Ouça / Califórnia - Phantom Planet enquanto lê :D
Duas horas sentada em um bar e duas horas que meus pés batiam freneticamente no chão, em um sinal óbvio de ansiedade e nervoso. Mas eu não conseguia evitar. Não com a Califórnia acontecendo na minha vida, como eu sempre sonhei.
- A intenção é furar o chão?! Pelo amor de Deus, Jade! Sossega esse pé – Tiago, meu amigo de infância chamou minha atenção tentando, sem sucesso, segurar minha perna.
Estávamos todos reunidos em um bar na Lapa, no centro do Rio de Janeiro, como sempre fazíamos aos finais de semana. Só que dessa vez, era uma resenha de despedida pra mim.
Ok, você não esta entendendo nada. Vou te explicar.
Desde os quinze anos, comecei a idealizar o tão estimado intercâmbio nos EUA.
Assim que o sonho foi plantado em meu coração, não esperei muito para plantar a ideia no coração dos meus pais também, afinal, eles eram a minha segurança financeira.
Eu não tive a ilusão que seria fácil. Nascida na zona norte do Rio de Janeiro, a caçula de três irmãos, minha mãe cuidadora de idosos e meu pai mecânico. Nossa renda familiar se resumia em pagar as contas e não deixar faltar o alimento. E mesmo assim, com toda a dificuldade, meus pais mergulharam de cabeça no meu sonho.
O primeiro passo que deram foi me matricular em um curso de inglês. Não era o melhor, mas era o que podiam pagar. E eu acreditava que eu poderia ser a melhor sem precisar estar no curso mais caro da cidade. E assim fiz. Tirava nota máxima sempre e enchia meus pais de orgulho.
A ideia era embarcar para os EUA aos dezoito anos. E eu economizava cada centavo pra que isso acontecesse. Revezava a minha vida entre os estudos, o inglês, fazer chocolates pra vender e conseguir mais dinheiro, e tentava ter o mínimo de vida social. Digamos que eu conseguia fazer tudo isso muito bem e ainda tinha tempo pra ser feliz.
Apesar de todos os esforços, nem sempre a vida segue o rumo conforme o planejado.
Eu sempre tive uma forte tendência à liberdade. E não me refiro à liberdade utópica. Era no sentido mais simples da palavra. Gostava de sentir adrenalina em suas mais variadas formas. Sempre que dava, eu fazia trilhas pelo Rio, das mais complexas. Se estivesse em cima de uma bicicleta, arriscava pedalar o mais rápido possível. Se estivesse em um lugar alto, me debruçava pra sentir o vento soprando no rosto e me imaginava em queda livre. Me sentia viva.
Hoje, essa tal liberdade me aprisiona. Não como aos dezesseis anos. Aprendi a lidar com as algemas da minha própria mente.
Quando conheci o Tarso achava ter encontrado minha alma gêmea. Aquele pensamento que passa pela mente de toda adolescente romântica, que se imagina com o bonitão tatuado, motoqueiro de espírito livre. E talvez ele realmente fosse a minha alma gêmea. Mas não tivemos tempo suficiente pra descobrir.
Namorado, ficante, rolo... O rótulo pouco importava. O status do Facebook nunca saiu de solteira para um relacionamento sério. Não tivemos tempo. E Deus é testemunha do quanto lamento pelo tempo que não vai voltar.
Nossa relação era intensa. Ele foi o meu primeiro. Eu com dezesseis e ele com dezenove. Tínhamos sintonia e tínhamos um ao outro.
Quando subia em sua XRE, agarrava em sua cintura e encostava meu rosto em suas costas, nada mais importava. Éramos Tarso e eu, e a nossa liberdade.
Ele me incentivava nos estudos e sabia dos meus planos de ir fazer intercâmbio. Mas teríamos dois anos ainda para curtir um ao outro. Tínhamos tempo.
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PS: Isso Não É Um Sequestro
RomanceSinopse: Jade caiu em uma cilada. Sem perceber, permitiu que um completo estranho à levasse até seu próprio cativeiro. "Mas ei, ele não parece em nada com um sequestrador. E esse cativeiro não é sujo e escuro como vemos nos filmes" Não se deixe enga...