Capítulo 11

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Era impressionante o tamanho da propriedade dos Portilla, rodeados de verde e flores das mais diferentes espécies, eles cavalgaram por cerca de uma hora e vez ou outra Anahí apontava para algum ponto específico enquanto contava mais uma das inúmeras histórias vividas ali em sua adolescência. Depois de amarrarem Chester em uma árvore os dois se acomodaram lado a lado na beira de um pequeno lago desfrutando da sombra e de um biscoito que haviam colocado na mochila de Alfonso.


Anahí: Nossa, eu estava faminta. – Constatou levando mais um biscoito a boca.

Alfonso: Saímos sem comer nada.

Anahí: Verdade. - Concordou, só haviam tomado uma xícara de café na tentativa de ficarem despertos.

Alfonso: Isso aqui é muito grande, - Disse enquanto olhava a sua volta - não imaginava que todo esse terreno pertencia a fazenda.

Anahí: Luxos do meu avô. - Explicou - Minha avó achava um exagero, mas ele sempre foi muito apegado aos bichos e a natureza, dizia que quando se aposentasse ia viver aqui, pena que não pode aproveitar tanto.

Alfonso: Eles morreram faz muito tempo?

Anahí: Cinco anos, brigavam que nem cão e gato, mas bastou ele falecer após um infarto que nos pegou totalmente desprevenidos que vovó foi logo depois. Minha tia gosta de dizer que ela morreu de amor.

Alfonso: É uma visão bonita.

Anahí sorriu: É sim, um tanto melancólica, mas bonita.

Alfonso: Deve ter sido bom crescer aqui.

Anahí: Foi ótimo! Minha mãe não gostava muito, puxou a minha avó, reclamava dos insetos, do mugido das vacas, do galo que sempre a acordava pela manhã... - Enumerou com uma careta o fazendo rir - Mas sempre acabava vindo, então eu, Dulce e Pedro nos emaranhávamos no meio do mato e só voltávamos no final da tarde.

Alfonso pode notar o saudosismo em sua voz: Vocês sempre foram próximos?

Anahí virou para ele: Eu e meus primos? - Alfonso afirmou - Muito, eles eram os irmãos que não tive. Dulce era minha confidente e Pedro agia como o típico irmão mais velho e protetor.


Alfonso ficou em silêncio, queria entender onde toda aquela cumplicidade que Anahí parecia ter partilhado com a prima havia se transformado no relacionamento que elas tinham hoje, mas mesmo com toda curiosidade, não se sentia confortável para perguntar. Ele comia o último biscoito do pacote enquanto observavam a paisagem e aproveitavam o clima fresco proporcionado pela sombra das árvores quando a ouviu lhe chamar.


Alfonso: Oi.

Anahí: Me desculpe por ontem. - Pediu sem jeito - Christopher encheu a minha cabeça e eu acabei entrando na dele. Sei que passei dos limites.

Alfonso: Tudo bem, eu também peço desculpas, acabei perdendo a paciência e me exaltando.

Anahí sorriu lhe estendendo a mão: Amigos?

Alfonso: Amigos. - Respondeu rindo e apertando a mão dela - Sabe, já que somos amigos, preciso confessar uma coisa.

Anahí: Que coisa? - Perguntou confusa.

Alfonso: Não foi de todo mal a ladainha do seu ex, ganhei um beijo não foi? - Disse em tom de malícia - E que beijo Anahí, você queria mesmo mostrar que nós éramos o casal mais apaixonado da festa!

Anahí arregalou os olhos: Alfonso!

Alfonso riu: Que?

Anahí: Para o seu próprio bem vou fingir que não escutei o que você disse.

Alfonso: Só falei a verdade. – Deu de ombros – Aliás, você deveria se sentir lisonjeada com tamanho elogio.

Anahí desistiu de discutir mudando de assunto o que fez Alfonso rir mais ainda: E então, o que acha da vista?

Alfonso: É linda. - Respondeu tirando uma câmera de dentro da mochila – Sabe, se eu não fosse professor gostaria de trabalhar com fotografia.

Anahí: Aquelas fotos na sua casa.

Alfonso: Minhas. – Assentiu.

Anahí: E por que todas em preto e branco? - Indagou curiosa enquanto o observava bater algumas fotos.

Alfonso: Queria dizer algo bonito, mas é só uma preferência, as acho artisticamente mais interessantes.

Anahí: Não entendo nada sobre isso, mas na minha opinião as coloridas são mais bonitas. Essa paisagem por exemplo, tem incontáveis tons de verde e tudo isso se perde quando a foto não tem cor.

Alfonso: Muita gente pensa assim, mas depende do que você quer expressar. – Respondeu simplesmente desligando a câmera.

Anahí: Quer ir até o riacho? Acredito que daria boas fotos.


Alfonso concordou com um aceno e após desamarrarem Chester, os dois foram caminhando até próximo ao riacho que não ficava muito longe dali, ao chegarem se sentaram novamente na grama e Anahí na mesma hora pegou algumas pedras as fazendo quicar na superfície da água.


Alfonso: Como você faz isso? - Perguntou curioso - Nunca consegui.

Anahí: São anos de prática! Depois se quiser eu te ensino. - Respondeu com um sorriso convencido - É uma pena que hoje esteja frio, já tomei muito banho aqui.

Alfonso: Não consigo imaginar o quanto essa água deve estar gelada.

Anahí riu: Eu poderia ficar assim o dia inteiro. - Confessou deitando o corpo na grama de barriga para cima.

Alfonso sorriu: Nós podemos, pelo menos hoje.

Anahí: Nunca pensei que diria isso, mas infelizmente você está errado. – Disse com uma careta fazendo Alfonso rir. – Não dou muito tempo até que todos estejam a nossa procura.

Alfonso: Bom, nós somos namorados, não somos? É isso que casais fazem, passeiam e somem juntos.

Anahí fechou os olhos, os braços cruzados servindo de apoio para a cabeça: Não desde o dia em que Dulce desapareceu por horas, torceu o pé e nós a encontramos praticamente desmaiada por conta do calor. Depois daquilo Pedro se tornou um pouco neurótico.

Alfonso: Não é de se espantar.

Anahí: Só mais cinco minutos e nós vamos, ok? - Perguntou virando o rosto para ele que bateu uma foto dela de surpresa. - Alfonso, apaga isso. - Reclamou.

Alfonso deu de ombros: Não dá, é analógica.

Anahí: Em que século você vive?

Alfonso: No século em que a primeira foto é a que vale e ficar deletando as que você saiu de olho fechado ou cabelo em pé não tem graça. Tira toda a espontaneidade. – Explicou como se fosse óbvio – Além do mais, essa câmera foi um presente dos meus pais quando eu passei no vestibular, ela possui um certo valor sentimental.

Anahí se deu por vencida: Tudo bem, mas depois quero ver essa foto.

Alfonso se deitou ao lado dela e os dois direcionaram a atenção para o céu: Para isso nós vamos ter que nos ver de novo depois do feriado.

Anahí: A gente combina.- Respondeu sorrindo – Agora vamos, anda. – Chamou se levantando e o puxandopara que também ficasse de pé.

Colorido em Preto e BrancoOnde histórias criam vida. Descubra agora