Cap.1- Quando eu salvei você,

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Eu nunca fui o tipo de pessoa que se destaca,nunca tive muitos amigos,nunca me apaixonei e nunca fiz nada que marcasse pelo menos um pouco minha vida.

As vezes não sabia dizer se estava vivendo,ou apenas fingindo viver.

A única coisa realmente me fazia sentir amor por algo eram os animais,desde pequeno sempre resgatava todo o tipo de animal que precisasse de ajuda,claro que minha mãe ficava louca com isso.

Principalmente quando cheguei com um filhote de gambá abandonado em casa,ou quando cuidei de uma barata achando que era um grilo,mas ela nunca me impediu de cuidar deles,esperava eles estarem bem para soltarmos no meio do mato ou acharmos alguém para adotar.

Minha mãe era uma ótima pessoa,sentia falta dela. Após a morte dela tudo o que me sobrou foi meus três cachorros,meu coelho,meu papagaio e meu furão. Havia resgatado todos,e atualmente curso o segundo ano da faculdade de medicina veterinária.

Cuidar de animais sempre me fez sentir completo e feliz.

E tinha o Johnny,meu vizinho de porta e meu melhor amigo.

Era um dia chuvoso,o tipo de chuva que faz todos os estabelecimentos fecharem e o vento ser ouvido lá fora com força.

Johnny e eu tentávamos cozinhar algo comestível antes de assistirmos Kill Bill pela milésima vez.

-Tem certeza que isso está certo,Mark?-Johnny disse se aproximando e me observando mexer o frango.

-Tem jeito errado de mexer um frango?

-Tem,o seu-Disse me empurrando para o lado e tomando meu lugar-Você é péssimo nisso.

-Não deve ser tão difícil assim fazer nachos-Eu disse em quanto abria o pacote de tortilhas de milho e colocava dentro de uma tigela-Agora vem o queijo neh?

Johnny se virou me encarando sério por um momento.

-Consegue colocar o queijo,Mark?-Disse entregando o pacote de cheddar para mim.

-Eu salvo vidas, é óbvio que consigo colocar queijo em cima de uns doritos!

-Oookay-Disse se concentrando no frango.

Um raio enorme foi puxado pelo para-raios do nosso prédio,dei um pulo maior que meu o furão Bruce,senti o pequeno escalar meu corpo e se esconder dentro do meu moletom.

A força havia caído.Liguei a lanterna do celular e percebi que o cheddar havia sido lançado da minha mão e estava colado na testa de Johnny,ele me encarava.

-Isso é sério,Mark? Cara...-Tirou o cheddar da testa e o comeu.

-Deve ser porque você é alto-Tentei justificar a lógica do cheddar ter ido parar na cara dele.

-Vai ligar o gerador-Pediu.

Sai do meu minúsculo apartamento com a lanterna em mãos e desci até a recepção,como sempre o síndico nem estava ali.

Fui ao porão e liguei rapidamente na casa de máquinas,era escuro,úmido e fedia a mofo,sai de lá o mais rápido possível.

Na volta parei perto da porta e observei a chuva,estava mesmo muito forte,as aulas da faculdade haviam sido canceladas.

Bruce se remexeu dentro do meu bolso,colocou a cabeça para fora observando junto comigo.

E fiquei ali olhando a chuva uns instantes, até que...ouvi um miado desesperado.

Achei ter sido coisa da minha cabeça mas Bruce se remexeu inquieto quando o som se repetiu.

Meu raciocínio era muito rápido nessas horas,subi as escadas correndo,abri a porta e gritei:

-Johnny,pega!-Joguei o pequeno Bruce Lee em seus braços e desci novamente.

Corri até o lado de fora sentindo a chuva gelada me molhar imediatamente.

Tentei me concentrar da onde o miado vinha e percebi que havia um bueiro a dois metros de mim.

Me agachei e olhei com a lanterna,consegui ver um gato tentando desesperadamente não ser levado pela água.

Tirei a grade e joguei meu corpo para baixo na esperança de alcança-lo.Mas meus braços eram muito curtos,me estiquei mais e consegui.

O puxei para cima e tentei protegê-lo da chuva com o corpo em quanto voltava para dentro.

Estava ensopado e imundo.

Coloquei o gatinho no chão e o examinei rapidamente,ele parecia bem,mas tinha quebrado uma patinha.

Subi com o gatinho laranja em meus braços.

Johnny não se surpreendeu muito,já estava acostumado com as aleatórias vezes que eu trazia mais um animal para casa.

Ele me ajudou a dar um banho quente no gato,e reparei que usava uma coleira com um nome.

"Yuta"

-Seu nome é Yuta?-Perguntei enxugando devagar com o secador,Yuta apenas piscou silenciosamente.

Eu nunca gostei muito de gatos,sempre cuidei deles e no geral dava muito amor,mas não era um dos meus animais favoritos.

Mas em quanto cuidava de Yuta,dando uma injeção para dor,colocando sua pata no lugar,o enfaixando,senti que realmente gostava dele,mais do que a maioria dos animais.

Não sei explicar,mas ele não tentou fugir,mesmo com procedimentos totalmente incômodos feitos improvisados no meu banheiro,ele apenas...aceitou minha ajuda.

Tinha algo no olhar da quele gato que mexeu muito comigo,senti como se ele me entendesse,era um olhar quase humano.

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