Eu sinto sua falta. Todos os dias desde que o deixei, eu sinto. A falta dele veio subitamente, mesmo que não me surpreendesse nem um pouco.
Naquele fim de tarde chuvoso que o deixei na floricultura, subi em minha moto ainda sentindo o calor de Jungkook em todo o meu corpo, seu gosto de verão parecia marcado eternamente em minha boca e eu acreditei que isso seria bom, que seu toque estaria para sempre gravado em mim, e dessa forma eu sempre o teria comigo.
E sim, a sensação de seus dedos em minha pele e sua boca contra minha ficaram gravados em mim, tornaram-se a minha ruína.
Nosso único beijo, a única vez que segurei seu rosto e sua cintura com o apreço e o afinco que sempre desejei, a única vez que senti os dedos dele puxando meu cabelo, a única vez naquela primavera em que me senti verdadeiramente, completo.
Primavera... Jungkook parecia ser um pouco obcecado com essa palavra, era o que eu pensava na época. Ele sempre escreveu poemas, e eu era o único que os lia. Quando ele começou a escrever os mais belos versos sobre a estação das flores, eu reconheci nas palavras não somente o apreço pela época do ano, mas também o sentimento avassalador de Jungkook por uma pessoa-primavera, alguém que, segundos seus parágrafos melodiosos, carregava todas as estações em sua aura primaveril.
E quando em uma tarde no parque, deitados sob uma enorme cerejeira, ele olhou fundo em meus olhos e disse que eu era o perfeito retrato de um dia de primavera, eu soube. Eu soube que seus versos apaixonados eram dedicados a ninguém menos do que à mim.
Aquilo parecia absurdo. A forma como Jungkook me via era tão bela, tão simples e tão reconfortante. Eu queria poder ser para ele o homem que carregava estações consigo, queria poder dar-lhe as flores da primavera, a neve do inverno, o sol do verão e a brisa do outono. Mas a verdade era que, Min Yoongi nunca carregou outra coisa a não ser o mais impiedoso e solitário inverno.
Eu vivi por minha mãe sua vida toda, e falhei nisso, quando seu quadro se agravou ocasionando um coma. Eu falhei como filho, e por isso minha mãe passava os dias inconsciente em um leito de hospital. Eu não merecia que a luz do sol penetrasse minha pele e me desse energia ou vitamina, eu não merecia estar recebendo vida, enquanto minha mãe pouco a pouco perdia a sua.
Eu queria de alguma forma, dar-lhe um pouco dessa vida de volta. Então, resolvi comprar flores na floricultura da senhora Kim. Eu jamais iria imaginar, que ao tentar trazer a vida de uma flor ao quarto de hospital de minha mãe, eu conheceria alguém que com um simples sorriso enchia meu corpo fraco de vitalidade.
Porque, sim, eu carregava um rigoroso inverno no peito. Em volta de meu coração, haviam imensas paredes de gelo.
Mas Jeon Jungkook era o verão. E como a neve sob o sol quente, eu me deixei derreter.
Como o sol nascendo através de uma janela de um quarto escuro, eu deixei que a luz de Jungkook preenchesse cada espaço sombrio de mim, permiti que me aquecesse com sua voz doce, com seus toques sutis e olhares que transbordavam a alma. Eu me concedi o desejo de sentir o amor de Jungkook.
Mas eu não era corajoso o suficiente para amá-lo. E eu entendi isso na primeira manhã chuvosa de abril, quando minha mãe faleceu.
Depois de chegar no hospital e ver seu corpo sem vida, depois de sentir meu coração secar, ruir e quebrar com a constatação de que eu nunca mais a veria novamente, nunca mais ouviria sua voz, nunca mais tocaria piano ao seu lado ou simplesmente estaria ao lado dela como jurei estar, depois disso tudo, havia um nome piscando em minha mente, a fuga que eu precisava para desviar daqueles pensamentos que me deixavam sem ar: Jungkook. Eu precisava ver Jungkook.
Precisava do calor de seus braços, precisava daquele que me faria ficar bem.
Mas... Eu poderia pedir aquilo a Jungkook? Que direito eu tinha de aparecer diante si e expor o inverno sufocante que me tomava, esperando que ele me aquecesse como sempre fazia?
Ele faria sem pensar duas vezes, porque Jungkook me amava. E eu havia me convencido de que não poderia amá-lo.
Eu não era digno de Jungkook e sabia que uma hora ou outra ele perceberia isso e então, eu estaria sozinho, perderia tudo. Eu não poderia lidar com a perda dele também.
Aquele dia foi um enorme torpor. Desde que deixei o hospital, as coisas em minha cabeça não eram nada claras, muito menos em meu peito, que se contorcia entre a necessidade de ver Jungkook e aceitar que eu não era digno dele. Foi assim que acabei chegando na floricultura, encharcado pela chuva que havia lavado minhas próprias lágrimas. Jungkook não notou isso.
Quando ele me levou aos fundos e me buscou uma toalha, eu já havia decidido: partiria da vida de Jungkook antes que cedesse completamente e lhe entregasse meu coração. Era o melhor para os dois, eu teria menos perdas para lidar e ele poderia encontrar alguém que merecesse seu amor.
Então, por que eu o beijei? Por que dei a ele um gosto do que nunca mais poderia ter? Por que eu me senti tão fraco, tão entregue e tão... Quente?
Era mais do que o calor dos primeiros raios de sol da manhã, era como beijar a própria estrela.
Hoje eu sei a resposta. Eu temia entregar-lhe meu coração, quando na verdade, Jungkook já o tinha e o zelava como ninguém jamais fez.
Eu já o amava, mas era covarde demais para entender.
E agora que entendo, é tarde demais.
Ao menos, era isso que eu repetia para mim mesmo todos os dias ao me olhar no espelho: É tarde demais para você, Jungkook já deve ter seguido em frente.
Jungkook merece alguém melhor.
Eu sempre fui o maior inimigo de minha própria mente, e todos os dias ela me mandava esquecer Jungkook, esquecer o que vivemos e o que nasceu entre nós.
Mas amar não é sobre lembrar, é sobre sentir. Por mais que minha mente insistisse em me afastar dele, das memórias ensolaradas com seu sorriso único, meu coração ainda batia por ele. O garoto que se parecia com camélias vermelhas quando envergonhado, ainda acelerava minha pulsação.
Eu poderia continuar mentindo para mim mesmo, poderia continuar ouvindo minha mente tentando me sabotar, mas meu coração ainda pulsaria para Jeon Jungkook, o homem que tomou-me para si em uma primavera, dois anos atrás.
Foi quando entendi finalmente, depois de tantos meses tentando por minha mente e coração em sintonia, que estava na hora de voltar a Seul. Daegu me abrigou durante a passagem de verões, outono, inverno, e primaveras, e todo esse tempo longe daquele garoto, me fez ver cada estação passar por mim deixando uma ferida profunda, a qual eu sabia o que fazer para curar.
Deixei Daegu em uma tarde nublada de outono, o segundo outono que vivia sem ele.
Era minha última chance de reencontrar o meu sol, antes que o inverno chegasse.
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O Fim da Nossa Primavera [Yoonkook]
FanfictionTão suave quanto o vento, ele entrou e saiu da minha vida. Mas a coisa sobre a primavera, é que ela nunca parte sem deixar suas flores para trás. Eu me apaixonei por Min Yoongi, e quando ele foi embora, deixou para trás o gosto da liberdade salpican...