Capítulo 02 REVISADO

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- Mais sal no assado de pato! Eu quero mais açafrão neste molho! Mas que... porra! Onde vocês estão com a cabeça? - Mr. Spotinik, o doce e gentil senhor que conheci uma semana atrás, desapareceu e não tem previsão de retorno. Em seu lugar está um tirano cruel que poderia competir com o próprio Hitler.

Quando cheguei ao restaurante, meia hora antes do meu turno começar, diga-se de passagem, estava com um sorriso esperançoso na boca e com um milhão de borboletas no estômago. O Grease Stars é imponente e intimidante como o inferno com seu pé direito duplo, teto carregado de lustres de cristais, piso brilhante de mármore italiano e garçons em ternos mais caros que o meu carro.

Assim que bati na porta de serviço, que fica num beco mais isolado na lateral do edifício e dá acesso a cozinha, parecia que eu estava no meio do mais empolgante sonho de todos. Nicholas me recebeu com um sorriso atencioso e covinhas em suas bochechas gordinhas, me apresentou a cada membro da equipe, desde seu braço direito até o rapaz das louças, e me fez um tour com todos os ambientes de trabalho.

Enquanto a equipe se preparava para um turno difícil de sexta-feira, eram todos sorrisos e piadas. Nunca fui tão bem recebida em toda a minha vida. Mas tudo foi para o inferno quando o relógio marcou oito horas. Por ser sexta, o restaurante lotou rapidamente, além das diversas reservas em aguardo para o fim da noite. Nicholas deixou de ser o agradável e sorridente chefe para o tirano cruel que é seu álter ego Mr. Spotinik, que não aceita nada além da perfeição de todos nós, seus pequenos soldados.

Presenciei a cozinha se transformar em um campo de guerra, com pessoas correndo para lá e para cá. A estação dos fogões estava tão quente quando um campo minado. Os sorrisos gentis dos meus colegas de trabalho foram substituídos por carrancas de concentração e suor desenfreado.

E eu? Bem, fiquei um pouco perdida no meio disso tudo. Arriscaria até mesmo dizer que fui um pouco de peso morto, mesmo com Chef St. Claire, braço direito do Nicholas, me auxiliando. Quer dizer, apesar dos gritos descontrolados e das palavras irritadas, toda a equipe funcionou como uma máquina bem lubrificada. Um antecipando o movimento e a necessidade do outro. Fiquei relegada à trabalhos mundanos como cortar um pouco de legumes aqui, experimentar e ajustar um molho ali, e até mesmo tarar a bunda de alguns dos cozinheiros não muito gostosos do lugar. Apesar da simplicidade dos trabalhos, fiz tudo com um sorriso no rosto e um sentimento de satisfação total no peito.

Até que erro fatal aconteceu. Por volta das nove e meia um dos garçons retornou ao palanque de finalização com um dos pratos quase intacto. Um cliente devolveu, falando que o risoto estava salgado demais. Mr. Spotinik quase teve um ataque cardíaco quando pegou o prato e jogou com tudo dentro do latão de lixo no canto da cozinha. Depois disso, tudo o que pode se ouvir eram gritos indignados e palavrões.

Qualquer outra pessoa que presenciasse a cena poderia dizer trabalhar aqui era para loucos e suicidas, mas gosto de pensar que sou completamente sã e dona das minhas faculdades mentais. Isso é o que eu amo fazer, cozinhar, e bem, comer, também. Há uma razão para eu me matar na academia durante minhas manhãs: eu como feito uma porca de noite.

O relógio cuco na parede canta, alertando a todos que já são meia noite, o que significa que meu turno está quase no fim. Meus pés latejam e minhas costas estão molhadas de tanto suor. Suspiro, e começo a organizar minha estação de trabalho. Não fiz muito, mas tenho um sentimento maravilhoso de dever cumprido.

- Stewart, como foi seu primeiro dia na cozinha do inferno? – Clara, uma mulher de quarenta e três anos e dona das mãos mais doces que já conheci até hoje, pergunta.

- Foi tudo o que eu esperava e mais. – Respondo, sorrindo, e olhando para seus olhos negros.

Ainda nesta tarde Clara me perguntou minha afinidade na cozinha, que acabou de ser a mesma que a dela: doces, e me puxou para debaixo de sua asa, me mostrando o pré-preparo da maioria das sobremesas do menu do restaurante. Apesar da idade, a mulher alta de pele chocolate se movia com a graça de um gato, enquanto trilhava seu caminho na cozinha e me contava histórias sobre sua vida, os países em que visitou e os restaurantes que trabalhou.

Cozinhando para DoisOnde histórias criam vida. Descubra agora