foi o melhor a fazer Tina, sabe que tem muito tempo que não converso com ele não estou bem desde a última vez.

- eu sei, mas está tudo bem agora, ele está até parando de beber, o que é um avanço.

- assim espero, estou com tanta saudade, mas sai tão machucada na última vez, espero que esss semana não seja tão difícil.

Conversamos enquanto subimos o morro até a casa onde cresci, parar frente à ela após 10 anos era difícil, as paredes antes brancas hoje tem um tom de amarelo, chega a ser estranho pensar que passei grande parte da minha infância aqui dentro, não posso me focar nisto agora tenho serviço a fazer.

Minha família não sabe minha real profissão, não posso dizer que sou uma atirador de elite da polícia, afinal são coisas que devemos manter em segredo.

Entro em casa me deparando com a parte interna da mesmo forma com que era anos atrás, ver meu pai sentado no sofá vendo jogo de futebol chega a ser nostálgico, ele me ver e se levanta vindo ao meu encontro.

- Que falta você me fez minha pequena - e diz em meio ao abraço forte e sufocante.

Me desfaço do abraço com um sorriso pequeno, pego minha bolsa e subo para meu antigo quarto sem falar nada com ele.

Encontro tudo da mesma forma, até mesmo as cores das paredes, 10 anos se passaram e aqui estou eu de novo. Mas agora é a hora de esquecer meu passado e focar no meu serviço.

Meu Tiro CerteiroOnde histórias criam vida. Descubra agora