SPITE

Capitulo 2

Janeiro de 2010
Meses após o óbito de William Tucker

- Vamos, Eva, leveza, eu quero leveza - minha mãe gritava com a minha irmã

Já era 10:00 p.m e minha mãe continuava ensaiando os passos e poses de modelo com a minha gêmea

- EVA, EU JÁ ESTOU CANSADA, QUAL A DIFICULDADE DE ANDAR COM UM SALTO SEM PISAR NOS PRÓPRIOS PÉS? - mamãe gritou sem paciência

- Eu estou cansada - Eva diz abaixando a cabeça e com uma voz trêmula, querendo chorar, o que é óbvio, ela é só uma criança e nossa mãe fica horas treinando pros concursos de beleza

Sinceramente, Eva nem precisa se esforçar muito pra ganhar esses concursos, ela é simpática, elegante, extrovertida e bonita, o que eu acho curioso, porque mesmo sendo gêmeas idênticas, ela é mais bonita que eu, e mamãe deixou isso claro ao escolhe-la para desfilar nos concursos

- Elisabeth - minha mãe me chama, despertando meus devaneios - vá pra cama

- Mas eu queria ver o ensaio - digo tristonha

- Eu não vou repetir. Pra cama. Agora. - ela diz pausadamente tentando controlar os estresse

Lenço um olhar pra Eva interpetado como "sinto muito" e ela retribui com um leve sorriso, me viro e vou em direção ao quarto.

Tem sido difícil, desde que o papai morreu, mamãe ficou absurdamente controladora, claro que isso recaiu mais sobre Eva, a escolhida, do que sobre eu, a excluída. Cada um com seus traumas.

Atualmente
7 dias após o óbito de Eva Tucker

Toco a campainha e espero alguém atender, observo a porta branca com uma decoração feita à mão, mas não consigo focar muito pois logo a porta é aberta

- Elisabeth

- Mãe - sorrio tentando forcar simpatia

Como sempre, ela me analisa de cima para baixo. Cabelo solto, óculos de Sol pra esconder as olheiras, blusa rosé, calça clochard vermelha e sapatilha

- Você parece bem - elogia - para quem nem ao enterro da irmã foi - eeeee, jogou a bomba

Alguma hora eu sabia que ela ia começar a falar mal de mim ou dizer como posso melhorar ou, o óbvio, dizer que não fui ao funeral da Eva.

Em minha defesa, eu passei uma semana deitada na cama chorando e sofrendo, se isso não é dor, eu não sei o que é, acontece que, depois desse tempo, eu já estou forte o suficiente para superar esse trauma. Além disso, a última coisa que uma pessoa em luto precisa é que todos fiquem tentando falar com ela e dar os pêsames, eu não sou assim, não quero hipócritas que falaram mal da minha irmã ou de mim virem fingir amizade

- Você também não parece tão mal, mãe... pra quem gasta a maior parte do dinheiro em plásticas - retruco

Ela abre a boca para rebater, mas não sai nada

- O velório estava lindo, senhora Tucker - Zach intercede tentando apaziguar

- Oh, muito obrigada, Zach, que gentil, ter vindo foi muita consideração - diz olhando pra mim

- Mãe, nem tinha corpo, era um velório sem significado

- Como ousa dizer isso, Elisabeth?

- O governo britânico não enviou o corpo dele, mãe, quando chegar nós fazemos uma despedida.

- Você é muito fria mesmo, Elisabeth

- Não sou, mãe, a questão é que Eva estava trabalhando na Inglaterra e o governo não enviou o corpo dela, velar sem ele não faz sentido

- Pois você nunca vai velar então

- Como assim?

- Recebi hoje uma ligação dizendo que não vai enviar o corpo da sua irmã - ela se põe a chorar

- Como assim? - digo irritada

- Não sei, Elisabeth, não vão enviar

- Quem disse isso? Mãe???! O que é isso?

Puta que pariu

- Eu não sei, eu não sei, mas era alguém de algum órgão britânico, eu acho, não se identificaram muito bem e disseram que não vão se responsabilizar

- Eles não podem fazer isso - grito irritada - A gente não vai deixar que isso aconteça

(...)

- Beth, isso é muito imprudente, pensa com mais calma - Zach diz

- A minha vida toda eu fui metódica, Zachary, e ao que isso me levou? Não poder nem me despedir da porra do cadáver da minha irmã, eles não têm esse direito, quem eles pensam que são? Ela merece isso, Zach, descanso.

Me despeço do meu namorado com um beijo no rosto e saio apressada para embarcar em um voo com destino à Londres.

Tem alguma coisa nessa história que está muito errada.