Não tem nada de especial. Não em mim, ou no espaço em que se interliga aos vãos vazios do que já foi vida. Não há nada de especial, porque eu estou sozinho.
Quando eu era pequeno, costumava pensar que eu me casaria com a princesa mais linda do mundo e moraríamos em um bosque, e eu a salvaria de todas as coisas que poderiam a machucar. Talvez uma varíação com um princípe também tenha acontecido em alguma fresta temporal, mas em nenhum de meus planos estava acabar sozinho. Em nenhum de meus planos estava perder você.
Acho que parei de contar depois do terceiro dia e maldita maldição seria a minha mania de nunca contar, porque eu não tenho mais conta de quantos dias você se foi, ou a quanto dias eu estou a mesma bagunça. Mas eu não quero arrumar. Eu não quero me sentir melhor ou me recuperar, eu quero parar de te perder.
Já tem algum tempo que venho a observar as cores desvanecendo nos nós dos meus dedos, que brincam com o cobertor, se tornando incrivelmente brancos e monótonos. Já faz um tempo que todas as cores que você plantou em mim voaram ao vento, me restando apenas uma lembrança e um coração sem cura.
Porque isso não é sobre como você me completa e como eu preciso de você pra viver, é sobre como eu amava você e não sei mais se você me amava de volta. Sobre como eu tento segurar firme nas brechas, a fim de não me deixar cair ao precipício que me cerca. Sobre como está sendo difícil de segurar quando eu quero tanto cair e quebrar.
Não é que você seja o culpado de tudo isso, mas por que nunca me avisou? Por que nunca me disse que estava quebrado? Que estava despedaçando pelos cantos e esperando a morte física?
Eu teria entendido. Eu teria tentado.
Nós poderiamos conversar sobre tudo isso, enquanto eu diria que ficaria tudo bem e você sorriria, mesmo sabendo que não, não iria.
E pensar sobre isso me faz pensar que sou egoísta. Egoísta, porque não quero aceitar sua ida, e egoísta, porque apesar de saber de suas dores, eu não deixaria você ir. Mas eu sou humano, e humanos são egoístas. Você sabe disso melhor do que ninguém.
As vezes a dor de cabeça era tão forte que eu me esforçava para não acabar com tudo de uma vez. Porque você não iria querer isso, e eu nem sei porque tudo é sobre você, novamente. Eu me sinto pairando a seu redor a todo instante, me sinto dependente e isso é horrível pra caralho, é horrível pra caralho quando você era o único que me impedia de rachar.
Nunca foi sobre mim, sempre foi sobre você. E eu preciso realmente dizer o quanto me odeio por isso? A dependência emocional é solidamente uma das maiores causas de meus problemas. Mas eu não posso evitar, quando o que menos faço esses dias é pensar ou mandar em mim mesmo.
É tudo vazio e sem nexo onde você se desvaneceu, e saber que você não vai voltar não é reconfortante. Ouvir de varias pessoas que não estão nem aí "ele ainda está vivo no seu coração" é uma mentira, e não muda nada, tudo que faz é meu corpo tremer e dói, dói pra caralho. Por que o que adianta se você estar "vivo no meu coração" não vai mudar nosso destino?
Naquele dia de manhã, eu sentia que algo estava errado, não apenas pelo seu comportamento estranho e distante nos dias anteriores, mas isso contribuiu para a dor.
E foi sua mãe que me ligou, cinco minutes depois de meu peito doer e eu sentir queimar, eu lembro-me exatamente das palavras que pingaram.
"Oliver, liga a TV"
Ela disse trêmula demais para eu achar verídico, mas mesmo assim, eu liguei, ainda com o celular ligado e o coração apertado de sua mãe que respirava forte tentando não se levar. E aí eu vi. No canal um da TV, no primeiro jornal da manhã, o teu belo rosto, com galáxias indescritíveis demais para serem postas em um papel, com mil e um segredos incapazes de serem decifrados nos olhos, e eu fiquei confuso.