É de manhã.
Sei disso porque a maldita cortina blackout não é capaz de fazer seu único trabalho de tampar o sol de forma eficiente. E mais uma vez estou pensando em objetos inanimados como se fossem pessoas. Comentarei sobre isso com a terapeuta na próxima sessão, não que eu ache que ela irá me ajudar de alguma forma. O sol continua a entrar pelas frestas da janela, e queimar meus olhos sensíveis. Droga de manhã, droga de segunda-feira, droga de vida. Eu já havia me decidido por faltar a aula quando ouvi batidas tímidas na porta do quarto. Merda.
— Quem é?
Perguntei arrastando a voz.
— É a Winky, senhor Malfoy...
A voz soou tímida, abafada pela porta grossa.
— Que droga, o que você quer Winky?
Ela deve ter percebido minha irritação pois em seguida falou ainda mais baixo.
— Desculpe senhor Malfoy, não queria incomodá-lo... Mas é que a senhora Malfoy pediu para eu vir te acordar. Seu café espera na cozinha.
Ouvi ela saindo apressadamente. Soltei o ar pela boca, levantando uma mecha de meu cabelo loiro-quase-branco. Nada de faltar à aula então.
Levantar, tomar banho, me vestir. Ignorar o café, engolir uma aspirina, rodar as chaves de minha BMW nas mãos. Dirigir para Hogwarts. A mesma rotina, todos os dias, já faziam 3 anos. Vestir a máscara de indiferença, empinar o nariz e olhar todos de cima. Fingir superioridade para encobrir minhas cicatrizes. Ignorar a dor, engolir os remédios que mantém minha mente razoavelmente sã. Com sorte eles funcionariam, com um pouco mais de sorte, não.
Coloquei meus óculos escuros ao descer do carro no estacionamento, apesar do dia estar nublado. A Universidade de Hogwarts, localizada na Escócia, era onde a maioria dos estudantes europeus gostariam de se graduar. E eu tenho a sorte de ser um das centenas de alunos ocupando essas vagas tão concorridas.
O ar abafado do clima contrastava com o ar condicionado do meu carro me fazendo desejar entrar nele de novo e matar aula. Maldita Escócia e seus dias nublados e quentes. Como eu sinto falta de Londres...
Minha atenção foi roubada por uma risada alta ecoando assim que pisei na cafeteria do campus. E lá estava ele. Os cabelos pretos mais desgrenhados que já vi, a pele pálida, ainda que mais bronzeada que a minha, o sorriso encantador com todos aqueles dentes brancos e perfeitamente alinhados, os olhos verdes... Os olhos mais verdes e vivos do mundo. Harry Potter ria despreocupadamente como se a vida fosse boa. O desgraçado estava sempre de bom humor. Droga, até aquela camisa xadrez horrorosa ficava linda nele. Ele tirou os óculos redondos e os colocou sobre a mesa, limpando os cantos dos olhos das pequenas lágrimas que haviam se formado em detrimento do riso. Ele estava lá, sentado naquela mesa perto da parede de vidro do café, comendo algo e rindo com seus amigos Weasley e Granger. Ele e sua bolha, que é completamente oposta à minha. E provavelmente, sempre será.
— Cã-hãm. -alguém limpou a garganta atrás de mim, me assustando- Você está bloqueando a porta, Malfoy.
Seamus Finnigan, um estudante irlandês disse e eu dei um passo pra frente liberando a entrada.
— Desculpe.
Murmurei baixo mas ele já havia passado por mim, indo direto para o balcão.
Não era a primeira vez que eu ficava fora de ar observando Potter. E isso precisava parar.
Andei rapidamente até uma garçonete, pedindo um chá preto forte e quente para levar. Enquanto ela saía para preparar, meus olhos vagaram novamente para a mesa do trio, e percebi que Granger tinha se levantado e vinha caminhando na minha direção. Maldita garçonete que estava demorando para trazer o chá.
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DARE • a.u • drarry
FanfictionDe um dia pro outro tudo na vida de Draco muda, e os brilhantes olhos verdes que sempre foram o foco de sua paixão pareciam finalmente enchergá-lo. Poderia o amor ser apenas um jogo? 'love is a losing game' - Amy Winehouse Fanart da capa: @alek.dar