PRÓLOGO
“Morte.
Para muitos, essa palavra é um plano remoto e distante incapaz de tocá-las. No mundo em que eu vivo, tive de aprender a me adaptar e a senti-la. É claro que não pensava nela como possível. Mas porque duvido de algo tão forte e presente? Ela ronda o ar que se respira, o chão onde se pisa e até os livros que se lê. A morte rasteja nos muros e sussurra maldições e artimanhas fantásticas para persuadir e iludir a quem queira. Vem destruindo e quebrando, moldando as vidas que correm através de si. Senti sua companhia por dias a fio, querendo ser levada por ela, às vezes. É um refúgio seguro e estável, distante do sofrimento e da dor, livre de qualquer preocupação. Ela mata rostos felizes, sufoca risos, destrói famílias e amores não consumados, sem se importar com o que ou quem interrompe.
A morte é cruel e bondosa e ainda assim é solitária; está na companhia de todos em qualquer lugar que seja, mas jamais convive com alguém. Sente, ouve e vê tudo acontecer, mas não pode interferir.
E quando achei que podia contra ela e de maneira alguma ela me feriria, percebi que havia me enganado. A morte esmaga com mãos de titânio, triturando qualquer sinal vital. E por mais doloroso que pudesse ser, dever-se-ia sempre em frente. Porque ao mesmo tempo em que a morte age, tempo e destino também se movem. Nenhum para, nem pausa. Todos se movem agilmente, matando e morrendo, torturando cada criatura a quem conhecem.
As pessoas sorriem e são simpáticas, contorcem as cenas e recontam à sua maneira, numa visão menos pavorosa. No fundo, ninguém quer a morte. Ninguém está preparado para ela. Nem mesmo eu. Não quero lidar com perdas e lágrimas e nem me confrontar com o que vem depois. A dor psicológica é tão forte quanto à física, o silêncio toma conta do mundo, as bocas cessam e de repente, você está só. Inesperadamente, todas as coisas perdem o sentido conhecido e desaparecem.
Então você entende. O destino planeja, o tempo devora e a morte destrói. Tudo faz parte de um plano maior? Duvido. Mas seja como for, não é prazeroso saber. Você fica suspenso num fio bambo e fino, incapaz de se mover porque pode cair e mesmo assim, joga no tudo-ou-nada. E a morte observa serena, esperando as horas sobre si esgotarem. Mas tem uma hora que ela vem. Chega em sua majestade e o que sobra não passa de migalhas e cinzas.”
VOCÊ ESTÁ LENDO
"Uma Nova Chance" Parte I
RomanceA obra é registrada no EDA (Escritório de Direitos Autorais), Biblioteca Nacional, portanto nenhuma reprodução é permitida sem a devida autoria. Mais informações no link: http://hillarylancaster.wordpress.com.br/ Página Oficial do Livro: https://www...