Capítulo 1

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Acordo com meu despertador tocando, reviro meus olhos, mais um dia pra enfrentar, me olho no espelho, meus olhos azuis estão quase vermelhos por eu ter estudado até a madrugada, minha face cabisbaixa de infelicidade... faz tempo. Faz muito tempo que eu não me sinto feliz e completa

Dezembro de 2008

Natal da Família Tucker

- Papai, papai - corro com meu vestido vermelho com bolinhas brancas e sapatilha da mesma cor - olha como eu estou linda, papai - sorrio rodopiando e sentando em seu colo

- É verdade, minha princesa, você está linda - ele sorri com o sorriso mais sincero que já vi

- E eu papai, e eu? - Eva, minha irmã gêmea, também saí do quarto em que nossa mãe estava nos arrumando e vem correndo para o colo no qual já estou sentada

- Você também está radiante, minha princesa - meu pai pega ela no colo e divide o espaço entre nós, sorrindo como se aquele fosse o momento mais feliz das nossas vidas

Sinceramente, eu acho que foi o momento mais feliz que tive, mesmo só tendo 10 anos naquela época, depois disso, as coisas só pioraram...

(...)

Junho de 2009

Estou sentada no colo da minha mãe, ela penteia meu fios loiros e manda eu vestir o vestido preto que separou, faz o mesmo com a minha irmã

Olho para ela e sei que está tentando ser forte por nós, afinal, agora somos só nós três

- Mãe, a senhora acredita em ressurreição? - Eva pergunta curiosa

- Não, filha - minha mãe responde com dor

- Eu vou estudar muito pra poder ser uma médica boa, mamãe, pra salvar a vida das pessoas - digo

Ela olho pra mim, acaricia meu cabelo e diz:

- Vamos, está na hora de dar adeus pro seu pai

Damos as mãos para ela e saímos andando. Naquele dia fazia Sol, mas mesmo assim minha mãe se revestiu totalmente de preto, um vestido que ia até seu joelho, com um scarpin de salto fino e óculos de Sol para ninguém notar suas orelhas, ela parecia tão elegante, tão forte, mas não dá pra aguentar tanta pressao retraida por tanto tempo.

Atualmente

- Oi mãe - atendo o telefone que não parava de tocar

- Elisabeth - ela fala meu nome com uma voz trêmula

- Mãe? Aconteceu algo? - minha voz oscila entre preocupação e insegurança, já que a minha mãe ama fazer um drama de "você não me ama", como se ela tivesse me dado atenção alguma vez na vida

- A sua irmã... a sua irmã - ela continua a chorar desesperadamente enquanto meu coração dispara mais rápido -

- Mãe, fala logo - aumento meu tom de voz já nervosa com preocupação de algo sério ter acontecido

- Ela morreu, Elisabeth, a sua irmã morreu

Minha boca se abre, em um segundo, meus olhos já estão encharcados e meus gritos de dor são tão altos que qualquer um nesses quarteirão pode ouvir, mas eu não me importo, é a minha irmã, mais do que isso, minha irmã gêmea, a única pessoa que me via como eu era, a pessoa que eu mais amava nesse mundo.

Começo a ficar sufocada e a hiperventilar na tentativa desesperada de respirar, nada mais passa pela minha traquéia, já não sinto forças nas minhas pernas, caio no chão com a sensação de que minha existência já não faz sentido. Desligo.

(...)

- Beth - ouço vozes distantes chamando pelo meu nome - Beth, você precisa acordar

Sinto uma força puxar meu corpo, mas ainda não consigo me mexer, só tenho forças pra abrir meus olhos e ir de encontro com os olhos castanhos e puxados do Zach, meu namorado, eu gostaria muito de falar com ele, mas não sinto forças pra isso

Foco meu olhor triste nele, ele entende, me cobre na cama e vai embora.

(...)

É assim que eu tenho passado meus 5 últimos dias, lidando com o luto da pior forma - e a única - que eu sei lidar com as coisas, me isolando e deixando uma guerra interna acontecer na minha mente. Bom, não existe nenhum tutorial de "como lidar com a irmã morta", então estou fazendo o que posso

Zach vem aqui todo dia pra verificar se eu estou viva e deixar comida, que eu mal toco, não trocamos muitas palavras, só falei pra ele avisar pra todos que eu estava bem mas queria espaço, inclusive dele

Ele não é muito de falar, então não tivemos problemas com isso, na verdade, somos dois tapados, então ter um diálogo longo é algo que não acontece com muita frequência no nosso relacionamento

Eu queria falar pra alguém como me sinto, como minhas forças foram arrancadas de dentro de mim, sinto apenas metade da minha vida. Eva não era somente uma irmã, ela era minha gêmea e, quase idêntica. Nós dividiamos tudo, ela era a única pessoa que eu conseguia conversar e me sentia real e verdadeira, com as outras pessoas eu só sou o que eles querem que eu seja, a namorada inteligente, a amiga gentil, agradar aos outros é uma necessidade.

Acho que nós duas entendíamos muito bem isso, assim, não precisávamos trocar uma palavra pra entender o que a outra queria dizer. Eva sabia mais do que ninguém como era sufocante, mas importante suprir as necessidades sociais, afinal, ela era modelo: "você precisa emagrecer mais", "sua cintura não está fina o suficiente", apenas engolindo tudo isso pra chegar no sucesso.

Nos últimos anos, tomamos caminhos diferentes, fomos afastadas pelas nossas escolhas, no entanto, isso não faz minha dor ser menor.

Sim, ao longo do tempo eu mudei, ela mudou, as pessoas mudam. Mas sabíamos que sempre tinhamos uma à outra, mesmo estando continentes de distância.

O estranho é que, mesmo sabendo que poderia contar comigo, nesses últimos meses ela estava mais distante, fechada pra mim, dizia que era o trabalho em Londres que estava muito puxado, mas eu via seus stories, festas, bebidas, parecia que algo estava errado, porém, se ela não queria falar o que passava, eu entendo, porque eu sempre sou assim.

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Oi gente, tudo bem? Livrinho novo pra vocês, espero que gostem e não se esqueçam de votar ❤

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