Um jantar para Daisuke

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Haru estava concentrado com a faca em sua mão cortando os pepinos bem finos. Ele depois temperou e colocou a tigela na geladeira, enquanto refogava a cebola, o repolho e as especiarias que havia comprado naquela tarde. Fazia tudo com o olhar atento de Daisuke.

O pequeno apartamento do detetive era um conjugado alugado no centro da cidade. Não era grande, mas ele foi muito habilidoso em transformar o ambiente para que fosse confortável e bem organizado a medida do possível, e de suas economias. Haru Kato não achava que precisava de muito luxo, e por isso não se preocupava em não ter uma televisão de última geração, ou o celular recém lançado, nem um fogão novo. Ele se virava muito bem com aquele fogão elétrico de uma boca, os assados, tentava fazer no micro-ondas e até que ficava bom. A geladeira, que havia comprado em uma loja de usados, era antiga, mas funcionava perfeitamente bem.

A presença de Daisuke em seu apartamento era um pouco estranha. Quando Kambe o convidou para jantar, Haru negou. Primeiro, ele não queria que Daisuke gastasse dinheiro em restaurante fino com ele. Segundo, Haru não teria dinheiro de pagar sua parte na conta.

Por isso, decidiu que era melhor eles comprarem os ingredientes e cozinharem o jantar. Até mesmo Haru ficou surpreso com a sua atitude, mas gostou de ir até o supermercado com Daisuke, que parecia ter entrado em uma nave espacial de outro mundo, não sabendo exatamente para onde olhar, curioso com tudo.

— As pessoas compram mesmo peixe enlatado? — Ele perguntou, quando viu as prateleiras de sardinhas e atuns. Haru focou no que poderiam comer naquela noite e tentou evitar que Daisuke colocasse no carrinho coisas desnecessárias como sálvia do Himalaia.

Ao pagarem a conta, Daisuke já estava com seus óculos escuros no rosto, mas Haru o impediu. Ao menos aquela conta ele conseguia pagar, não ficou tão exorbitante o valor. Depois, guardou a nota fiscal e o troco no bolso e eles caminharam pela calçada até seu apartamento.

Entraram e subiram os degraus, até o andar onde Haru morava. No caminho encontraram algumas crianças brincando no corredor. Daisuke nada disse, e seguiu Haru em silêncio todo aquele tempo, carregando duas sacolas de compras.

Assim que Haru abriu a porta do apartamento, ele pediu para que o detetive se sentisse a vontade. Kato tirou o casaco bege e pendurou no cabideiro atrás da porta, e pegou as sacolas das mãos de Daisuke, sugerindo que ele tirasse também o paletó. Quando virou-se, viu Kambe analisando a porta e o cabideiro, sem saber exatamente como pendurá-lo, já que todos os ganchos estavam ocupados. Ele então dobrou o paletó e deixou em cima do sofá cama.

Depois disso, ofereceu ajuda, mas Haru não sabia se o colega de trabalho realmente sabia fazer algo na cozinha. Disse apenas que ele poderia relaxar e beber uma cerveja. Haru abriu a porta da pequena geladeira e pegou duas latinhas de cerveja e entregou uma para ele.

Os dois não tinham uma relação muito boa no trabalho, é verdade, mas a hora da comida era algo sagrado para Haru. Ele gostava de preparar suas refeições não apenas para economizar dinheiro, mas, também, porque se sentia realizado em prover a sua própria alimentação.

A panela elétrica estalou e ele apertou o botão para que mantivesse morno o arroz recém preparado. A mesa era dobrável, ele montou no meio do apartamento e puxou duas cadeiras também dobráveis, já que assim poderia economizar mais espaço.

Após a mesa pronta, a comida servida, eles se sentaram. Haru saboreou a cerveja com gosto e até soltou um barulhinho com a boca de forma prazerosa. Sentia-se grato por mais um dia de trabalho realizado, o gosto da comida e da bebida até ficava melhor naquelas ocasiões.

— Obrigado pela refeição. — Daisuke disse, unindo as mãos e fazendo um gesto respeitoso. Ele pegou os hashis e segurou a tigela com arroz para experimentar a comida. Haru cresceu os olhos para cima do detetive e, de forma inconsciente, ele crispou os lábios, ansioso para saber o que Kambe diria sobre sua comida. Assim que mastigou e engoliu o arroz, ele pegou a outra tigela com pepinos e fez o mesmo processo, em seguida com o repolho e com o peixe.

Um jantar para DaisukeOnde histórias criam vida. Descubra agora