Despensa. - One Shot.

One Shot

     Tortura. Nada definiria melhor o momento pelo qual Draco estava passando. Aquilo era simplesmente torturante.

    O loiro se revirava na cama, tentando, sem êxito, pegar no sono. Mas sua mente não conseguia parar de pensar no que acontecera, estava inquieto.

    Estava inquieto há semanas, se não meses. Os flashes continuavam retornando à sua cabeça, eles apareciam toda vez que o menino fechava os olhos.

    As imagens do corpo aparentemente sem vida de Harry nos braços de Harry vinham o perturbando muito mais do que o desejado, e ele não gostava nada do que estava acontecendo.

    Há meses a Guerra Bruxa havia acabado, e há meses Draco se perguntava o porquê de ter se abalado tanto ao pensar que Harry Potter estava morto naquele dia.

    Ele já sabia a resposta, é claro, já fazia algum tempo. Draco possuía muitos defeitos, mas a estupidez não era um deles. No entanto, aceitar aquilo era um tanto doloroso.

     Era doloroso aceitar o fato de que havia desenvolvido sentimentos afetivos por seu maior rival, por alguém que, desde os doze anos, era seu inimigo jurado. Mais doloroso era pensar o quão burro fora de permitir sentir-se desta maneira.

     - Maldito seja, Potter. - Murmurou, com o rosto enfiado contra o travesseiro. O quarto estava escuro, e o ronco de Zabini era audível, irritando ainda mais o loiro.

     E embora algumas coisas estivessem diferentes desde que Voldemort fora derrotado, como por exemplo o fato de que seu pai fora estava preso em Azkaban, as coisas não poderiam estar mais esquisitas entre Harry e Malfoy. Draco o evitara desde o início das aulas, e pretendia manter dessa forma até que o ano acabasse.

     Essa era a melhor forma de reprimir o que andava sentindo, mesmo que se sentisse dessa forma já há algum tempo, embora não compreendesse. O fato de não ter entregado Harry à Belatrix fora apenas a confirmação que precisava. De qualquer maneira, sabia que, mesmo que dissesse algo, seus sentimentos não seriam correspondidos. Harry estava com Gina.

    Bufando, Draco levantou-se da cama  num pulo. Se não conseguia parar de pensar em Harry Potter, distrair-se era a melhor opção. Abriu a porta do quarto com cuidado, tentando ao máximo não acordar os companheiros.

     Os corredores do castelo se encontravam em escuridão e silêncio absoluto, muito diferente do período da manhã. O loiro agora andava em seus calcanhares, na intenção de fazer o mínimo de barulho possível, a última coisa que queria era ser pego por Filch.

     Continuou assim, até chegar em um corredor aparentemente sem saída.

     - Aparecium - Disse, em voz baixa. O feitiço revelou uma portilha na parede. Draco sorriu, abaixando-se para passar.

     Havia descoberto aquela passagem em seu terceiro ano em Hogwarts, em um de seus passeios noturnos pelo castelo. Andou por mais alguns instantes por um longo e escuro "túnel", parando logo em seguida.

     Estava na cozinha da escola. Um camino muito mais rápido, e pelo menos Draco não precisava fazer cócegas em um fruta para chegar.

     O lugar estava silencioso e escuro, todos estavam dormindo àquela hora.

      - Lumus. - Logo a sala estava iluminada, mas a silhueta de alguém parado ao lado da despensa quase fez com que Draco se arremessasse para trás.

      - Malfoy? - O par de olhos azuis o encarava por trás dos óculos, a expressão de surpresa estampada em seu rosto. Harry vestia um pijama quadriculado cômico, os cabelos estavam um pouco desgrenhados, o que deixava a mostra a pequena cicatriz em sua testa. Draco gostaria de dizer que o coração não acelerara ao ver Potter parado ali, mas seria mentira. Engoliu em seco.