1119 palavras
Arremesso o celular para um pouco mais longe da onde estou deitada e me agarro ao travesseiro fofo. Igual a minha barriga, sou toda fofa, até demais.
Eu sei com toda a certeza, que não devemos ligar para a opinião das outras pessoas, e parece bobeira quando alguém não gosta de você, mas não é. Afinal, o que fazer quando o cara por quem você está apaixonada é um preconceituoso? A resposta deveria ser óbvia: nada, apenas superar. Ele que aprenda a ser um ser humano melhor!
Mas então, porque parece que acabei de levar um fora ou algo parecido? Fernando nem ao menos sabe que existo. Quer dizer, talvez sim, mas ele deve apenas me considerar uma pessoa aleatória da nossa turma da faculdade. E uma feia. Porque é isso que ele pensa de mulheres que não são magras, iguais as namoradas que já teve durante esses três anos em que estudamos juntos.
Tem coisas que é melhor ficarmos sem saber, porém, a vontade de stalkear fala mais alto, agora pronto, descobri que Fernando é gordofóbico. Tá feliz Bianca? Penso comigo.
E porque eu vou perder meu tempo brigando comigo mesma? Sou gorda e isso não faz com que eu seja uma garota feia, apenas visto uma calça 46, qual o problema nisso? Minha mãe diz que tenho ossos largos, só isso.
A verdade é que eu tenho quadril, coxas, barriga, tudo largo. E como poderia saber que Fernando não me acha atraente, apenas por ser gorda? Por um lado, ainda bem que descobri pelo Facebook e não levando um fora pessoalmente, mas por outro, sei que nunca irei ter chances com ele. Também, eu queria o que? Um cara gato daquele não olharia para mim com interesse amoroso nunca mesmo!
A publicação de piada com uma garota gorda que ele compartilhou, e ainda reforçou seu divertimento ao colocar vários K como risada na legenda, não parava de passar na minha mente, como um loop infinito. Legal, muito bom. Obrigada cérebro.
Resolvo não ficar na fossa, sou uma mulher adulta com vinte e um anos que não precisa de homem nenhum para saber que sou maravilhosa. Ou pelo menos era isso que eu devia fazer, ao invés disso sinto meus olhos marejarem, e por um instante parece que voltei na adolescência sofrendo por um garoto babaca e com a autoestima em crise.
Meu celular está um pouco distante, mas sinto ele vibrar, por isso me estico pegando o aparelho e confiro quem foi que mandou mensagem. É a Helô.
"Amiga, tá um Sol MARA para ir na piscina aqui do prédio. Vem pra cá, vou chamar o Pietro e o Ricardo."
Heloísa é a minha melhor amiga, nos conhecemos no primeiro ano do ensino médio assim como Pietro e Ricardo também.
Tudo bem, acho que preciso mesmo me distrair ao invés de ligar para o quanto Fernando é babaca. Respiro fundo e levanto da cama, olhando através da janela aberta do meu quarto constato que Helô está certa, o dia tá lindo.
Aviso minha mãe que vou curtir minhas férias e visitar minha amiga, porque mesmo sendo maior de idade, ainda moro com ela. E como estamos nas férias de janeiro, não tem uma ideia melhor para aproveitar o calor do que ir à praia ou piscina.
Separo o maiô e um short para quando formos sair da piscina não ficar desfilando apenas de maiô. Encaro o tecido vinho da roupa de praia e lembro o quanto ele é decotado, mas também modela meu corpo que é uma beleza.
Menos de uma hora depois me encontro parada em frente ao prédio onde Heloísa mora, estou esperando a liberação para entrar. Seu José teve o turno alterado, ele é o porteiro que sempre está aqui quando venho, e por isso já me conhece. Por essa razão, tenho que esperar um pouco mais, pois é um outro moço que está hoje em seu lugar.
Quando Helô abre a porta já está usando seu biquíni azul. Eu também estou usando o meu maiô, mas com uma camiseta por cima e o short, enquanto nas costas trouxe uma mochila com toalha e um vestido fresquinho.
Ao me ver a garota com cabelos castanho claro sorri e me abraça. Sentamos no sofá à espera dos garotos.
—Bia, tá tudo bem? —Seu tom de voz é de desconfiança, como se tivesse reparado na minha cara borococho, mesmo que eu tivesse dado o meu melhor ao sorrir de volta quando a vi.
—Sim, porque amiga?
—Você não parece muito legal. Aconteceu alguma coisa?
—É que...—Pondero por alguns segundos e encaro meus próprios pés. Nossa! preciso pintar as unhas urgentemente. —Lembra daquele cara gato da minha sala? O Fernando.
—O loiro? —Helô pergunta meio confusa.
—Esse mesmo. Eu o adicionei no Facebook a um tempo atrás, quando fizemos um trabalho de Marketing juntos, e hoje ele compartilhou uma piada super machista e gordofóbica. Fiquei cismada e puxei do fundo do baú várias publicações dele nesse tipo. O cara não gosta de pessoas gordas! -Tudo bem, acho que me alterei um pouco durante a explicação.
Minha amiga fica com a boca aberta em surpresa.
—Que idiota! Bia se você prestar papel de trouxa e ficar triste por esse cara, eu vou tacar o chinelo na tua cabeça.
—Helô não é tão simples, desde quando entrei na faculdade e o vi fiquei tipo: UAU. Que homem bonito.
—E daí? É preconceituoso. -Ela responde ríspida refrescando minha memória, que por sinal já está muito fresca.
—O problema não é ele não se sentir atraído por alguém acima do peso, gorda ou com curvas. Cada um tem sua opinião e gosto. O problema é ele fazer dessas pessoas motivo de humilhação e piada. Entende? -Encaro minha amiga com indignação e sei que ela também está sentindo o mesmo.
—E você está certa. Quando você mandou aquela foto dele, eu já não tinha achado grandes coisas.
—Eu o acho um gato, mas agora? Só por fora, porque por dentro não tem nada de bonito. Sabe, minha mãe sempre contou uma lição de moral sobre a maçã, linda por fora e podre por dentro. Pois é, Fernando é a maçã podre. -Dei risada da situação mesmo sendo algo meio chato de se passar.
—E você querendo me enrolar, eu sabia que havia acontecido alguma coisa Bianca, são mais de cinco anos de amizade. Te conheço mulher!
Ambas começamos a rir quando no mesmo momento o interfone tocou. Encarei Heloísa antes que ela fosse atender.
—Amiga, não conta para os meninos, tá? -Fiz cara de cachorrinho pidão. A questão é que mesmo sendo nossos amigos, eu não compartilho muito sobre a minha vida amorosa com eles.
Heloísa assente com o olhar.
Primeiro capítulo de um conto de leitura rápida, se puder votar e comentar a sua opinião eu ficarei muito feliz de responder cada um <3
Essa história foi escrita para o concurso de contos sobre amizade para o
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Férias e conselhos
Short StoryLevar um fora deveria ser algo com bem menos drama, ainda mais quando se é uma adulta e não uma adolescente como alguns anos atrás. Mas o que fazer quando isso abala principalmente seu amor próprio? É verão, a cidade está agitada com turistas curti...