爱如樱 |Love as Sakura - Livro 1

第1章 - 送别

O amor pode nos verter em monstros. Já vi acontecer.

Fui testemunha quando os olhos dele se inflamaram contra todos por causa daquela pessoa. Como ele queimou reinos inteiros em nome daquele sentimento. Em como doou sua própria vida por alguém.

Acredito que amar signifique isso, uma vez que fiz o mesmo. Virei-me contra meu pai e meus irmãos, renunciei ao meu nome e ao meu povo, virei as costas ao meu legado em nome daquele sentimento que brotou nos tormentosos dias de guerra quando salvei um estranho e me apaixonei para descobrir mais tarde que ele era meu inimigo.

Os olhos de Yan Da fitavam o céu enegrecido pela fuligem que subia graças aos poderes de seu pai. O som das espadas era um tinido distante em seus ouvidos e o cheiro de sangue e fumaça preenchia o ar à sua volta. A dor se espalhava pelo seu corpo como um veneno lento, o sangue lhe engasgava interrompendo o fluxo de ar pela garganta e escapava-lhe pela boca sem que ela pudesse evitar.

Ah... eu devo ser uma terrível imagem agora...

Pensou enquanto sentia um calor diferente abraçando seu corpo. Um calor que não provinha da magia de fogo do seu pai. Era o calor dos braços de Ying Kong Shi. Como em um sonho, Yan Da aspirou o cheiro de cerejeira que emanava de Shi e desejou guardar aquele odor na sua memória para sempre. Minutos atrás, Huo Yi atacara Shi enquanto este estava desprevenido, ela sabia que, por mais poderoso que ele fosse, se machucaria gravemente caso fosse atingido pelo poder de seu pai, de modo que passou na frente dele e recebeu o golpe em seu lugar.

Até então, Yan Da nunca imaginara que o poder de sua tribo, aquele que fluía em suas próprias veias, seria capaz de feri-la, mas ali estava ela, sangrando nos braços do homem que amava e que a rechaçara impiedosamente pela sua natureza e por aquela pessoa...

Ka Suo.

Em seu coração, Ya Da não o odiava por ser da tribo do gelo. Ela o odiava por ser o único no coração de Shi. Por causa de Ka Suo, Shi sofreu as piores humilhações, devotou todas as suas energias, sacrificou sua vida várias vezes e mesmo sendo ela a estar lá, ao seu lado, sofrendo sua perda sem poder impedi-la, doando sua essência para que ele voltasse, apoiando-o com tudo que podia mesmo que isso significasse trair sua família, era Ka Suo que prevalecia nos pensamentos e no coração de Ying Kong Shi, era nele que ele pensava ao acordar e antes de dormir.

Nunca houve espaço para ela.

Era cruel que ele alimentasse seus sentimentos daquela forma se nunca os retribuiria, mas mesmo que tentasse com todas as suas forças, a princesa nunca conseguiria odiá-lo. Nunca o veria como inimigo. Para ela, ele sempre seria Yun Fei, o garoto resgatado sem roupas do lago por quem ela se apaixonara à primeira vista. Para quem devotara especial cuidado enfrentando, inclusive, Shuo Gang pela primeira vez. E mesmo quando descobriu quem ele era de verdade, quando a verdade sobre ele espionar seu clã para ajudar Ka Suo, ainda assim se via incapaz de odiá-lo e empenhada em protegê-lo.

Eu sou mesmo estúpida.

Um sorriso doloroso formou-se nos lábios de Yan Da enquanto os penetrantes olhos azuis de Shi lhe contemplavam impassíveis. Ele ao menos estaria triste pela morte dela?

Ao longe, os olhos dela encontraram a figura de Huo Yi, atordoado diante da cena, mas incapaz de se mexer. Uma mistura de ódio e desespero explodindo nas chamas de seus olhos. Ela queria pedir perdão, implorar que ele parasse aquela batalha sem sentido e fosse embora, tinha certeza que Shi o mataria. Ele era o mais forte de todas as tribos, mesmo poderoso, Huo Yi nunca seria capaz de derrota-lo. Sua cegueira por poder fizera aquilo com ela e era também por isso que não podia odiar Shi, não podia culpá-lo.

Ying Kong Shi, o jovem príncipe do gelo que quase matara o precioso irmão Ka Suo por causa de um feitiço. Ying Kong Shi que nunca uma única vez lhe dirigiu um agradecimento ou uma palavra de afeto mesmo ela demonstrando seus sentimentos abertamente. Ying Kong Shi que nunca seria seu. Com um único gesto de sua mão, esse mesmo Ying Kong Shi reduziu seu pai à cinzas diante dos seus olhos sem qualquer piedade ou remorso. E nem mesmo por isso Yan Da conseguiu odiá-lo.

— Yan Da... — Sua voz tremulou de forma quase imperceptível e o coração de Yan Da aqueceu-se com o som.

— Ying Kong Shi... — A voz da princesa vacilou diante da respiração bloqueada pelo fluxo de sangue que vertia de sua boca e pela dor excruciante em seu corpo. — Eu acabei de salvá-lo de novo... rápido, me agradeça.

Ele nada disse, mas ela percebeu algo em sua expressão, seria dor? Não havia muito tempo para ela, de modo que decidiu acreditar naquilo, que pelo menos uma vez ele sentiria algo por ela, uma mínima tristeza pela sua partida.

— Yan Da...

Ela sorriu outra vez. Como adorava ouvir o som do seu nome na voz dele. Era como se ele pintasse os ideogramas em luz no ar, dançando em notas cadenciadas e fluorescentes que faiscavam diante de seus olhos. Os longos cabelos prateados de Shi emolduravam-lhe o rosto e eram levemente soprados pela brisa gélida da cidade Ren, a coroa em sua testa, cuja pedra azul ainda conseguia perder para o brilho dos seus belos olhos, levaram os dedos de Yan Da a usar suas últimas forças para acariciar o rosto amado.

— Sinto muito... eu estou indo. — Ofegou ela, lágrimas quentes escorrendo pelo seu rosto conforme a dor drenava suas últimas forças. Queria ouvir uma palavra de carinho, mas Shi permanecia em um silêncio cortante. — Me diga... você... nunca... nem mesmo uma vez gostou de mim?

A pergunta pairou no ar quando a mão de Yan Da caiu sobre o chão nevado sem receber qualquer resposta e sem ver a única lágrima que Ying Kong Shi derramou por sua morte ou a única palavra que ele lhe dirigiu com acentuado afeto: "obrigado".

E o que as pessoas fazem quando seu coração segue o caminho contrário às suas crenças?

Elas queimam.

Queimam como as flores de cerejeira que ardiam e cujas pétalas solitárias tentavam buscar refúgio no mar de gelo derretido. No entanto ali, em meus momentos finais, queimada com o poder de meu próprio pai, meu coração não era mais quente como a tribo do fogo.

A dor o transformara no mais inquebrável e insensível gelo.