Capítulo 1

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Ainda estava sob os efeitos de remédios, meio sonolento, inseguro, abriu os olhos, mas nada aconteceu, continuava na escuridão, nada tinha sido um sonho, tudo era real, a súbita vontade de chorar como uma criança lhe assolou, apertou a coberta que estava em si, e virou sua cabeça para o travesseiro, como se isso fosse impedir seus gemidos, era uma tentativa falha, logo estava se engasgando com suas próprias lágrimas.

Fechou os olhos, e riu de si mesmo, percebendo que não faria muita diferença, ele detestava ficar sozinho, detestava o escuro, era quando as lembranças vinham para lhe atormentar... Como um bichinho amedrontado ele se encolheu praticamente escondido sobre as cobertas.

O remédio voltara a fazer efeito, a contragosto ele começava a dormir, seus olhos se fecharam com o reflexo, sonhou com a tão temida noite e como se por milagre voltasse a enxergar ele viu tudo de novo.

''_Mano, vai devagar o recital é só as dez ainda são oito e meia – o rapaz ruivo falava entrando entre o banco do motorista e do carona no qual estava a irmã mais velha, logo sentiu-se ser colocado para traz pelos braços protetores e implicantes da irmã.

_Ai... Tema Oneechan, eu sou a estrela da noite não posso me machucar – ele ria dando língua para ela, era sua noite de estreia com o novo recital, era o filho mais novo o único que herdou o talento de sua mãe para arte, não tinha nenhum talento para os negócios deixava isso aos cuidados dos seus irmãos.

_Porque você não foi no carro do Shikamaru, Temari? – Kankuro falava com a irmã em um tom divertido fazendo-a tirar os olhos do celular.

_É obvio que eu queria estar junto com vocês, e curtir esse momento especial – ela apertava a cabeça de Gaara.

_Crianças dá para pararem de implicar uns com os outros como se tivessem cinco anos – o mais velho falava segurando o riso, quando ia passar a marcha um caminhão desgovernado veio na contramão, viu o clarão, ouviu os gritos, as mãos no volante se soltavam, sua irmã dizendo que o amava, era tudo que se lembrava daquele dia que era para ser de felicidades, acordou na escuridão gritando, esperneando, querendo levantar daquele pesadelo, teve seus pulsos amarrados, ouvia a correria em volta de si, mas não os via, um choro acometeu sua garganta causando enormes soluços, ele pediu pela mãe e até pelo pai, pela irmã e pelo irmão, ninguém respondeu estavam todos no silêncio parecia que todos o olhavam, repentinamente sentiu as mãos em seus cabelos e logo uma pontada em seu braço, tinham lhe dado um calmante, dormiu... Quando acordou a dor permaneceu ali no mesmo lugar, estava sozinho para sempre abandonado na escuridão. ''

_Gaara... - ele sentiu a mão forte em seus ombros, o aperto o fez despertar ainda trêmulo e febril ele se ergueu um pouco na cama, se perguntando onde estava. Não tinha sido um sonho o percebeu, as mãos rapidamente o deitaram de novo, ele reconhecia aquela voz era Shikamaru, colega de trabalho e noivo de sua irmã.

_Esta na minha casa Gaara. - a vontade de chorar tinha voltado não se lembrava de como tinha se tornado assim tão vulnerável, a casa era de sua irmã também, eles iriam construir uma família, Temari iria se casar com Shikamaru, ele ainda sentia o cheiro dela nos lençóis.

_Porque eu estou na sua casa? - ele perguntava com a voz rouca pelo sono, a vontade de chorar transparecia em sua frase, era a primeira vez que acordava sem os efeitos dos remédios depois de tudo que aconteceu, ainda lembrava-se da correria em volta de si no hospital, as vozes gritando para tentar salva-lo.

_Porque você não tem mais ninguém e está cego - na verdade ele tinha o pai, mas esse não simpatizava muito com o filho mais jovem, parecia aos olhos do pai que tudo o que aconteceu de ruim em sua vida tinha relação com Gaara, desde a morte de sua esposa no parto dele, até a morte de Kankuro, e o estado em coma de Temari, mas enfim a frase o fez se encolher, mais uma vez o pai havia se negado a ficar com ele, lembrou-se vagamente de quando descobriu que a irmã estava em coma e o irmão morto, as vozes continuavam em sua cabeça...

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